Celso Filho 30/01/2024
"Por amor às causas perdidas / (...) até pode ser / Que os dragões sejam moinhos de vento"
"O engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha" é um livro escrito por Miguel de Cervantes Saavedra, publicando inicialmente em 1605 e depois foi escrito uma segunda parte em 1615. Nessa edição da Penguin Companhia, originalmente publicada em 1912, temos as duas partes publicadas em um único volume, com tradução feita por Ernani Ssó, que localiza o livro de forma em que ele seja mais próximo do público hodierno. Gostei da tradução e achei que favorece principalmente o Sancho Pança, por ser uma personagem que exemplifica o conhecimento popular.
Visto que o livro ultrapassou seus 400 anos, a história base é amplamente conhecida: um homem de meia idade, Alonso Quijano, ávido leitor de romances de cavalaria, decide se fazer cavaleiro e partir em busca de uma aventura e almejando honrar o nome da nobre dama Dulcineia del Toboso, montado em seu cavalo Rocinante e ao lado de seu amigo e escudeiro Sancho Pança.
Ao longo do livro, as personagens acabam passando por vários apuros, muito pela recusa insistente de Dom Quixote de não enxergar a realidade sem um forte filtro de fantasia e paranoia, que sempre é colocada no meio de muita inteligência e sabedoria para qualquer assunto que não se relacione com a cavalaria.
É uma obra tanto completa pelo espectro coloridíssimo de emoções que são sentidas pelo leitor ao ler o livro quanto pela variedade de interpretações que se podem ter para todas as personagens e situações vivenciadas. É simplesmente o paraíso da fortuna crítica.
Mas para mim, o livro dialogou pessoalmente pela qualidade sonhadora de Dom Quixote, muito distante do que tenho de interpretação do mundo. Casou bem com uma leitura recente de "O sonho de um homem ridículo" (1877), de Dostoiévski e o refrescar da memória sobre a discussão entre os russos niilistas e anti-niilistas. Vivendo em um ambiente profissional que necessidade de evidência científica clara para seu pleno funcionamento, muitas vezes sou capturado por uma necessidade frequente de uma visão mais cética, que não precisa se estender para todas as áreas da vida.
Acabou sendo um livro que decidi ler de maneira despretensiosa para ir atualizando uma lista de um outro livro que iniciei em 2022, mas que tranquilamente se tornou um dos meus favoritos. Quiçá o mais.