Ópera dos mortos

Ópera dos mortos Autran Dourado




Resenhas - Ópera dos Mortos


59 encontrados | exibindo 31 a 46
1 | 2 | 3 | 4


Mateus 20/01/2022

Ópera dos Mortos, o lado civilizado versus animal.
Em Ópera dos Mortos, Autran Dourado consegue, de uma forma primorosa, mesclar uma ótima história, com uma escrita simples,por vezes parece cinematográfica, mas ao mesmo tempo potente.
Fica perceptível ao leitor que, além do conteúdo da obra ser riquíssimo, o autor demonstra muito zelo a forma de transmitir o mesmo, assim como faziam os artistas barrocos.
O título não poderia fazer mais sentido, já que os acontecimentos do livro por vezes, se assemelham a óperas dramáticas.
O leitor acompanha a história de Rosalina, uma jovem mulher, que vive em um casarão no interior de Minas gerais, reclusa e distante do povo da cidade, por uma mágoa herdade de seu pai.
Aliás, ela é a descendente de uma família extremamente poderosa naquela região, que teve o início de sua grande influência com Lucas Procópio, avô de Rosalina.
Lucas Procópio era um homem extramente violento, e que se deixava levar pelo seu lado animal. A população da cidade alimentava por ele respeito, mas este, vindo do medo de sua figura. Aliás, Lucas Procópio parece a forma de entidade durante toda a obra.
Depois da morte de Lucas Procópio, seu filho assume o papel de patriarca da família. O nome dele, João Capistrano Honório Cota, um homem respeitável, cavalheiro, que nada parecia com seu pai. O povo da cidade o respespeitava, mas diferente do respeito dado para Lucas Procópio, o de João Capistrano era autêntico.
Porém, coisas acontecem, e João Capistrano se afasta do convívio da cidade. O que posso dizer é que ele virou um homem político, e essa mudança foi uma das causas para sua queda.
E a única filha de João, Rosalina, que só tem contato com Quiquina, uma doméstica que é muda, e que tem uma relação maternal com Rosalina, e Emanuel, um antigo amor de Rosalina, filho de um amigo de João Capistrano, Quincas Ciríaco.
O tempo demora a passar no casarão, tudo é muito monótono, e isso é representado pelos relógios parados nas paredes do casarão.
Aliás, a figura do casarão demonstra um refinamento estético muito apurado de Autran Dourado, que consegue contruir a personalidade das personagens pelo estilo de construção do casarão. A parte contruida por Lucas Procópio, rústica, campestre. Já a parte construída por João Capistrano, não querendo retirar a parte construída pelo pai, tem um quê de elegante e refinado. Já Rosalina não constrói nada, demonstrando um certo ócio e inatividade por parte dela.
Mas a rotina pacata do casarão muda, com a chegada de um homem vindo do nordeste, com um passado obscura, chamado José Feliciano. Com a chegada desse homem, Rosalina entra em conflito, entre o lado civilizado de seu pai, e o lado bruto e animal de seu avô . Na verdade, esse é um conflito que permeia toda a obra, o lado civilizado versus o animal do ser humano.
Essa é a história da decadência desta família nesta cidade, de como o meio pode influenciar o indivíduo, no caso Rosalina com o passado de sua família, e a influência da figura dos mortos, como Lucas Procópio e João Capistrano, assombrando a memória tanto do povo, mas principalmente dos moradores do casarão, que por suas escolhas, não conseguem ser felizes.
comentários(0)comente



Henrique Fendrich 25/09/2017

Muito bem arquitetado e executado. A fluidez dos monólogos interiores é notável. Uma história triste e com personagens marcantes. Sem dúvida o autor precisa ser mais conhecido.
comentários(0)comente



andyelivros 26/09/2021

Ópera dos mortos!!
"O senhor atente depois para o velho sobrado com a memória, com o coração", adverte o narrador, que aos poucos se confunde com a própria cidade onde mandava o coronel Lucas Procópio Honório Cota. Tratava-se de um homem valente, que impunha respeito pela força e truculência, traços que passavam distante da personalidade de seu filho e herdeiro, João Capistrano. Melancólico, em luta permanente para se livrar do fantasma do pai, João fracassa na política ? sua única chance de se impor na cidade ? e passa o resto de seus dias trancado no sobrado que ergueu como uma espécie de monumento à família.
Com o correr dos anos, o casarão vai se impregnando cada vez mais dos fantasmas dos antepassados, que transformam tudo, de objetos a ambientes, em signos da morte. É neste ambiente opressivo e desolado que Rosalina, filha única de Capistrano, vai viver depois da morte dos pais. Solteira, isolada do mundo e tendo como única companhia a empregada Quiquina, que é muda, ela passa seus dias fazendo flores de pano e vagando entre paredes carcomidas e relógios parados.
Mas a rotina do sobrado será alterada com a chegada de José Feliciano ? ou Juca Passarinho, como é conhecido. O biscateiro vai à cidade em busca de trabalho e acaba entrando aos poucos no universo enigmático da casa e, principalmente, na vida da austera Rosalina.
comentários(0)comente



Bruno 24/03/2024

Cada Palavra Conta
Livro vigoroso, de escrita envolvente e final esplendoroso. É o tipo de obra rara em que parece o autor ter escolhido a dedo cada palavra, cada vírgula, cada parágrafo.

