Fernanda 22/07/2021
Leitura indispensável
Mais uma história sobre a Segunda Guerra e, a cada uma que é publicada, percebe-se que sempre haverá o que ser dito. Ainda mais quando as palavras são ditas por quem viveu tudo aquilo e quer deixar registrado para que outras gerações saibam do que o ser humano é capaz, para o bem ou para o mal.
Clara Schwarz, uma adolescente judia, vive com os pais e a irmã Mania em Zolkiew, uma cidadezinha da Polônia. Cercada pela presença constante dos avós, inúmeros tios, tias, primos e primas, costuma dizer que vivem em bando.
O pai é sócio das famílias Melman e Patrontasch, igualmente judias, numa indústria de extração de óleo vegetal.
A vida era tranquila e confortável naquela cidade rodeada de campos, pomares e fazendas. A comunidade judaica, bastante expressiva, se unia em torno de eventos e comemorações tradicionais.
A chegada dos soldados nazistas ao país quebra o clima de segurança e tranquilidade em Zolkiew, especialmente para os judeus, alvo principal das garras de Hitler por toda a Europa. A situação se agrava progressivamente, até que os primeiros vagões de gado começam a partir levando judeus para os campos de concentração. O pai de Clara procura desesperadamente um lugar para se esconder com a família, mas é praticamente impossível encontrar, pois acolher judeus é considerado crime capital. Já sem esperança após várias tentativas frustradas de escapar, a família não vê saída, a não ser partir para o gueto para cumprir o mesmo destino trágico de vários amigos e parentes, até que se acende uma luz no fim do túnel: a família de Julia Beck, antiga faxineira das três famílias, decide esconde-los. O grande problema é que Valentim Beck é dono de péssima reputação: beberrão, mulherengo, irresponsável e, pior, antissemita declarado. Sem saída, as famílias decidem colocar seu destino nas mãos dos Beck, na esperança de que a guerra dure mais dois ou três meses. O novo lar dessas onze pessoas passa a ser um abrigo subterrâneo minúsculo, cavado com as próprias mãos, com paredes de terra, sem banheiro ou janelas, com um metro e meio de altura, extremamente frio no inverno e escaldante no verão, com pouquíssima água e comida e tendo apenas um balde para fazer as necessidades. O que os separava da parte de cima era apenas o piso de madeira da casa, de forma que precisavam passar horas e até mesmo dias totalmente imóveis, apenas respirando, para não serem ouvidos durante as inúmeras visitas de nazistas à casa.
Quando se pensa que a fome, a sede, o medo constante e a falta de boas notícias das frentes de batalha são provações suficientes, a evolução da guerra traz mais restrições e tristezas, além de novos moradores para aquele espaço tão pequeno que não era possível dormir de bruços por falta de espaço. Em meio a tanto sofrimento, vemos surgir de onde menos se espera a solidariedade, a empatia, o amor que faz alguém arriscar a própria vida todos os dias para tentar evitar mais injustiças.
Diante da privação de quase tudo o que mantém um ser humano vivo, o sentimento de gratidão pelas mínimas coisas, como poder ficar de pé por alguns minutos ou beber um gole de água é o combustível que não deixa os judeus desistirem.
Graças ao pedido da mãe "escreva um diário, Clara. Se morrermos alguém vai achar e saber o que aconteceu conosco" o registro dos dias passados no abrigo subterrâneo ainda existe e hoje em dia faz parte do acervo do National Holocaust Museum, nos EUA.
Não é mais um romance autobiográfico sobre a Segunda Guerra. Nenhum deles é. É uma história única, forte, tocante e crua. Vale muito a pena ler.
"A gente quer viver, não importa como. Todo dia olhamos a morte, olho no olho, e cada dia tem sua própria história. Se pelo menos tivéssemos uma sentença, um prazo, uma estimativa do tempo pelo qual vamos sofrer... Estamos sentados aqui e nem mesmo sabemos se será a troco de nada."
*A revisão falhou terrivelmente, há muitos erros, falhas e trocas, mas nada que tire a grandeza do conteúdo.
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