Rafa 05/05/2017A todos que queiram ser o dobro do que já se é"É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter"
Terminei esse livro ontem e desde que li a primeira página, essa música do Vinicius não me sai da cabeça.
O "filho de mil homens" começa contando a história de um pescador chamado Crisóstomo que queria ser pai.
Solteiro, com quarenta anos e se sentindo extremamente solitário, Crisóstomo via-se como metade, carregado de ausências e silêncios.
Decide então sair em busca de um filho que acredita estar em algum lugar do mundo e ainda foi não encontrado, e acabe encontrando muito mais que isso.
Paralelamente somos apresentados aos outros personagens, que, por se tratarem de pessoas estigmatizadas e à margem da sociedade, também sentem-se solitários e indignos de serem felizes e amados.
Ao longo do livro as histórias se entrelaçam de uma maneira muito bonita, nos mostrando a transformação de cada pessoa pelo afeto e como cada um acaba "pertencendo" ao outro, que o acolhe pela livre e espontânea vontade de abraçar o próximo (outrora tão sofrido e subjugado como ele), quebrando estereótipos sobre o conceito de família e de como o amor deve ser demonstrado.
Foi meu primeiro livro do Valter Hugo Mãe e posso dizer que a experiência não poderia ter sido melhor. Um livro lindo, poético e que mostra como o amor puro pode romper barreiras e preconceitos.
Recomendo a todos aqueles que queiram se sentir o dobro do que se é.
"O Crisóstomo disse ao Camilo: todos nascemos filhos de mil pais e de mais de mil mães, e a solidão é sobretudo a incapacidade de ver qualquer pessoa como nos pertencendo, para que nos pertença de verdade e se gere um cuidado mútuo. Como se nossos mil pais e nossas mil mães coincidissem em parte, como se fôssemos por aí irmãos, irmãos uns dos outros. Somos o resultado de tanta gente, de tanta história, tão grandes sonhos que vão passando de pessoa a pessoa, que nunca estaremos sós." (pág.188)