No caminho de Swann

No caminho de Swann Marcel Proust




Resenhas - No Caminho de Swann


101 encontrados | exibindo 61 a 76
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Eduardo 13/02/2017

Um monumento que muda a vida.
comentários(0)comente



Ferreirinha 30/11/2016

Detalhista
Posso dizer que metade do livro me prendeu. A parte obsessiva de swan me chamou atenção mas o restante achei arrastado.
comentários(0)comente



IGuittis 22/11/2016

Complicado
Eu achei esse livro complicado, a leitura dele é muito arrastada, e tem partes que parecem que nunca terão fim. Mas após terminar a leitura eu consegui entender porque todos acham que essa deve ser lida. Para mim a história traz muito mais do que parece.
Com certeza quero continuar a ler os outros livros.
comentários(0)comente



spoiler visualizar
De 01/02/2017minha estante
Sua avaliação é bastante detalhista. Muito significativa suas colocações. Parabéns!!




Júlio 23/08/2016

Esse volume é divido em três partes, sendo que a terceira parte toma apenas um décimo do livro. A primeira começa por nos situar na vida do narrador, e dá um amplo panorama de sua infância e das pessoas que o cercavam. A segunda muda o foco para Charles Swann, e nos conta, com mais exatidão, seu relacionamento com Odette e o eventual declínio emocional de Swann. A terceira volta o foco para o narrador e concluí o volume reintroduzindo uma personagem apresentada no início do primeiro capítulo. Essa talvez seja forma mais simples, e menos justa, de descrever a "trama" de No Caminho de Swann.

O primeiro capítulo do livro é uma das transposições mais originais e eloquêntes do sentimento de nostalgia e da idéia de memória que eu já pude conferir na literatura. A grande beleza da escrita aqui é a capacidade de Proust descrever pessoas e cenários não de forma física, mas de forma emocional. Raramente ele se demora ao descrever como as pessoas e os locais são, mas sim como as pessoas pensam e que sentimentos esses locais trazem aos personagens, talvez a grande exceção seja descrição de cenários floridos, que o autor tem particular interesse em descrever cada espécie de flor que compõe a cena. Mesmo à respeito da idade dos personagens a clareza reside na maturidade das ações, e não na informação direta, principalmente ao que se refere à vida do narrador, pois só sabemos em que estágio da vida ele se encontra pelas descrições de suas ações, ambições e pensamentos.

Um dos melhores momentos dessa primeira parte, e uma das passagens mais famosas da literatura, é a memória involuntária causada ao narrador ao provar uma madeleine com chá, que desencadeia suas memórias de infância: "Rapidamente se me tornaram indiferentes as vicissitudes da minha vida, inofensivos os seus desastres, ilusória sua brevidade, da mesma forma como opera o amor, enchendo-me de uma essência preciosa; ou antes, essa essência não estava em mim, ela era eu". E essa musicalidade, essa forma poética de descrever sensações e lembranças é que torna essa obra uma experiência tão única, isso aliado à habilidade de Proust de descrever o psicológico de seus personagens de forma tão completa e humana.

O segundo capítulo tem como personagem central Swann, e aqui o narrador, antes personagem principal, passa para segundo plano e raramente faz comentários na primeira pessoa, se tornando basicamente onisciente durante toda sua duração. Desde Tolstoy que eu não havia tido a oportunidade de encontrar personagens tão complexos como os aqui apresentados e Swann, por si só, já seria o suficiente para posicionar Proust como um grande psicanalista dentro da literatura. É incrível a apresentação de suas inseguranças, medos e ansiedades, e a forma que é descrita cada percepção que o personagem tem sobre as ações de um segundo, seja a interpretação de uma frase ou de um simples gesto facial: "Swann reconheceu imediatamente nessas palavras um desses fragmentos de um fato correto que os mentirosos em aperto se consolam em fazer entrar na narração de fatos falsos que eles inventam, julgando que assim têm alguma vantagem e furtam sua semelhança à Verdade".

As cenas em que uma associação feita entre o amor que Swann sente por Odette e uma sonata foram um dos melhores momentos do livro para mim, que serve como explicação, justificativa e mesmo como medida temporal para o relacionamento com Odette. O sofrimento de Swann por uma mulher que a princípio ele não considera bela, que não compartilha suas curiosidades culturais, que leva uma vida leviana e cheia de segredos tenta ser justificado, por Swann, ao associar ela à uma sonata que, por acaso, ele "redescobre" ao lado dela.