Com tamanho esmero na palavra, a narrativa nos faz pensar sobre a força do passado em nossas vidas e como os instintos são capazes de quebrar ciclos e tradições.

Por fim, fica o debate a respeito da loucura e do paternalismo. Recomendo.
comentários(0)comente



nflucaa 29/04/2024

Oralidade em fluxo de consciência? Sim!
Livro impressionantemente bem escrito. Parece linguagem oral, parece muito que estamos ouvindo um mineiro falando! Não só, parece que estamos dentro da cabeça de cada personagem através da boca do narrador que narra suas consciências em fluxo: lembra muito o estilo maravilhoso de Saramago escrever. É um livro gostoso de ler, no mínimo.

Minha surpresa não para por aqui, não. O sobrado dos Honório Cota, personagem principal da obra ? sim, o sobrado é o personagem principal ? lembra muito a casa dos Buendía, do Gabo. Maravilhoso! E se o sobrado lembra a casa dos Buendía, é com alegria que se percebe que, não numa escala 1:1, mas num lembrar factível, a cidade dos Honório Cota também lembra a Macondo dos Buendía.

A história é o drama da família Honório Cota, que aqui não irei contar muito: o avô, Lucas Procópio, homem ruim, diabo encarnado, odiado de toda gente, respeitado na medida em que é temido; o pai, João Capistrano Honório Cota, homem gentil, respeitado por suas qualidades, de estirpe única, homem bom ? mas orgulhoso e, ao ser traído por sua gente quando se mete em política, se isola de tudo e todos. Tal orgulho passa à sua filha, Rosalina Honório Cota, que se afunda no sobrado herdado do pai, isolada, sem contato com o mundo. Também há Quiquina, a criada negra que é uma escrava-mãe da Rosalina, Quiquina que, ainda que seja muda, diz muito. E José Feliciano, seu Juca Passarinho, o agregado que se perde na maldição dos Honório Cota, na solidão inescapável e na loucura subsequente que acomete Rosalina, a patroa.

Esses são os personagens principais, todos orbitando o Sobrado, o principal da história. Do mesmo modo como quando a cada morte de um Honório Cota se para um relógio na casa, simbolizando a prisão no passado, o condenar de não conseguir seguir em diante (no tempo), também o próprio sobrado torna-se um cláusuro: um caixão que sentencia o presente à eterna prisão do passado (no espaço, também). Está aí a maldição dos Honório Cota, a Ópera dos Mortos: cantam na mudeza dos relógios parados, dos tempos congelados. Fazem-se presente no orgulho insuperável de Rosalina.

O final do livro é surpreendente e não comento-o para não arruinar a experiência de quem for ler. Vi que tem mais livros do autor sobre a mesma história, certamente irei lê-los. Um dos livros mais bem escritos que já li!
comentários(0)comente



Thiago 11/04/2016

Quando os relógios param.
Autran Dourado é sem sombra de dúvidas um dos maiores estilistas de nossa língua, e mesmo tendo sido reconhecido em vida, com a premiação do "prêmio Camões", "jabuti" e com toda a sua reeditada pela editora Rocco, ele é ainda muito pouco lido, é praticamente um ilustre desconhecido, e "ópera dos mortos", é um dos romances mais importantes, ao lado de "sinos da agonia" e "uma vida em segredo". A trama da obra se resume a chegada de Juca passarinho ao sobrado, depois de uma longa caminhada pelo sertão mineiro, pulando de emprego em emprego como um vagamundo, Quiquina a preta-velha e muda o recebe, quando ele pede um copo d'água, e depois ele pergunta se não precisam de alguém para trabalhar no sobrado como biscateiro, ele recebe o silêncio como resposta, e Quiquina fecha a porta, e quando ele ia embora ouve a voz de Rosalina, que o chama e o convida a trabalhar na velha casa.Por um tempo a vida transcorre tranquilamente, Juca passarinho se mostra um trabalhador diligente cuidando da horta, picando lenha e afugentando os moleques que roubam frutas e jogam pedras nas janelas e perturbam a vida das moradoras do sobrado, Mas Rosalina e Juca Passarinho começam a se envolver num misto de asco e desejo carnal violento, e com essa dicotomia acaba levando-os um fim trágico, e assim parando o último relógio do sobrado.
A trama é recheada de rememorações dos antepassados e da vida dos personagens antes e durante a chegada de Juca ao sobrado, e é narrado com muitos fluxos de pensamentos, as vezes dificultando para saber quem está narrando a história, ou se determinado fato realmente ocorreu, ou se foi somente um vislumbre do narrador.
comentários(0)comente



Deghety 14/03/2017

Ópera dos Mortos
Ópera dos Mortos - Autran Dourado,  escritor mineiro.

