Lucas.Sampaio 18/01/2024
É um livro que impõe medo, esse monumento literário.
É um livro que impõe medo, esse monumento literário.
Eu sempre tive contato com o booktube, fui crescendo junto da internet, e quando meu gosto literário foi aflorando e já na adolescência eu fui me desafiando com leituras cada vez mais complexas, vários canais disponíveis no YouTube citavam esse livro (junto ao Ulysses do James Joyce) como uma leitura quase impossível, um texto que só podia ser adentrado por iniciados, que sem uma caderninho e um lápis você nunca ia conseguir compreender o que estava acontecendo, ao que digo: bobagem.
Essa foi uma das experiências mais interessantes, divertidas e instigantes que tive com literatura a muito tempo (e afirmo, esse é o melhor livro que já li nesses últimos 5 anos - pelo menos).
A primeira parte desse romance é narrado pelo Benjy (Benjamin), um homem de 30 anos que possui algum atraso mental que não é especificado durante a narrativa, mas que faz com que ele tenha uma mentalidade próxima a uma criança de 3. Toda sua narrativa é fractal, com pulos temporais, para a infância das personagens, junto a episódios que aconteceram apenas em suas vidas adultas, mas que o Benjy conta tudo em uma amálgama, que eu juro, vai fazer sentido lá na frente, e até no próprio momento da leitura, muita coisa já pode ser intuida e interpretada.
Na segunda parte do texto, entramos na cabeça de um homem incestuosa, frustrado com a vida que está levando e com um impeto suicída. Vivendo entre o presente e o passado, mas que rende os momentos mais lindos do romance, como por exemplo, o começo do seu capítulo: "Quando a sombra do caixilho apareceu na cortina era entre sete e oito horas, e portanto eu estava no tempo de novo, ouvindo o relógio. Era o relógio de meu avô, e quando o ganhei de meu pai ele disse Estou lhe dando o mausoléu de toda esperança e todo desejo; é extremamente provável que você o use para lograr o reducto absurdum de toda experiência humana, que será tão pouco adaptado às suas necessidades individuais quanto foi às dele e às do pai dele. Dou-lhe este relógio não para que você se lembre do tempo, mas para que você possa esquecê-lo por um momento de vez em quando e não gaste todo seu fôlego tentando conquistá-lo. Porque jamais se ganha batalha alguma, ele disse. Nenhuma batalha sequer é lutada. O campo revela ao homem apenas sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e néscios."
Daí em diante a narrativa fica mais fácil, mas não mais leve, com o capítulo no racista Jason, que é escrito quase que de maneira "normal", apesar de seus devaneios, frustrações, e tentativa de justificativa dos seus piores atos (é muito incômodo de ler), e por fim, um capítulo em 3° pessoa, com leitura facilima que arremata tudo.
É uma narrativa pesada apesar de simples, em que uma família decadente vive à sombra de um passado glorioso. Com personagens femininas que apesar de não serem as narradoras principais são o ponto chave de toda narrativa, principalmente a Caddy, personagem forte, maravilhosa e cheia de nuances.
Leia esse livro sem medo. É uma obra-prima. Um quebra cabeça encantador. Me arrependo de não ter lido antes.