O último capítulo introduz aquela que vem a ser o primeiro romance do narrador, Gilberte que é introduzida no primeiro capítulo do livro, mas a idéia que aqui parece ser foco é o conceito de como interpretamos os nomes das coisas. O narrador mostra como certas idéias e sentimentos ficam presas naquilo que o narrador se refere ao "refúgio dos nomes", e nos pensamentos que um nome pode desencadear na pessoa, conceito que utilizado mais para frente, quanto Gilberte pronuncia pela primeira vez o nome do narrador. Vale notar que essa pronúncia não é "ouvida" pelo leitor, somente pelo narrador, importando aqui o que esse evento põe em movimento na mente dele e não a revelação de seu nome para nós.

Esse volume já forneceria material para preencher um livro só de comentários, impossíveis de caberem em uma pequena resenha, mas resumindo é fácil dizer que é uma experiência realmente única que sem dúvidas valeu todo o tempo investido e mal posso esperar para conferir o 6 volumes restantes.
comentários(0)comente



Ricardo Rocha 03/08/2016

não é questão de memória mas de casualidade. da felicidade que chega por acaso. e das dores, por hábito. solidão, solidão, solidão. com sorte, uma madeleine.
comentários(0)comente



Karen 07/04/2016

NÃO RECOMENDO A NINGUÉM!!! O enredo promete ser bom, mas se perde em uma riqueza absurda de detalhes, que faz com que a história não se desenrole, e se é um leitor como eu , que vira e mexe já está pensando em outra coisa e se dispersa da leitura, essa característica deixa o livro chato que não te prende, a não ser quando realmente conta algo significativo para a história. No Caminho de Swann é o primeiro de 7 livros do ciclo de Em Busca do Tempo Perdido, apesar da curiosidade de saber o que acontece com os personagens, eu não tenho a mínima coragem de comprar o resto dos livros pra ler e ficar nessa enrolação de várias páginas pra contar meia dúzia de coisas interessantes.
comentários(0)comente



Patrícia 07/03/2016

Efeito Madeleine
Confesso que tive reações emocionais diversas enquanto lia. Em alguns momentos, fiquei maravilhada com a profundidade da descrição emocional dos personagens e, em outros, fiquei com uma raivinha por não estar acostumada ao ritmo de escrita do Proust. É um pouco lento (sim!), mas, pensando bem, absolutamente sensacional. Assim, vou para o segundo volume da obra me sentindo mais confortável na leitura. Fiz uma resenha abordando os aspectos sensoriais tão bem descritos pelo Proust.

site: http://bomlugarpralerumlivro.blogspot.com.br/2016/02/em-busca-do-tempo-perdido-vol-1-o.html
comentários(0)comente



Nadiny Prates 06/01/2016

📌 Falar de Em Busca do Tempo Perdido é muito complicado, nada que eu diga fará jus à magnitude e a beleza que é este livro. Há um "mito" em torno deste romance de que ele é complexo, hermético e por esse motivo as pessoas têm medo de encará-lo. Só digo uma coisa, joguem essa ideia no lixo. É um livro fácil?Não é.A narrativa do Proust é muito detalhada, minuciosa e meticulosa por vezes um pouquinho arrastada, mas não é incompreensível. É um livro que precisa de dedicação, paciência e esforço mental.A maneira como o Proust escreve é muito bonita, de deixar qualquer um maravilhado. É perceptível a preocupação do autor com arte literária o cuidado e a dedicação com que ele escreveu este romance afinal, levou quase 15 anos para finalizá-lo. Uma obra de arte.
📌 No Caminho de Swann é dividido em três partes. Na primeira intitulada Combray, deparamo-nos com as memórias da infância no Narrador que são despertadas pelas "madeleines" ( é uma espécie de bolinho, e quando o protagonista o mergulha no chá tem a suas memórias despertadas de forma involuntária).Na segunda parte chamada Um Amor de Swann conhecemos a história de Charles Swann (conhecido da família do Narrador) e sua paixão fulminante pela Odette de Crécy. Neste momento o ritmo da narrativa cai um pouco, se torna repetitiva e cansativa.A obsessão e o ciúme do Swann pela Odette é de dar nos nervos.Mas o finalzinho desta segunda parte é simplesmente arrebatadora (só lendo para saber). Na terceira e última parte retomamos as memórias do Narrador e conhecemos a história do seu primeiro amor, pela jovem Gilberte.
📌 Enfim, Em Busca do Tempo Perdido vale muito a pena ser lido. Tomamos conhecimento não somente da alta sociedade francesa do início do século passado,mas o interior dos personagens com seus ciúmes, amores e desilusões.Sentimentos que nem o tempo é capaz de extinguir.Muito humanos, muito nós!
comentários(0)comente



