Oliveira 23/06/2013
Blog | Literatura: Um Mundo Para Poucos
Falar deste livro tornou-se estranho e delicado para mim, pois minha opinião foi tão diferente das outras tidas pelas pessoas que me sinto deslocada. Minha tia avó Mari, uma grande incentivadora minha, não gostava de ler e achava um livro maior 200 páginas absurdamente grosso. Porém, ao ver que este livro falava sobre Deus e Diabo, pactos e culpa, logo se interessou por ele e o devorou em um mês (recorde, acreditem em mim). Desde então, exclusivamente graças a ele, tem lido livro atrás de livro, cada vez mais rápido e livros maiores (está lendo "Bridget Jones: No Limite da Razão", que tem 444!). Dessa forma, durante a leitura, fui sentindo-me desconfortável ao não "curtir" o livro.
A narrativa é perfeita, já digo, simples e direta, apesar de sofrer danos indiretos, tais como: peca no sentido de que durante os diálogos, dado personagem repete a mesma coisa de três ou mais maneiras e o outro ainda não compreende. Claro, isso talvez possa ser proposital, porém quando se entende de primeira, isso se torna plenamente irritante. O que puxa a linguagem adolescente incomum para uma mulher de 28 anos, idade de Tina. Outro ponto é a revisão do livro, que permitiu frases duplas, ainda marcadas com aspas (???), entretanto isso não convém no momento. Voltando a narrativa (me desviei demais -_-), apesar do que citei, faz a estória andar e não se demora em explicações (a não ser que a Valentina esteja falando com o "enviado", aí esqueça).
Ao se ler, é possível perceber que a autora teve uma base de pesquisa grande, pois inúmeros mitos, fatos e passagens bíblicas, antigos em sua maioria, são postos resumidamente no decorrer do livro. Em relação a elas, não é necessário pesquisa própria, as explicações que Eliane dá são de fácil compreensão.
Quanto ás palavras, o que mais encantou minha tia, não são difíceis. Usei o dicionário uma vez para um sentido que não se encaixava, apenas. A linguagem comum, sem enfeites e exageros (tão usados hoje em dia), proporcionam uma leitura leve.
Quanto á ideia da autora, ou seja a história. Cativou-me na sinopse, porém no começo do livro, praticamente até a metade, enrola-se, ou melhor não cria suspenses. Até que fatos inéditos começam (apenas começam, brechas foram deixadas á meu ver) a se desenvolver e a criatividade totalmente original da autora impõe-se como algo a não ser ignorado.
Porém, contrapondo essas ideias, temos a falta de romance e ação. As coisas andam, claro, mas apenas nas informações e explicações. Não há muitas ocorrências emocionantes, a situação toda, contrariando a premissa, gira em torno da culpa e dos sentimentos confusos de Tina (desenvolverei essa parte depois) e não bem da assinatura do pacto (falarei sobre os motivos que a levarão a reflexão do sim ou não aos meus olhos daqui a pouco), o que frustrou-me. E o romance, bem... O enviado a tenta no lado da atração física, porém senti falta de algo nele, não ouve carisma e por mais que haja justificativa para a falta, ainda não conformo-me.
Admito que as personagens são bem escritas e desenvolvidas, porém isso não impede de existir um furo na maneira com que a autora as usa e em sua condução da principal. A premissa de moça culpada e religiosa proposta pela autora, aos meus olhos pareceu de uma mulher narcisista e hipócrita (agia como adolescente, não desenvolvia suas ideias e vivia em seu mundinho, o pouco respeito que criei pela personagem veio do fato de que quando quer algo, ou necessita se informar, não deixa que o façam por ela, corre atrás). Em todas as suas maneiras de agir pude interpretar um duplo sentido, que se visto sem analise, realmente aparenta ser simples. Talvez venha de mim essa noção de procurar o pior de cada pessoa, porém Tina realmente não cativou-me em momento algum. Quando a maneira de usá-las, me refiro a dois fatos. O primeiro é de Tina ser rica, e não poupar palavras para descrever sua casa, fazenda e diversos carros. Menções e detalhes veem-se muito bem vindos aos meus olhos, porém a extensa descrição por meio de fatos pode ser cansativa, e comigo foi. O segundo é que todos os coadjuvantes, apesar de serem importantes e Eliane tê-los feito melhor do que ninguém, não fizeram-me sentir apelo para com eles.
Quanto ao jeito que me senti durante a leitura: os sentimentos propostos pela autora, na premissa e no decorrer da história são vagos, quando prometem ser profundos. E é aí que o livro me trouxe reflexão. Ao contrário do que esperava, não foi em sua frieza (Tina), ou na condição de Sara, ou na religião posta em pauta ou em qualquer outro lugar. Estranhamente, ao ler, eu me perguntava por que era tão fria e insensível e não conseguia de forma alguma procurar o melhor nos personagens, me por em seu lugar e afins. Tudo o que eu via era negativo, não enxergava um traço de boa ação neles, todos pareciam frios e postos ali apenas para ocupar espaço, o carinho que as falas demostram aparentavam ser tão falsos, ao ponto de me encontrar serrando os dentes. E aí entrei em divergência e negligenciei a leitura por um tempo. Estava ficando com questões demais e esse é o grande motivo dessa resenha ser difícil para mim. Vejo o potencial do livro, entretanto, acima disso, criei um bloqueio para aceitar a parte sentimental. Talvez eu esteja delirando, talvez não. Porém é exatamente desta forma que me senti.
Me despeço de vocês com a mão no coração e os ombros pesando. O livro me fez ter uma dura reflexão comigo mesma e admito a vocês que não gosto disso. Porque toda essa frieza? Porque a raiva nos momentos de "oh, meu papai querido!", "minha filha adorada" e "quanto orgulho"? Isso é pessoal. E mesmo que isso pareça desconfortável, me fez olhar o livro com novos olhos, porque apesar de o objetivo que vi não ter sido alcançado, o meio de reflexão que me proporcionou, um tanto filosófico, mesmo não sendo agradável, foi válido, considerando-se que não havia passado por essa sensação antes.