O despovoador / Mal visto mal dito

O despovoador / Mal visto mal dito Samuel Beckett




Resenhas - O despovoador / Mal visto mal dito


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Claire Scorzi 22/11/2020

Notas Soltas - Impressões
O Despovoador:
A escrita evoca descrições dos movimentos dos personagens (?) como se fossem atores se movendo num palco de teatro (faz sentido; Beckett escreveu peças); o cenário evoca Dante e seu Inferno, os mitos gregos de castigo dos deuses (Tântalo, Sísifo), distopias, ditaduras talvez; enfim - nada de bom. Deprimente. Um pesadelo. Sufocante.

Mal visto Mal dito:
A escrita por vezes evita os verbos, fazendo mais uso de conjunções, substantivos, adjetivos; uso de frases invertidas como na poesia. O cenário evoca - velhice, luto, morte, solidão. Trata-se de uma idosa observada (?) e certas alusões a Vênus fizeram-me pensar se não há, junto com a velhice, um despedir-se da sexualidade, do desejo erótico, da parte da protagonista, ou ainda um ressentimento dela por ter perdido a juventude e já não ser mais alvo do desejo masculino.

Impressões, como se vê. Instigante, ambíguo, incomum, fascinante. Para reler.
comentários(0)comente



Arsenio Meira 02/06/2014

“Nem tudo foi dito e nunca será”.

Não há como estender-me. Farei uma força grande para ser conciso.
Os dois breves contos de Samuel Beckett, que intitulam o livro, cuja extensão efetivamente contém apenas, para desgosto de quem gostou da obra, aproximadamente 70 páginas (as demais páginas são preenchidas pela cronologia e um excelente prefácio do tradutor Fábio de Souza Andrade) perturbam porque deles nascem uma concreta sensação de que o espaço imaginário existe tão somente como laboratório da morte , seja individual e/ou coletiva. O conto "O despovoador" é uma ode à distopia. Beckett reanimou o eco das larvas vulcânicas que assombraram Dante. E "Mal Visto Mal Dito", mata a linguagem convencional e abre uma janela para a clausura da personagem. Só que a janela é aberta sob os olhares da marcha fúnebre, rs. E música olha para alguém? Para Beckett, olha sim. Vai ver que olha mesmo.

O ingrediente seminal, que resume o livro e une os dois contos, é a ideal de que Beckett jorra luz sobre um palco repleto de sombras. O sujeito aqui tem algo de primitivo, anterior ao discursivo, ao exercício intelectual. Ao tecer a consciência dessa vida puramente corpórea, o grande escritor Irlandês, autor de "Novelas" e "Molloy" dentre outras obras que figuram na panteão do cânone universal, revela a fratura (exposta) que existe entre palavras e coisas, linguagem e mundo. Não deixa de ser triste ou amargo. Nem todos os muros ruíram, afinal. Ao menos dentro de milhares, milhões de pessoas, ainda que sejam muros invisíveis, eles permanecem intocáveis.
Maria Luísa 13/06/2014minha estante
Ótima resenha. Quem resiste a uma indicação dessas?


Arsenio Meira 13/06/2014minha estante
Obrigado, Maria Luísa. Beckett tem sido uma descoberta, e apesar do (pretenso) hermetismo que preconizam em sua obra,o que a gente percebe é
a clareza de ideias e sentimentos, ainda que amargos e céticos. Abraços




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