Ana Luiza 20/05/2014
Presas e muito sangue no Turno da Noite
Patrícia, Alexandre, Raul e Bruno são jovens vampiros que estão completamente perdidos. Eles são sobreviventes do agora destruído bando de Sétimo, um vampiro poderoso que chacoalhou o Brasil ao tentar dominá-lo, mas que foi derrotado. Nenhum dos quatro está muito animado com a ideia de serem vampiros, matar ainda é algo abominável para eles, entretanto, a fome, a sede, é muito grande, o que os deixa vulneráveis a proposta de Ignácio, um vampiro antigo e poderoso que os convida a fazer parte do Turno da Noite na Agência Jugular.
Além de um bom retorno financeiro, Ignácio oferece aos jovens a oportunidade de se alimentarem sem serem detectados ou mesmo tirar vida inocentes. Os alvos da Agência Jugular são traficantes, assassinos e todo tipo de pessoa torpe que alguém quer que desapareça. Aparentemente é tudo muito simples, Patrícia, Alexandre, Raul e Bruno matarão pessoas cuja falta deixarão a sociedade um lugar um pouco melhor ao mesmo tempo em que se alimentarão. Entretanto, nada é descomplicado com Ignácio. O ancião é poderoso e tem métodos e objetivos questionáveis. Logo Patrícia, Alexandre, Raul e Bruno percebem que há mais em jogo do que eles imaginam, mas será que o Turno da Noite será persuadido pela nova vida de luxos e prazeres e silenciado por Ignácio, ou esse jovens são mais forte do que todos, inclusive eles mesmo, imaginam?
“- Por isso nos chama de malditos. De desgraçados. Ser vampiro não é um passeio no parque. Viver essa vida eterna é castigo, não é prêmio. – disse Patrícia, com a voz apagada. – Estamos afundando e nos degradando... temo que em breve nosso caminho não terá volta.” Pág. 226
Mas Patrícia, Alexandre, Raul e Bruno não são os únicos jovens cercados de dúvidas, medo, perigos e sede por sangue. Leonardo e sua matilha de lobisomens-vampiros estão em fuga, com o exército em seu encalço e sedentos por dar um fim a todos os envolvidos com o circo que Sétimo iniciou. Marcos e Yuli são parte do bando, mas não estão tão comprometidos com o resto e certos do destino que seguem. Assim, o casal resolve separar-se dos outros lobos, o que pode ser sua salvação ou condenação.
Vampiros e lobisomens não são os únicos que procuram por respostas. Uma população aterrorizada não se cansa de criar teorias sobre o que aconteceu recentemente, mas o pesadelo está longe de acabar. O Exército brasileiro não está para brincadeiras e utiliza todos os meios para dar fim aos mortos vivos, nem que para isso tenham de admitir a existência deles. Dimitri e Tobia são uma dupla caçadora de vampiros que também não está poupando balas de prata em sua missão solitária de acabar com todos que possuem presas. Os dois estão sempre a espreita, atentos a qualquer ameaças, mas eles não são os únicos. Nas sombras escondem-se mais olhos vermelhos, sejam eles de vampiros ou lobisomens, todos com suas próprias intenções e desejo por sangue.
“Deixara-o provar um pouco... uma gota teria sido suficiente para seduzi-lo. Sabia que seria inútil lutar. Se quisesse viver tinha de comer... comer, para um vampiro, significava matar.” Pág. 154
“Os Filhos de Sétimo” é o primeiro volume da trilogia “O Turno da Noite”, que dá continuidade as histórias de outros livros do André Vianco: “Os Sete” e “Sétimo”. Apesar de trazer personagens e muitas referências (leia-se spoilers) dos outros livros, “Os Filhos de Sétimo” pode ser lido perfeitamente para quem, como eu, não leu as obras que o antecedem.
Tinha boas expectativas para “Os Filhos de Sétimo” que não foram totalmente cumpridas, mas tampouco decepcionadas. O grande número de personagens e tramas paralelas deixaram a trama confusão, queria que o autor tivesse se mantido apenas na história principal, dos jovens vampiros do Turno da Noite. Apesar da narrativa em terceira pessoa de Vianco ter me conquistado, ela é muito envolvente e intriga o leitor na medida certa, não gostei da linguagem simples empregada pelo autor, especialmente nas falas dos personagens, que imita perfeitamente o nosso falar. Entretanto, o falar “brasileiro” dos personagens se adequa perfeitamente na história que é inteiramente “verde e amarela”. Foi muito bem ler uma obra nacional com vampiros que não nega a nossa cultura e sim a reforça com um retrato fiel dos costumes brasileiros, isso tudo sem perder o caráter sombrio que uma história sobrenatural deve ter. A trama é bem construída e amarrada, mas, pelo menos para mim, foi óbvia em muitos momentos, com situações clichês e suspense barato.
Vianco traz personagens que conquistam, mas também assustam, apesar de não surpreender. Embora tenham questionamentos morais, na hora do “vamos ver”, nem vampiros nem lobisomens, muito menos humanos, deixam de lado seu instinto e não pensam muito antes de matar. Os personagens são todos muito convincentes, além de sedutores, como uma história desse estilo demanda ser. Patrícia foi a minha favorita. Inteligente, a jovem vampira não cai tão fácil na lábia de Ignácio, outro personagem que adorei. O vampiro antigo é sombrio e misterioso, do tipo que deixa o leitor alerta, já que nunca sabemos o que ela fará a seguir.
A edição estava boa, apesar de que as páginas brancas não ajudam nem um pouco a deixar a leitura mais rápida. A diagramação, apesar de simples, estava adequada, e os únicos erros que encontrei foram palavras separadas apesar de estarem em uma mesma linha. O tipo e tamanho da fonte estavam ótimos, as letras um pouco maiores foram ótimas para essa leitora que se recusa a usar óculos, apesar de precisar. Gosto da capa, que, apesar de não ser bonita, combina com a trama e prefiro ela a versão mais recente.
“Os Filhos de Sétimo” é uma obra sobrenatural que, diferente da maioria, não nega as mitologias e obras clássicas do estilo. Aqui vampiros queimam no sol, lobisomens se transformam na lua cheia e ambos são feridos por prata. “Os Filhos de Sétimo” é um livro bem à lá “Drácula” (resenha aqui), com mortes a perder de vista e vampiros à moda antiga, tanto que falta escorrer sangue das páginas. É uma obra que definitivamente agrada os fãs do sobrenatural, que procuram uma história sombria e sanguinolenta que faz até os mais corajosos olhar de baixo da cama antes do dormir.
“Os Filhos de Sétimo” não foi a excelente leitura que esperava, mas acabou sendo um bom livro, que me deixou sedenta pelo resto da Trilogia “O Turno da Noite” e por outras obras do Vianco.
“A vampira entrou em transe. Mergulhou no sono dos malditos. Várias inseguranças consumindo o pensamento, apenas duas certezas. Primeira: Ignácio não era um samaritano, buscando salvar e confortar semelhantes desprotegidos. Segunda: O turno da noite estaca em perigo.” Pág. 229
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