Amanda 15/11/2014As esganadas não é um livro policial comum. Não há aquela tensão e suspense sobre quem é o assassino. Nós conhecemos o assassino. O humor neste livro é o diferencial do Jô, e que ele usa muito bem.
Caronte é filho do dono de uma famosa funerária (a Esfinge) e de uma descendente de potugueses que ama comida. Ela, por temer que seu filho fique gordo como ela, o mantem em uma rigida dieta. Quando seu pai morre e Caronte acaba herdando o negócio da família, ele decide que está na hora de matar sua mãe, e assim o faz.
Mas sua vingança não está saciada, pois em toda mulher gorda que ele vê na rua, ele vê sua mãe, e necessita matá-la novamente. Como ele faz isso? Enchendo-as de comidas portuguesas até que elas morram engasgadas.
O cenário é o Rio de Janeiro no fim dos anos 30, no Estado Novo. E grande parte do humor, para mim, deriva do quarteto inusitado que acaba ficando responsável por este caso que vem assustando a população carioca.
O delegado Mello Nogueira, do tipo ‘chefe resmungão brabo’; seu assistente Calixto, o jovem tolo; Esteves, ex-detetive em Portugal, agora dono de uma rede de restaurantes; e a jornalista Diana.
A narração do Jô foi algo diferente neste livro, ele conta a história como se fosse uma anedota, com muito humor e as vezes sarcastico, mas mantendo-se bem afastado dos personagens. Isso faz com que o leitor também não se conecte tanto a eles (pelo menos eu). E isso me fez ver o quanto a Diana é meio inútil na história, e me faz pensar se ele não a colocou no meio apenas para ter um personagem feminino mais presente. Ela é bem crua, sem nada que a faça destacar muito (como Calixto e sua ingenuidade, Mello e seu mau humor, e Esteves e sua sagacidade e habilidade de dedução).
De qualquer modo, Caronte usa seu carro funerário cheio de doces para atrair suas vítimas – que são várias. Ele utilza o carro pelo fato do modelo ter grandes portas e uma mesa que desliza para dentro e para fora (que seria para por o caixão). Faz sentido, mas eu fiquei o tempo todo pensando que isso era dar muita bandeira e chamar a atenção para ele (o que eu acabei estando certa).
Achei que demoraria bem mais para ler o livro, mas em 24 eu o li e isso me impressionou. É realmente daquelas leituras que fluem sem você ver.
Uma das coisas que mais gostei era o locutor de rádio que volta e meia está narrando sobre o caso e outros acontecimentos, e como no final há sempre uma ‘propaganda’ de um patrocinador. Essa é a minha favorita: “Esta triste notícia é uma cortesia da Matricária Dutra, a melhor para as gengivas do seu bebê. Se o bebezinho chora quando o dentinho aflora, Matricária Dutra alivia na hora”.
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