Paulo 28/04/2019
Este segundo volume retoma basicamente de onde o primeiro terminou. Temos o nosso grupo disfuncional precisando lidar com as consequências do que aconteceu após o confronto com Violino Branco. Esta não se lembra do que aconteceu durante o confronto e levar um tiro na cabeça. A maioria dos seus irmãos prefere ficar distante de Vanya e a única que parece se solidarizar com a situação dela é Alison. Mas, mesmo ela culpa Vanya por tudo o que aconteceu. Até vale destacar nas primeiras páginas do segundo volume ela coloca Violino para assistir uma série de reportagens por todas as mortes que ela causou o que deixa a personagem bem abalada.
É neste volume que ficamos sabendo mais ou menos o que Número 5 fez para conseguir voltar ao presente. Ele conhece uma agência que o coloca a par de seus próprios poderes e o emprega como um agente. O motivo de a agência o estar perseguindo (como vimos no primeiro volume) é que ele debandou após uma missão em que ele é enviado para assassinar John Kennedy. Após fugir e matar muitos dos que são enviados para capturá-lo, seus empregadores enviam os melhores caçadores da agência: Hazel e Cha-Cha. É aí que a missão se torna um absurdo após o outro. Os dois agentes são implacáveis e acabam colocando o personagem contra a parede.
Quem acaba entrando na linha de fogo da dupla de agentes é Klaus. Diante de tamanha falta de conexão entre seus irmãos, ele acaba tomando as coisas para si e age em prol da segurança de seus irmãos. Mesmo que para isto ele precise morrer. Seánce é responsável por algumas das maiores bizarrices deste segundo volume: desde usar roupas havaianas absurdas, passando por morrer, possuir pessoas e usar telecinésia para viajar no tempo. No fim das contas, Klaus é o mais razoável dos irmãos neste segundo volume. Ou seja, dá para perceber o quanto todos estão perdidos.
O ponto que mais me incomodou neste segundo volume é em o quanto o roteiro acabou se escorando na possibilidade de corrigir as insanidades usando viagem no tempo. Tem tantas inconsistências que eu não consigo nem citar por onde começar. Mas, apesar disso, o roteiro está um pouco melhor do que a insanidade do primeiro volume. Muito provavelmente isto se deu pelo fato de a narrativa se focar mais em Número 5 e suas experiências com a agência. Mas, todas as vezes em que o roteiro buscou extrapolar alguma coisa, ele se perdeu em uma confusão sem sentido que em nada contribuiu para a narrativa. Li uma reportagem em que Way fala que planejou uma história em oito volumes e ele soltaria pequenos pedaços de informação a cada volume e que estes fariam sentido apenas posteriormente. Ok... Entendo isso. Mas, como eu disse na resenha do primeiro volume, não é possível sobreviver como história fornecendo tão poucas informações para o leitor. Acaba se tornando uma narrativa frustrante com tantos furos.
Número 5 é um completo psicopata neste segundo volume. É por este motivo que ele acaba paulatinamente afastando todos os seus irmãos de si. Ele vai se tornando mais pirado a cada momento em que ele precisa rever aquilo que o seu "eu anterior" fez no passado. O confronto entre ambos é bizarro de tão ridículo. Porém, eu preciso frisar o quanto me deixou enfurecido a maneira como Número 5 foi usado para devolver os poderes para Rumor. Que desculpa absurda!!!! Ah, beleza, vamos chamar uns cirurgiões sinistros que eles vão dar um jeito nela. Oh, my lord... É a questão da agência e da viagem no tempo serem empregados para corrigir problemas narrativos deixados para trás. E isso não convence.
Por outro lado, Gabriel Bá teve mais espaço para criar e imaginar situações. Sua arte está mais coerente com o trabalho que ele desenvolve. Ele consegue criar algumas sequências bem criativas como a do pós-morte. A sequência toda é feita em preto e brando (quase como se fossem rabiscos) com apenas Klaus oferecendo o elemento de cor para a narrativa. Simples, porém genial. As sequências de luta estão bem melhores, o que demonstra que o roteiro em parte se acostumou com o que o artista é capaz de entregar. Por outro lado, algumas escolhas de visual me incomodaram. É sério que os acontecimentos do primeiro volume fizeram o Spaceboy ficar... gordo???? Sério isso? Depressão = obesidade? Caramba, não podia ter ficado mais incomodado com esta escolha. Ainda acho que determinadas escolhas narrativas precisavam ser melhor pensadas e refletidas sobre como isso vai afetar os personagens propriamente ditos. Nada contra uma história maluca e repleta de altas ideias. Grant Morrison faz isso há décadas. O problema todo é quando isto não faz sentido ou não ajuda a história a tomar algum rumo.
Umbrella Academy é uma história que sofre muito com altos e baixos. A narrativa é muito inconstante e a gente percebe ora ou outra alguma coisa legal sendo imaginada. Porém, os problemas acabam prejudicando a fruição geral. Novamente o autor não trabalha satisfatoriamente a relação entre os membros da família. Tá, a ideia era separá-los definitivamente. Mas, para que a separação pudesse ter o impacto desejado, ela precisava importar para o leitor. E eu não consigo empatizar completamente com o que está acontecendo porque os problemas deles acabam não me interessando. Um vínculo não foi criado. Contudo, a arte está muito melhor neste volume, apesar de algumas escolhas estéticas para personagens que não me agradaram.
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