Queria Estar Lendo 13/11/2020
Resenha: O Iluminado
A minha terceira escolha para a Maratona Literária de Halloween 2020 foi O Iluminado, um clássico do Stephen King que, anos atrás, eu não tive coragem de terminar. Muito corajosa que sou, finalmente consegui - e que leitura aterrorizante que foi!
A história acompanha a família Torrance nos preparativos para viver o novo emprego do pai, Jack - tudo porque, por problemas financeiros, ele escolheu ser zelador em um hotel durante o recesso de inverno, quando a neve bloqueia estradas e transforma aquele lugar em um ponto inacessível por semanas.
Wendy e Danny, sua esposa e filho, vão acompanhá-lo no que deveria ser um período de férias e diversão solitária. Mas, por causa do dom iluminado de Danny, que permite que ele veja e ouça e entenda coisas além da compreensão normal, a família descobre que o hotel tem uma história macabra e viva e pronta para afetá-los até a morte.
O Iluminado está entre uma das histórias que mais me aterrorizou na vida - e não, não estou falando daquela atrocidade que é o filme. Uns anos atrás, eu tentei ler e não passei da primeira cena com os arbustos porque, francamente, sou cardíaca.
"Este lugar desumano cria monstros humanos."
E o que o Stephen King tem em dom para escrever terror é quase sobrenatural. Ele te dá umas fisgadas no emocional com descrições macabras, acontecimentos estranhos, olhares por cima do ombro e perseguições em corredores sem fim; ele coloca personagens em quartos assombrados com portas trancadas e te faz implorar pra acabar logo pelo amor dos céus!
E, como sempre, seus personagens são os pontos mais bem trabalhados e bem desenvolvidos dentro da obra. Todo mundo sempre lembra de O Iluminado pela icônica cena do Jack Nicholson com a cabeça na porta gritando "Here's Johnny" (e é a única que eu salvo daquele filme), mas a minha maior tristeza com o filme é o quanto se perdeu na composição dos personagens.
"Seja lá o que REDRUM fosse, estaria ali."
A história do próprio Jack, com seu lado sombrio e o que queria melhorar, é intensa. A gente acompanha esse pai e marido que já teve rompantes de raiva por causa do alcoolismo mas que, depois de meses sem beber, parece se sentir confiante para o emprego e para dar um recomeço para a família.
O hotel, no entanto, é mau. E desperta em Jack seu pior lado; a tensão que nasce com a chegada deles naqueles confins do mundo até o mundo em que a primeira nevasca cai, sentenciando os três ao hotel e suas estranhezas, é de arrepiar a alma.
Enquanto Jack vive embates silenciosos e então gritantes dentro da sua personalidade explosiva e das ínfimas tentativas de contê-la, Wendy, a mãe amorosa e cuidadosa que só quer encontrar nesse recomeço um motivo para seguir em frente com o marido, vive seu pior pesadelo dentro das paredes do hotel.
Eu gostei muito do desenvolvimento dela e como ela é uma mulher frágil e amedrontada, mas disposta a fazer tudo para proteger o filho.
Danny, por sua vez, é o ponto principal da narrativa e para onde tudo converge. Seja a montanha-russa que Jack está vivendo, a dedicação de Wendy ou mesmo o desejo silencioso e intrínseco do hotel de alcançá-lo; porque a coisa má que vive entre aquelas paredes está atrás do garotinho e, quanto mais perto chega, maior o desespero.
Eu preciso dizer que a cena com o Danny no parquinho e a cena do elevador me fizeram tremer na base como nenhum outro livro conseguiu. O King sabe como perturbar; ele sabe como entrar na sua cabeça e te colocar nos corredores do hotel. Ele te faz sentir o que os personagens estão sentindo, e por isso o terror funciona tão bem.
O Sr. Hallorann, chef do hotel, outro Iluminado que passa pelo caminho de Danny antes de fecharem tudo e deixarem a família à própria sorte, é outro personagem muito importante para a história. Não só pelo que ensina a Danny a respeito do dom que eles têm como também por sua participação em determinado ponto da trama.
É necessário pontuar que, sendo uma publicação de 1977, não é um livro tão sensível quanto deveria - especialmente em relação ao Hallorann, um homem negro, e alguns comentários sexistas que aparecem no decorrer da trama. Eu não achei tão problemático quanto poderia ter sido, mas têm trechos e descrições que poderiam ter passado por uma correção mais sensível.
"- Todo grande hotel tem seus escândalos. Assim como todo grande hotel tem um fantasma."
Essa edição da Biblioteca Stephen King é absolutamente TUDO para mim. Não apenas pela tradução e pela diagramação ótimas, mas também pelo acabamento primoroso, arte e tudo mais que enchem os olhos. E de bônus ainda apresenta uma espécie de 'antes e depois' do hotel - antes da família Torrance e depois dela.
De resto, é um livro com todo o terror que você pode pedir de um hotel assombrado. Tem um começo lento, como em toda obra do King, mas a partir do momento em que os personagens pisam no Overlook, você pode ter certeza de que vai perder o sono e a tranquilidade junto com eles.
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