Thiago Duarte 08/05/2024
O nauseante caderno negro do mercado editorial
Como um bom curioso, li O Caderno Rosa de Lori Lamby devido a algumas resenhas que assisti no YouTube. Enquanto os resenhistas falavam, eu ficava empolgado e imaginando o porquê da história ser tão chocante como descreviam.
Hilda Hilst, através da metalinguagem e de sua experiência de vida, apresenta Lori Lamby, uma menina meiga de oito anos que, em seu caderno rosa, começa a escrever histórias sexuais. Ela escuta constantemente o editor Lalau dizer a seu pai, um escritor em crise, que é preciso escrever histórias de putaria, pois é mais rentável. Então, inocentemente, Lori passa a escrever histórias pornográficas a fim de ajudar seu pai e também comprar brinquedos da Xuxa.
Embora a narrativa seja nauseante, Hilst escreve essa putaria a fim de criticar o mercado editorial. Assim como o pai de Lori, a autora vê que os seus livros não estão vendendo mais como antes, pois tanto o mercado editorial quanto os leitores, ambos representados por Lalau, estão interessados apenas em histórias pornográficas.
Apesar dessa mensagem, também é inegável como um ambiente desequilibrado pode afetar a vida das crianças. Acontece que a garotinha está em todos os cantos, ouvindo as safadezas e palavrões que os adultos em sua volta falam. Dessa forma, há uma interferência na ingenuidade da menina, pois o seu inocente vocabulário começa a ceder ao vocabulário vulgar.
Deixo uma pequena crítica aos resenhistas que assisti. Ao término do livro, notei que a fala deles tem equívocos. Dizem que a história é sobre uma menina que conta suas experiências sexuais ou até mesmo que é iniciada na prostituição. Para mim, tais declarações contribuem tanto à difamação do livro quanto da autora.
Concluo que esse não é um livro fáci, porque o conteúdo é repugnante e pode despertar muitos gatilhos. Porém ele se torna necessário quando entendemos as motivações da autora ao criar uma história tão subversiva para criticar o mercado editorial e as pessoas que só querem consumir putaria para satisfazer seu prazeres carnais.