Charleees 28/03/2023
O CADERNO ROSA DE LORI LAMBY - Hilda Hilst
O caderno rosa de Lori Lamby foi a leitura mais complicada da Hilda que já fiz. De início foi difícil acreditar que aquele caderno era escrito por uma menina, a linguagem da Hilda continua a mesma, embora o teor pornográfico seja o ponto chave ali. Decidi então olhar a história sobre outro prisma e a leitura fluiu, Hilda fez a Lori Lamby como um ato de agressão, foi uma banana que ela deu aos editores, o livro todo é uma grande ode a isso e ela o fez de maneira magistral, o pai de Lori é um grande poeta que não vende, está sempre em crises por conta disso e essas crises se acentuam quando Lalau o editor pede que o mesmo escreva bandalheiras, a boa e velha pornografia, pois só assim ele irá vender, se tornar rico, desfrutar as coisas boas que o dinheiro pode proporcionar, mas é difícil para ele cair no mundo pornográfico assim. Lalau tem o apoio da mãe de Lori, esposa do tal poeta que acredita que tudo irá mudar quando ele passar a escrever putaria (Hilda jogou aqui ao vento o que lhe acontecia, poeta renomada nos meios acadêmicos nunca vendeu, não era conhecida, nenhum editor dava a devida importância para sua obra, esse país não gosta de seriedade, dizia Hilda, e durante 40 anos ela teve esse excesso de seriedade para com sua obra, com Lori ela derrubou tal conceito e trouxe o melhor da bandalheira) Hilda faz grandes críticas no decorrer da história e você não precisa pensar muito para compreendê-las. Lori quer dinheiro para comprar as coisas lindas que vê na televisão, como as coisas da Xoxa (clara referência a Xuxa) e aqui ela traz uma alusão perfeita sobre artistas da massa (que é bem diferente de populares) sobre consumismo, artistas criados pela TV (Xuxa fez filme pornográfico e se tornou rainha dos baixinhos), um fato que achei interessante é que logo após Lori escrever em seu caderno rosa 'O caderno Negro' um livro erótico que Tio Abel deu para ela ler, ela cola figurinhas da Xoxa na beirada do caderno pra tudo ficar mais bonito (isso é genial, logo após aquela orgia entre Dedé, Edernir, Corina e o jumento você amenizar com uma pessoa "tão suja" quanto aquelas da história, mas na cabeça de Lori, a melhor referência para crianças.
Hilda não maneira nos termos genitais. Em entrevista contida no livro Fico besta quando me entende ela fala abertamente que não se choca com esses termos e não entende o porquê das pessoas se chocarem, ela usa e abusa de termos como 🤬 #$%!& , pau, puta e afins... É um livro de várias interpretações, ao mesmo tempo que você sente nojo dos pais de Lori que a coloca naquele submundo do sexo você fica a se questionar o porquê do sexo ser considerado algo sujo, é tão estranho que precisei de tempo para conseguir formular tudo que pensei a respeito do livro.
* Resenha editada em Maio de 2017