Gisele Galindo 19/11/2011
Um desbravador
Começo este texto com uma confissão: esperava, sinceramente, que o livro fosse bem melhor. Claro, que levei o tempo todo em consideração que era um livro escrito por um homem. Acredite há grande diferença entre narrativas masculinas e femininas. Já aprendi a identificar isso, além de respeitá-las.
Enfim, Vianco, é daqueles escritores mais frios, práticos, nada românticos (também seria esperar demais, né? Levando em consideração o que já mencionei). Então, você, que lê isso agora, questiona: mas, e Nicolas Sparks e tantos outros? Não me refiro a eles e sim aos gêneros do fantástico, da ação. Mas, isso é para outro texto. Agora é momento de O Turno da Noite, vol1, de André Vianco.
Pois bem, a narrativa é um tanto cansativa, apesar dos trechos de ação. Existem parágrafos que duram duas páginas, acredite, fiquei pasma com isso. Perguntava-me: como assim, duas páginas de um parágrafo só nos dias de hoje, numa literatura moderna? Sério, não achei sentido nisso.
Quanto a parte técnica, foram pouquíssimos erros encontrados, pelo que me lembro. E isso é bom. Se bem que demorei lendo esse livro (partes extenuantes) e a memória pode ter apagado isso, mas... O que vale é o que ficou.
Devido ao título, sabe-se de cara quem são os personagens principais, no entanto, durante a história, eles se perdem, tornam-se fracos. Somem durante várias páginas e ficam a margem de acontecimentos, bem relevantes na trama. Outros personagens (vários) surgem e tudo se perde, ou melhor, espalha-se, esparrama-se, deixando o leitor (no caso, eu) perdido em alguns pontos.
Sempre entendi que todo livro (filme, série de TV, novela...), por mais tramas entrelaçadas que tenha, precisa manter um fio de ligação, um pano de fundo, que se estenda do início ao fim, mesmo que às vezes quase inexistente, mas que está ali, sempre. Assim, mantendo uma unidade, mesmo que fantasma. O que não ocorre nesse livro em questão, como pontuei no parágrafo anterior.
O subtítulo, Os Filhos de Sétimo, em fonte garrafal na capa, maior que a do próprio título, dá a perceber o que vem, muitas referências ao livro de Sétimo. Vianco, tenta ao colocá-las, inserir explicações como óbvio intuito de ajudar o leitor que não leu o primeiro livro (sim, Sétimo pode ser considerado o livro zero do O Turno da Noite), a se situar na história. Porém, isso não ocorre sempre, o que acaba irritando um pouco, pois pensava: que droga, como isso aconteceu? Af, como posso entender direito tudo?
Não, a história não é confusa, consegue-se entender no fim das contas, mas algumas pontas acabam ficando soltas. Leve em consideração que esse é o volume 1, também relevei por isso. E é exatamente isso. Bem, bem, bem volume 1, apesar do zero, rs.
São 229 páginas de preliminares, bom, assim espero. Minhas esperanças residem no volume 3, pois creio que o dois não trará muito mais, provavelmente segue a mesma linha do 1.
Minha decepção talvez se deva as expectativas, pois o autor é famoso, um dos maiores sucessos na literatura fantástica do Brasil. Realmente esperava mais. No entanto, ainda estou ansiosa para terminar essa “trilogia” (entendeu as aspas, né? rs).
Lendo pode parecer que detestei o livro. Mas, não foi bem assim. Gostei, não muito, mas gostei. As descrições dos personagens são elaboradas e os trechos de ação, em especial um, que amei, são escritos com maestria. O maior ponto negativo é que muitas partes ficam dispersas, ou parecem estar dessa forma.
Desejo muito sucesso a Vianco, bem como a todos os escritores contemporâneos brasileiros.
Como um autor querido me disse esses dias, somos desbravadores. E é bem assim mesmo.
Ah, e torcendo pela série televisiva O Turno da Noite!!!!!! Com certeza mais uma vitória nacional vindo por aí.