jonathanmelo 15/04/2020
Incrível!
“O inferno... são os outros.” Esta é uma das frases finais de Garcin, um dos personagens da peça teatral Entre Quatro Paredes do filósofo e escritor Jean-Paul Sartre, escrita em 1944.
Certamente não darei conta, em poucas linhas, de discutir suficientemente a seu respeito, no entanto há pontos os quais gostaria de salientar. Garcin, Estelle e Inês encontram-se no inferno. Não o inferno cristão, com direito à tortura e corpos em chamas, mas em um salão Segundo Império, com uma lareira e três poltronas. Estão lá por suas razões obscuras, e são elas cruciais ao desenvolvimento da trama, pois evidenciam os seus verdadeiros “eus”, que tanto aprisionaram.
Neste diapasão, enveredamos por questões próprias da filosofia de Sartre, em que o ser humano escolhe privar-se de sua liberdade, de ser o que se é, para atender a um código moral-social, sujeitando-se a um modo de vida que o prende entre quatro paredes, agarrando-se a ele para justificar suas atitudes.
Lançado ao mundo sem razão, seu papel é o de responsabilizar-se por suas escolhas, conduzindo-se, livre de amarras, do medo, do desconforto de conviver em sociedade sem ser-se plenamente, fazendo dos outros seu inferno. Tornar a si seu Deus.
À vista disso, a peça traz consigo imensa profundidade. O modo como se apresenta a filosofia, intrínseca à história, contida nas entrelinhas, é muito rico. Recomendo fortemente a leitura!
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"INÊS – Por que não? Durante trinta anos sonhaste que tinhas coragem; e permitiste-te mil pequenas fraquezas, porque aos heróis tudo é permitido. Que cômodo que eras! Depois, na hora do perigo, encostaram-te à parede... e tu tomaste o trem para o México.
GARCIN – Não sonhei esse heroísmo. Escolhi-o. Somos o que queremos ser.
INÊS – Prova, então. Prova que não era um sonho. Só os atos decidem sobre o que queremos.
GARCIN – Morri cedo demais. Não me deram tempo de praticar os meus atos.
INÊS – Morre-se sempre cedo demais – ou tarde demais. No entanto, a vida aí está: liquidada. Já se deu o traço debaixo das parcelas: resta fazer a soma. Nada mais se é do que a sua vida."
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