spoiler visualizarLis Tolent 06/06/2024
A hora da morte
Querida Clarice,
Esta obra prima, seu derradeiro livro, é fantástico. A hora da estrela, que também pode ser chamado de "a hora da morte" foge dos padrões, até mesmo de sua própria escrita- ouvi falar. Seu livro faz com que adentremos ao contexto e sua história. História que procura voltar-se ao insignificante, aquilo ou aqueles que não importam, não incomodam, não falam e nem se quer existem, já que são incompreendidos e "não pensam". "Maca", como é chamada pelo narrador, é pobre e sofre sua vida toda na mão daqueles que pensam serem melhores que ela, apenas por terem mais alma, mais dinhero, mas mesmo assim tenta ver a vida com seus mínimos detalhes, detalhes -considerados - bobos, seja o verde da grama ou o portão retorcido que sempre lembrava de uma história qualquer.
É chocante sair de uma bolha, a bolha do conforto e perceber que existem seres vivos, pessoas que realmente passam pelo que Macabea passou em sua vida, fome, doença, carência de amor, pai e mãe. Somos arrancados de si para tentar compreender o outro lado da história a uma perspectiva mais abundante que da própria personagem. O narrador, por mim, é muito confundido com Deus, este que apesar de oniciente não é onipotente, deixa a pobreza no mundo e ainda ve prazer no sofrimento, mas se arrepende de tais pensamentos, por isso é apenas confundido com Deus.
Personagens bem construidos, cheios de crítica e até mesmo profundidade, acho chocante em um livro de 74 páginas.
Clarice, seu livro lhe mostra muitas vezes presente, por isso pergunto, no fundo Maca é você?
Porque fez com que ela morresse antes de tanto futuro, porque você Clarice?
Porque você foi levada desde lugar antes de tanto futuro?
Clarice, espero que você seja orgulhosa de sua escrita, de sua saida da zona de conforto e que aonde estiver, continue escrevendo.
Com carinho,
De uma insignificante leitora.