Rodrigo1001 11/08/2019
Impactante e confessional (Sem Spoilers)
Uma das principais vozes da literatura brasileira contemporânea, Michel Laub é um escritor e jornalista gaúcho autor de oito livros publicados em treze países e dez idiomas. Leitura obrigatória do vestibular da UFRGS, Diário da Queda narra histórias de três gerações de uma mesma família - filho, pai e avô - que lidam de modos distintos com suas memórias, dilemas e conflitos.
Já nas primeiras páginas, o filho, que é o narrador principal, adianta para o leitor o tom em torno do qual o relato orbitará: um tom íntimo, confessional, particular. A memória é o que constrói a narrativa de "Diário da Queda" e a maneira como o enredo é construído coloca o leitor no papel de confidente. Você está lendo um diário, quase como um invasor, pois não há convite prévio.
Talvez seu ponto mais forte, os três personagens principais são muito bem construídos e terrivelmente críveis. Perpetuamente marcado pelo seu passado, os dramas do narrador principal transportam o leitor para as relações dessa família, em um compasso cadente e intempestivo.
O livro é muito bonito, apesar de toda a dor que carrega. A escrita de Michel Laub é contundente, com frases longas, sintaticamente trabalhadas, que adia por alguns momentos o clímax do enunciado, e a trama desemboca em um desfecho inesperado e trágico-barra-bonito.
Dito isso, esse não é um livro para todos. Como ele não entrega tudo de bandeja, cabe ao leitor interpretar algumas passagens para entender, de fato, o que se passa ali. Não é um livro Walita, que simplifica a vida. Mostra, pelo contrário, as entranhas de um relacionamento familiar conturbado, como muitos dos relacionamentos que vemos por aí. O autor se utiliza da repetição para realçar os sentimentos do narrador e deste para outros personagens. Há uma espiral de remorso, medo, arrependimento e desorientação que requer um certo olhar atento ao que não está escrito, ao que está nas entrelinhas.
Então, se você tem facilidade pra entender e gosta de livros que não entregam tudo de bandeja, esse livro vai te agradar. Se você se interessa por temas como judaísmo, alcoolismo, paternidade e relacionamento, também vai gostar.
Por fim, me pareceu claro o esforço do autor de não querer somente contar uma história de reavaliação da vida numa situação-limite, como se a perspectiva do fim de alguém próximo nos fizesse ver o quanto tudo o mais é desimportante. O livro vai além disso e me deu muito o que pensar.
Ironicamente, um dos pilares da narrativa é a relação do narrador com seu pai.
Hoje é dia dos pais.
Dia em que os tentáculos da saudade me agarram com potência máxima.
Os tentáculos desse livro, que me deu imenso prazer na leitura, ficarão comigo por um bom tempo também, até tirá-lo novamente da estante.
Pela lindeza de livro e sua profundidade, leva 5 de 5 estrelas.