spoiler visualizarCamila 28/10/2023
Em busca de respostas
Como uma pessoa que se agrada dos ideais budistas e filosofias religiosas ocidentais, empolguei-me em ler o livro Sidarta, de Hermann Hesse. Mas, me surpreendi quando percebi que o personagem protagonista não se tratava do príncipe Buda, e sim de um personagem baseado na vida do Gotama, visto que, o autor escreveu o livro com base na sua experiência vivida na Índia. Vale ressaltar que, Hesse é alemão, o que explica o porquê de mesmo um livro que trate-se do Ocidente e o budismo permeie a história, o autor permite que qualquer pessoa compreenda e se reconheça no protagonista durante sua jornada.
Sidarta, protagonista do livro, inicialmente é um jovem da mais alta classe, filho de Brâmane, e é sedento pelo conhecimento, aprendendo tudo que está ao seu alcance. Até que ele percebe que para ser um ser iluminado deveria fugir do seu próprio eu, mas que para isso deveria abandonar sua vida e trilhar seu caminho.
?Começava vislumbrar que seu venerando pai e seus demais mestres, aquele sábios brâmanes, já lhe havia comunicado a maior e a melhor parte dos seus conhecimentos: começava perceber que eles tinham derramado a plenitude do que possuíam no receptáculo acolhedor que ele trazia no seu íntimo. E esse respeitar não estava cheio?; [?]?
HESSE, Hermann. Sidarta. BestBolso, 2012. Página 11
Assim, junto ao seu fiel amigo, Govinda, juntam-se aos samanas, povos que abandonavam toda a vida dos prazeres e libertava-se dos bens materiais. Passando a jejuar, meditar e recusar os prazeres da vida. Até que Sidarta entende que para encontrar a plenitude da vida era necessário inteirar-se ao seu eu e o compreender de tal forma, que o levaria ao Átman, sendo que o que ele estava fazendo até o momento era escapar de si mesmo.
?O fato de eu não saber nada a meu próprio respeito, O fato de Sidarta ter permanecido para mim um ser estranho, desconhecido, tem sua explicação numa única causa: tive medo de mim, fugi de mim mesmo!?
HESSE, Hermann. Sidarta. BestBolso, 2012. Página 42
Dessa forma, Sidarta e seu parceiro continuam suas jornadas, porém com uma nova visão, seguem em busca de um tal ser iluminado: o Buda, um ser que chegou a sua plenitude e guia uma grande quantidade de discípulos. Porém, Sidarta dá-se conta que nem o próprio Buda conseguiria fazê-lo chegar à paz interior. Abandonando seu amigo para seguir seu caminho sozinho, pois para ele só assim conheceria seu próprio eu. Agora sozinho, Sidarta entra no mundo do comércio, da riqueza e passa a relacionar-se com uma mulher, Kamala, que o apresenta uma vida luxuosa e cheia de ambição,- e assim podemos fazer um paralelo com nossas próprias vidas. Mas, percebeu que os anos iam passando e ele ia se afundando numa vida medíocre, decidindo assim mudar.
?Nesse rio, quisera afogar-se. Nesse rio, submergia o velho, o exausto, o desesperado Sidarta. Mas o novo Sidarta, tomado de profundo amor a essas águas que lá corriam, resolvia não se separar delas por muito tempo.??
HESSE, Hermann. Sidarta. BestBolso, 2012. Página 96
Tendo em vista o quão perdido estava, Sidarta quase desiste de tudo, mas então uma força maior o faz seguir. Renascendo das águas do rio Sidarta encontra um velho conhecido que vivia a navegar nas águas deste mesmo rio, e de uma forma ou outra torna-se seu mestre e ensina a escutar as águas, e ao fim apenas pela direção e ajuda do barqueiro tornou-se iluminado.
?[?] entre as ideias que se me descortinaram encontra-se esta: a sabedoria não pode ser comunicada. A sabedoria que um sabe o que já transmite sempre cheirara a tolice. [...] O Conhecimento pode ser transmitido, mas nunca sabedoria.?
HESSE, Hermann. Sidarta. BestBolso, 2012. Página 132
Em suma, confesso que esta foi uma das minhas melhores leituras deste ano. O livro apresenta uma escrita clara, mas sem perder a delicadeza que nos faz refletir e enxergar o mundo de tal maneira, que torna-se prazerosa. Ao olharmos para esse romance, nos vemos neste personagem, que vive em busca dos grandes mistérios da vida, indo de um extremo a outro dar-se conta de que o equilíbrio, o percorrer das águas do rio que se encontrava era a resposta: o momento presente.