spoiler visualizarAlguém q lê 04/06/2024
Jane Austen nunca decepciona!!
Mais um livro lido da Jane Austen, uma das minhas autoras preferidas, e como sempre eu gostei muito da história. Esse é o quarto romance que eu já li da autora e com certeza é o que possui a visão mais madura de todos.
Ele foi o ultimo romance acabado pela Jane antes de sua morte e percebe-se claramente que apesar de ser uma história extremamente romântica, esse é um fator mais maduro aqui. Não vou me prolongar muito no enredo, vou falar mais sobre minhas opiniões sobre os personagens e os acontecimentos.
A personagem principal, Anne Elliot é a irmã do meio. Ela não é tão importante quanto a sua irmã mais velha (Elizabeth), não conseguiu casar mesmo estando próxima dos 30, algo que na época era absurdo, sua família está em decadência, sua mãe faleceu quando ela ainda era criança e ela nunca conseguiu superar um amor impossível de sua juventude. Ou seja, a Anne está cheia de problemas, arrependimentos e tristezas. O seu porto seguro é Lady Russell, uma velha amiga da família. Eu entendo pessoas que acham a Anne entediante, porque comparada com outras protagonistas da Jane ela realmente é, porém essa é uma característica importante para a história. O fato de Anne estar "empacada" com tudo que aconteceu e ter perdido as esperanças é o que faz a história de amor entre ela e Frederick ser tão intrigante durante toda a história.
Já que estamos falando sobre o amor dos dois, vou contar como tudo começou. Basicamente, Frederick e Anne se conheceram quando eram muito jovens e se apaixonaram. Ele até chegou a pedir Anne em casamento, porém a família e amigos de Anne foram totalmente contra, porque ela era rica e Frederick não. Anne é persuadida a não se casar com Frederick (sendo que a pobrezinha já tinha aceitado o pedido e estava perdidamente apaixonada) e depois que ambos se separam, as mágoas continuam para ambos os lados. Entre as pessoas que persuadiram Anne está Lady Russell, deve ser por isso que eu tenho uma relação de amor e ódio com essa personagem.
Essa questão que envolve a Lady Russell também esta ligada com um assunto bem recorrente nas outras obras de Jane: o papel da mulher na sociedade e o poder do dinheiro. Obviamente, nesse romance esse assunto também está presente, mas de um jeito mais maduro. É perceptível que o maior motivo do por que Anne recusou Frederick pela primeira vez foi Lady Russell, portanto, é de se esperar que tanto os leitores quanto a autora (que desejam um final feliz para o casal) não gostem muito dessa personagem. Só que não é isso que acontece, pelo menos não totalmente por parte da autora. Jane Austen reconhece os defeitos da amiga de Anne, não nega sua influência e como ela estava errada em relação Frederick. Porém ela traz uma perspectiva mais realista: Lady Russell só tentou proteger Anne. A realidade era que o amor não é o suficiente todas as vezes. Anne estava acostumada com um certo padrão de vida, que na época o Frederick não conseguia lhe proporcionar. A menina ia perder suas amizades, seu título e ia ser muito mal falada na região. E eu acho genial o fato de que Jane Austen reconhece e demonstra para nós ao decorrer da história que Anne era um tanto ingênua em relação a isso. A protagonista pensava que tudo precisava ser verdadeiro, as amizades, o casamento, procurar participar de ciclos exclusivos era besteira... mas ela só pensava assim porque nunca lhe faltou esse tipo de coisa. Uma das únicas vezes que aquele primo dela serve para alguma coisa boa é quando ele mostra para ela que ok, o certo não seria manter relações por interesse, o certo não seria buscar ter amigos ou parentes influentes mas a vida real não é sempre correta. E caso as pessoas não busquem por isso elas serão excluídas. Não adianta remar contra a maré.
