Anica 07/09/2009
Leite Derramado (Chico Buarque)
Em março desse ano chegou nas livrarias o mais novo livro de Chico Buarque, chamado Leite Derramado. Sobre todo o falatório da época do lançamento, tal e qual de como achei extremamente positivo o que o Chico faz com a literatura no Brasil, eu comentei lá no Blog do Meia Palavra (http://blog.meiapalavra.com.br/2009/03/28/leite-derramado-chico-buarque/). No final das contas eu nem preciso dizer que estava curiosíssima para conferir, o que é um dos elementos que contribuiram para que eu acabasse devorando o livro.
Mas bem, não é o único elemento. Chico é um grande escritor. Mas tipo, saca Alain Prost na F1? O cara era fenomenal, um dos melhores pilotos da história. Competente, preciso, metódico. Tão frio que chegava a contrastar com o excesso de arrojo do Ayrton Senna. Ok, a comparação parece esquisita, mas vamos lá: o fato é que Leite Derramado foi um livro meio Alain Prost.
A narrativa flui perfeitamente. É gostoso de ler a história de Eulálio, acompanhá-lo nos devaneios sobre o passado como se você fosse a enfermeira com quem ele passa a maior parte do tempo conversando. Está tudo ali: algumas frases daquele tipo para anotar na agenda, parece que saiu de alguma poesia até. Aquele mistério que fica pendendo durante toda a história, prendendo sua atenção. Uma espécie de fluxo de consciência verbalizado que representa perfeitamente o pensamento caótico de alguém que já não confia mais na própria memória, mas ao mesmo tempo reconhece que as memórias são seus bens mais valiosos.
É bom. Mas. Hum. Falta qualquer coisa ali. Aquele detalhe que faz você colocar um livro numa estante à parte, pensando “Ok, agora esse cara fez algo como nenhum outro fez” – sentimento que tive com o Budapeste, por exemplo. É claro que eu não espero que o Chico só publique obras primas, entretanto eu tinha cá para mim que ele viria com qualquer outra cartada surpreendente. Porém, o mais irônico é que embora o livro não tenha me agradado tanto quanto eu esperava, talvez esse fosse o livro que eu recomendaria para um primeiro leitor do Chico experimentar. Talvez até por não se aventurar em qualquer novidade literária, o livro pode ser mais palatável para o público em geral.
E acreditem, vale a pena ler. Só talvez não com tantas expectativas.