carbononh 23/01/2022
dedo no c* e gritaria
Indigerível, obsceno, praticamente pornográfico e genial, "O caderno de Lori Lamby" é um livro/caderno/diário escrito por uma menina de 8 anos, que se prostitui com o consentimento dos pais e passa a narrar tudo - tudo mesmo - no papel.
A forma como a autora cria uma personagem e trama inverossímeis ao ponto de chocar e confundir o leitor é fascinante. Os relatos de Lori Lamby e a sua sagacidade são perversos, e servem como rota para Hilda traçar um enredo delirante sobre a personagem e sua família, tecendo, em conjunto, uma crítica ao mercado editorial brasileiro, à obsessão pelo dinheiro e à literatura.
Ao trazer assuntos pesadíssimos e polêmicos, e retratá-los de forma obscena, explícita e calculista, Hilda põe as questões morais e ilógicas dos próprios leitores à mostra, como ponto de reflexão para à nossa própria alienação e (des)caminho e desvalorização da literatura mais 'massuda', que vem perdendo notoriedade e visibilidade.
Escrevendo "adoráveis bandalheiras" de forma conveniente, Hilst põe em cheque o leitor, o mercado, a literatura, a moral e a reestruturação da própria escrita. Aqui, é importante entender o momento delicado pelo qual a autora passava. No mais, é importante frisar que poucos escritores conseguiriam fazer e chegar no nível literário, subversivo e delirante de Hilda Hilst.
O posfácio (com uma visão psicanalista) explica como a escrita da Lori, apesar de ser altamente sexual ao abordar casos envolvendo pedofilia, é escolhida para ser repulsiva para quem quiser usar o livro para se excitar, uma vez que a personagem não é colocada na posição de vítima em nenhum momento, demonstrando a genialidade de Hilda ao tocar no assunto, escrevendo uma personagem inverossímil, inapropriada e chocante.
10/10