Agora sobre a relação de Frederick e Anne. Acho que se existisse TikTok na época de Austen, seu livro estaria na trope de romances de "secunda chance". Quando os dois se encontram e ele corteja pessoas na frente dela isso pode até dar raiva (e muita dó da Anne também) mas mostra que ambos ainda ficam esperando uma reação um do outro, algum tipo de sentimento restante. Ela busca alguma compaixão por seus sentimentos que ainda estão tão vivos quanto estavam quando foi pedida em casamento. E ele busca por algum tipo de ciúme, alguma declaração, alguma demonstração de sentimento por parte dela que sirva para mostrar que o amor deles continua vivo. A questão de Frederick fazer ciúmes em Anne pode causar opiniões controversas, mas vale lembrar que ele tinha conseguido o sim de Anne num dia e no outro ele estava proibido de vê-la, de se casar com ela e havia sido humilhado por ser de uma classe social diferente. Portanto, é ÓBVIO que ele se sentia triste e queria despertar algum sentimento amargo em Anne. E eu acho que para muitas pessoas esse ressentimento de ambos os lados pode ser algo chato durante a leitura. Porque é bem claro que os dois ainda se amam, mas por uma situação do passado eles não se entregam novamente por medo de se machucarem. Algumas vezes era chatinho mesmo ler as mágoas da Anne, mas é essa situação meio conturbada que resulta naquela carta MARAVILHOSA do Frederick se declarando para a Anne. A agonia é real, é como se os dois fossem imãs que estão a todo tempo tentando se unir, a tensão é sempre constante nas cenas com os dois.
Todos os personagens desse livro têm os seus defeitos mas também possuem seus lados bons. A Jane Austen era uma rainha nessa questão, todos parecem ser humanos de verdade e eu acho que é por isso que seus romances são tão inebriantes. Eu tenho a sensação de estar presenciando algo real, apesar de saber que a história é totalmente fictícia. E na minha opinião, nesse romance, Jane Austen atingiu o seu auge na construção de personagens.
Ninguém escreve uma história de amor como Jane. Ninguém consegue prender milhares de leitores ao redor do mundo durante gerações com histórias que conseguem ser leves e ao mesmo tempo ricas. Ninguém consegue criar interesses amorosos tão bem como ela.
É notável que as histórias da Jane sempre vão ter um outro homem que começa a se interessar pela protagonista mas na verdade possui um passado podre. A mesma coisa acontece aqui mas dessa vez eu não liguei muito para esse "plot" não sei muito bem o por que mas não me prendeu. Apesar disso a aparição do primo de Anne aqui foi muito boa, porque ai o Frederick ficou com ciúmes. Pouca coisa, nada muito uau, só que foi bom perceber que ele ficou tão incomodado quanto Anne ficava quando ele cortejava outras meninas.
Ah e a Jane Austen era tão genial, que nesse livro Anne e um amigo seu tem uma discussão sobre o fato de que as mulheres conseguiam esquecer seus amores mais facilmente que os homens. E esse fato é comprovado por todas as histórias que falam sobre esse tema. E ai Anne comenta que os livros só retratam as situações dessa forma pois eles são escritos por homens que não conseguem entender o lado das mulheres. OLHA ISSO!!! Mais uma vez Jane Austen falando sobre as mulheres não terem tanto espaço e dessa vez na literatura. Incrível, ela era incrível.
Enfim, gostei muito de ler "Persuasão" e recomendo muito, porém não acho que seja um bom livro para quem quer começar a ler Jane Austen, porque a personagem principal não é uma das mais intrigantes, a família Elliot é insuportável, o romance tem essa característica de não sair muito dos lamentos dos dois lados durante a maior parte do livro e também porque achei a parte do passado do primo da Anne meio confusa.
Eu só tirei meia estrela por alguns motivos bem simples:
- Não me decidi sobre o que realmente acho de Lady Russel. O fato de ela se achar superior mas acaba fazendo, em algumas situações, as mesmas coisas que ela tanto julga. Talvez eu nunca me decida totalmente, porque como eu falei essa questão desencadeia várias outras. De qualquer jeito, isso só mostra o quanto Jane Austen era incrível na construção de seus personagens e conseguiu se superar nessa história.
-O passado do primo de Anne me deixou meio confusa e o final que ele levou também, mas aí acho que foi burrice minha
-As lamentações da Anne durante uma grande parte do livro foram chatinhas. Nada muito insuportável.