Confesso que nunca tinha ouvido falar de Autran Dourado, isso mostra, baseando-se em mim, o quanto desconhecemos de nossa própria literatura.
Em Ópera dos Mortos toda uma cidadezinha numa região mineira é regida direta e indiretamente pelas memórias e imponência da tradicional família Honório Cota. Desde o Temido Lucas Procópio, passando pelo admirado João Capistrano e chegando na reclusa e misteriosa Rosalina.
 A história se passa quase toda em torno do que acontece no imponente sobrado da família Honório Cota, sobretudo nas mudanças do modo de vida de suas gerações em relação aos habitantes da cidade.
A obra toma corpo quando entra em cena Juca Passarinho, um andante, metido a caçador e contador de histórias, que consegue trabalho no sobrado onde até então viviam a isolada Rosalina e sua empregada Quiquina.
 Cultural, poética, reflexiva e bem humorada, essa obra é sensacional, ainda mais quando se trata de personagens que carregam a acentuada identidade mineira.
"Pensa num livrim bão, sô.
Se gostô, leia,  uai"
rsrs desculpem, parei.
comentários(0)comente



Lilly.Elli 20/05/2020

A primeira vez que li, esse livro me causou náuseas. É bastante interessante a forma que o autor passa os sentimentos dos personagens, hora causa aflição e a outro momento dúvida. É um livro que vale a pena ser lido mais de uma vez , a releitura mostra fatos muito interessantes sobre ele.
comentários(0)comente



Rafael1906 19/03/2023

A hereditariedade das relações.
Autran Dourado nos apresenta um romance impactante, surpreendente e triste, com personagens enigmáticos, que carregaram seus próprios dramas, defeitos e ruindades. Ninguém escapa do fator humano nesse livro. Todos são bons, todos são ruins, todos devem alguma coisa e a vida bem cobrar durante esse percurso.
Rosalina é uma "senhora de sociedade" que vive isolada em seu casarão velho desde que os pais morreram. Ela tem como companhia uma ama que a criou desde criança, e que não fala, mas escuta. Tudo caminha nesse marasmo até o surgimento de um homem que vai mudar a vidas delas e do casarão. Ele também possui seus segredos e vaidades. O livro é excelente e vale cada página. As reflexões acerca da morte e da vida são um ganho extra. Uma leitura essencial.
comentários(0)comente



Aline 01/05/2023

Ópera dos Mortos
Uma obra intensa, dramática e trágica, três gerações ligadas pelo sangue, ao mesmo tempo que há rupturas temporais e contextuais, há fortemente a marca da herança e a presença de um ciclo vital que prevalece às características familiares. O leitor sofre junto com cada personagem, a história cresce, no entanto com manutenção de algumas tradições e fidelidade à solidão. A figura de Quiquina enraizada à representação do silêncio pessoal, social, histórico, físico e emocional, assim como a solidão requerida e vivida por cada personagem, e por objetos como os relógios e pelo próprio sobrado, nos apresentam a decadência de uma família inerte na história construída por fatos lineares e ao mesmo tempo divergentes, onde as tentativas de rupturas e de mudanças são direcionadas para um único caminho. Uma verdadeira obra de arte, que faz jus ao título. Um ópera brasileira em formato literário.
Alê | @alexandrejjr 14/09/2023minha estante
Que resenha sucinta e bonita, Aline! Parabéns!




Mariana 02/08/2023

Jamais poderei falar que a escrita não é boa, ou que a história não é excelente e bem pensada, porém, eu não me apeguei a história e não curti a escrita, obviamente entendo a importância e tá tudo bem não gostar de um livro tão aclamado! mas, estaria mentindo se falasse que foi um dos melhores livros que já li...
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Trindade 25/01/2024

Uma casa em decadência
O jeitinho mineiro em prosa resume bem esse livro.

A ópera dos mortos destaca a trajetória de Rosalina, criada em isolamento devido à repulsa paterna por uma traição política. Ignorando os conterrâneos, a filha do coronel vê sua vida transformada com a chegada de um forasteiro. O encanto do livro reside na cativante diversidade de pensamentos dos personagens, proporcionando uma narrativa envolvente e divertida.
comentários(0)comente



Sayonara 22/10/2023

Ópera dos Mortos
Este romance de Autran Dourado remete automaticamente à atmosfera do realismo mágico latino-americano. Através da história de Rosalina, Juca Passarinho e Quinquina, refletimos sobre a passagem do tempo, destino e laços familiares.
comentários(0)comente



Suellen144 04/01/2024

Quem é Autran Dourado?
Nunca tinha ouvido falar de Autran Dourado, muito menos lido uma de suas obras. É estranho como um autor tão grandioso esteja, atualmente, na obscuridade.

Sobre o Ópera dos Mortos: um livro lindo, cheio de significado em todos os cantinhos da obra. O amor, o ódio, a arrogância e, principalmente, o rancor, são fortemente trabalhados nessa história.
comentários(0)comente



59 encontrados | exibindo 31 a 46
1 | 2 | 3 | 4


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR