spoiler visualizarEder 08/05/2014
O Temor do Sábio - Patrick Rothfuss
Não considero O Nome do Vento, primeiro volume da trilogia A Crônica do Matador do Rei, uma obra prima, mas admito que gostei bastante do livro, principalmente em minha releitura (realizada um pouco antes da leitura de O Temor do Sábio). Estava muito empolgado para este segundo volume. Infelizmente, O Temor do Sábio, se tornou para mim, uma das maiores decepções que algum dia já tive na literatura. Talvez a expectativa tenha sido muito alta, mas credito este meu desgosto, sobretudo, ao protagonista e sua soberba exacerbada durante o livro todo.
Para mim, os problemas de O Nome do Vento começam quando Kvothe inicia sua narrativa sobre sua passagem na Universidade: suas dificuldades financeiras, suas brigas com Ambrose e principalmente seu romance platônico com Denna. Estas partes, além de cansativas, não agregam em quase nada para a história principal. Mas o livro tinha lá seus méritos. As lendas, inseridas na história, a infância de Kvothe e o Chandriano soavam a mim, como um novo sopro para a literatura fantástica. Porém, de tudo de bom que Rothfuss poderia aproveitar para um segundo volume da série, ele optou pelo pior.
O primeiro terço do livro é todo dedicado à arenga universitária de Kvothe e tudo o que me irritou em O Nome do Vento. Além de extensas exposições sobre a música dedilhada por ele, que encanta plateias e as deixam de queixo caído, exclamações, por parte de todas as mulheres daquele universo, de como nosso herói ruivo é lindo e encantador, etc... Tudo isso, narrado em primeira pessoa, pelo próprio Kvothe.Como se não bastasse, Denna está de volta, fazendo com que nosso protagonista se transforme num garoto estúpido, capaz de qualquer bobagem para agradar a prostitutazinha – a tentativa inicial em recuperar o anel é uma demonstração ridícula de tolice. Denna, em minha opinião, é um dos personagens mais aborrecedores da série. Toda vez que ela aparecia em cena, eu tinha vontade de abandonar o livro. Os diálogos entre os dois me causavam constrangimento, de tão ridículos. Tenho certeza que estas trezentas páginas não precisavam ser incluídas neste volume, já que, basicamente, são ecos do final de O Nome do Vento.
As coisas aparentam melhorar quando Kvothe sai da universidade e vai trabalhar a serviço do maer de Vintas, um homem com poderes e riqueza equivalentes a um rei. Infelizmente, Rothfuss arrasta Denna junto, o que é mau. Apesar disso é uma mudança abrupta e interessante, já que vínhamos enfrentando o enfado incessante da Universidade e de repente tudo muda. Novos personagens, novos cenários, novas tramas, etc. Mas inacreditavelmente, o autor conseguiu me decepcionar um pouco mais. Não consigo acreditar que um homem adulto, com a posição comparada a um rei, precisasse de um garoto, de 16 anos e virgem, para cortejar uma mulher. Como se não bastasse, ao invés de focar a narrativa na promissora trama envolvendo o arcanista do Maer, Rothfuss nos brinda com várias páginas sobre a capacidade de Kvothe para criar poemas e músicas.
Na sequencia, sem muitas explicações, o maer envia Kvothe (com 16 anos, lembrando) para combater bandidos que estão fazendo assaltos nas estradas do rei. Finalmente há o desenrolar de alguma ação e diminui a enrolação. Infelizmente, esta passagem é curta e logo chegamos à já anunciada no primeiro volume, Feluriana – uma mistura de dríade, fada e sereia. Esta é a pior parte do livro. É péssimo. Vergonhoso, na verdade. Pouco ou quase nada relevante acontece, mas temos que ler quão linda era Feluriana, quão bom era o sexo com ela, quão encantada ela ficou com as habilidades sexuais de Kvothe (Que tinha 16. E era virgem.), mais diálogos imbecis, mais música, mais enrolação... E o modo como Kvothe ludibria Feluriana para escapar é tão cômico, que nem vale a pena mencionar.
Depois disso, o livro não pode mais ser salvo e pouca coisa merece nota. Kvothe vai até as terras ademrianas realizar uma espécie de treinamento ninja, para aprender a lutar como aquele povo, onde, pelo menos ficamos sabendo que existe alguma coisa no qual Kvothe não é o melhor do mundo. Acaba não se dando muito bem com a população local e vai embora. No caminho, encontra uma falsa trupe Ruh que estava abusando de duas garotinhas, e massacra todos os seus integrantes, para salvá-las. Volta a Vintas, onde o maer o dispensa e ele retorna à Universidade.
Acredito que teria aproveitado melhor a obra caso Rothfuss tivesse contado esta mesma história em umas 500 páginas aproximadamente e se tivesse cortado a parte da Feluriana. Afinal, esta não é uma história ruim, é apenas uma história mal conduzida. Tanto que conheço muitos que leram e gostaram deste volume. Mas existe uma queda de qualidade, entre O Nome do Vento e O Temor do Sábio, enorme. Para o próximo volume, espero que Rothfuss contrate um editor competente.Ou só contrate um editor.
P. S.: Até agora não acredito que li que Kvothe chutou o urinol do Ambrose numa demonstração ridícula de rabugice infantil. E pensar que Rothfuss dedica uma única página para descrever a viagem de Kvothe até Vintas, na qual seu navio naufraga, ele é roubado e quase morre...