Lodir 24/06/2011
Publicando sua obra em duas editoras ao mesmo tempo, o escritor brasileiro André Vianco tentou explicar a parceria entre elas. Enquanto a Novo Século trabalharia suas obras de tema sobrenatural (terror, vampiros, etc.), a Rocco lançaria outros gêneros, como suspense e policial. Sua estréia na segunda editora, então, levou os leitores a crer que conheceriam o primeiro livro sem vampiros, fantasmas ou algo parecido do autor. Mero engano.
O início da leitura de “O Caso Laura” apresenta um bom romance policial. Marcel, um detetive particular, é contratado por um anônimo para investigar Laura, uma mulher solitária e depressiva, que vem se encontrando freqüentemente em uma praça com um misterioso homem. Enquanto isso, uma segunda trama segue paralelamente. Alan, um agente da Polícia Civil, precisa investigar o assassinato de uma jovem por um perigoso traficante de drogas.
“O Caso Laura” se desenrola bem até então. É interessante a face “policial” do consagrado André Vianco. O livro tem um bom ritmo e consegue manter o suspense ao longo das páginas. A escrita de Vianco é leve. Sua narrativa flui bem e torna a leitura facilmente agradável. O leitor se apaixona pelos mistérios de Laura e quer conhecê-la. Quer saber que mulher é essa e quais os segredos que ela esconde e que a transformaram em um ser tão recluso.
Os problemas do livro começam quando Marcel, o detetive particular, se apaixona por Laura. O problema não é a paixão em si, mas a maneira como ela acontece. O personagem se apaixona rápido demais. Quando ele e Laura finalmente conversam e ela passa a conhecê-lo, a narrativa fica ainda mais fraca; Laura também se apaixona facilmente e em poucas páginas eles viram um casal perdidamente apaixonados que vivem juntos. Tudo muito rápido. Não há introdução, não há conflitos. Mas adiante, um personagem diz que isso aconteceu tão rápido porque eles estavam destinados a ficar juntos. Ainda assim, não é um argumento suficiente para convencer o leitor da fraca narrativa.
Os mistérios continuam e o livro permanece em ritmo policial. Marcel e Laura passam a investigar o homem que se encontrava com ela, e que sumiu dentro de uma casa. Alan enfrenta um grupo de criminosos com sua parceira Gabriela. É nesse momento que Vianco faz o que está acostumado a fazer, ainda que não seja algo esperado nesse livro: leva a trama a um patamar sobrenatural.
Após a segunda metade do livro, Vianco não escapa do seu próprio estilo. Ele não consegue terminar o livro criando apenas uma trama policial. Não, não há vampiros nesse livro, mas há personagens que vão explicar “magicamente” o mistério (não darei mais detalhes para não estragar a surpresa). Esse é o ponto mais decepcionante: enquanto o leitor esperava um final envolvendo uma grande descoberta a partir da investigação – ponto em que ele foi levado a acreditar – o leitor apenas recebe um desfecho sobrenatural. Infelizmente, o gênero policial não combina com o gênero fantasia, por isso não é comum encontrá-los juntos na mesma obra.
Outros problemas incomodam. Os personagens traçam diálogos dignos de auto-ajuda e que algumas vezes lembram Paulo Coelho. As conversas estão repletas de palavrões (um maneirismo da literatura nacional) e expressões coloquiais (tô, tou, cê, etc.). Alguns parágrafos são muito longos, ultrapassando uma página inteira, o que torna a leitura cansativa.
Em outras palavras, “O Caso Laura” não é uma boa opção aos fãs de suspense policial. Mesmo que esse não seja o seu caso, você ainda corre risco de se decepcionar com o fim do livro (assim como aconteceu comigo), mas também pode gostar da obra, se não se importar com isso. Se ignorar esse inconveniente, “O Caso Laura” torna-se um livro prazeroso, empolgante e de leitura agradável. No meu caso, apenas um dia foi necessário para terminá-lo.