Sanoli 04/11/2015

Em uma frase...
Reflete a tecnologia da época!
Leia nossa resenha, acesse nosso blog.

site: http://surteipostei.blogspot.com.br/2015/11/em-busca-do-tempo-perdido-obra-completa.html
comentários(0)comente



Renato 13/09/2015

Trinta anos depois
"Em busca do tempo perdido" aos dezoito anos foi muito mais uma aventura. Uma espécie de dizer para mim mesmo e para os outros "Já li". Perverso para os clássicos. Contribuiu para erigir uma "base" por um lado, mas foi um desperdício, por outro. Ninguém nunca se importou com o que eu estava lendo, fora eu mesmo. Quantos Tolstois, Dostoievskis, Guimarães Rosas e Graciliano Ramos não foram desperdiçados, gerando uma preguiça tardia de releitura, afinal, eu já li.

Com Proust, a minha curiosidade se reacendeu. Graças à leitura de autores novos, frequentemente comparados ao inovador francês, autores que buscaram o detalhe da memória em seus extensos romances semibiográficos. Tomei a coragem de pegar Proust, de novo, e registrar rapidamente uma leitura mais madura, confrontando com a vontade que um adolescente tinha de se tornar um adulto.

Eu poderia falar do estilo de Proust, de sua linguagem, de seu detalhismo. A importância histórica de seus livros. Sobre a memória e o papel do universo interior na fabricação da realidade. Falar com outras frases as mesmas palavras que já foram ditas, por críticos, estudiosos e acadêmicos, em teses, artigos e entrevistas. Eu poderia me parecer tão inteligente quanto aquilo que eu queria ser aos dezoito anos, mas vou me resumir para escrever sobre a minha leitura. Nunca antes ler foi um processo tão pessoal.

Quando me emociono sobre as páginas agora eletrônicas de "Em busca do tempo perdido", me aproximo mais daquilo que enxergo que foram estes trinta anos entre as leituras. Não sei se um livro como "No caminho de Swann", ou "A morte do pai", de Knausgard, ou "A amiga genial", de Elena Ferrante podem ser captados em toda a sua extensão por alguém que tem dezoito anos. Não porque lhe falte cultura ou capacidade de discernimento. Há algo na literatura que está na identidade entre o escritor e o leitor, e este algo é algo que não pode ser aprendido, mas vivenciado. O que há de mais em comum em todos estes "clássicos" ou novos, insistentemente classificados como "iguais", cada um com sua dimensão de grandeza, é a maturidade. Proust, Knausgard e Ferrante contam suas memórias, nunca através de lembranças puras. Escondem nas entrelinhas segredos que todos entendemos, ainda que sem palavras, nas perdas e conflitos que a vida nos oferece no lugar de sonhos. Uma vida que é construída sobre fatos, ou aquilo que que fazemos com eles. Nos diz Proust:

"E acaso não era também meu pensamento um refúgio em cujo fundo me sentia oculto, até mesmo para olhar o que se passava fora? Quando via um objeto exterior, a consciência de que o estava vendo permanecia entre mim e ele, debruava-o de uma tênue orla espiritual que me impedia de jamais tocar diretamente sua matéria; esta como que se volatilizava antes que eu estabelecesse contato com ela, da mesma forma que um corpo incandescente, ao aproximar-se de um objeto molhado, não toca sua umidade, porque se faz sempre preceder de uma zona de evaporação. Na espécie de tela colorida de diferentes estados, que minha consciência ia desenrolando simultaneamente enquanto eu lia e que iam desde as aspirações mais profundamente ocultas em mim mesmo até a visão puramente exterior do horizonte que tinha ante os olhos, o que havia de principal, de mais íntimo em mim, o leme em incessante movimento que governava o resto, era minha crença na riqueza filosófica, na beleza do livro que estava lendo, qualquer que fosse esse livro."

É muito difícil para um adolescente ler "A morte do pai" e não ficar com raiva da violência e da quase crueldade do pai. A lembrança crua nos passa a impressão de maldade. Mas Knausgard parece nos dizer outra coisa. Mais do que perdoar, ele compreende o pai. Ele relata um homem que ama sua família, mas que em um dado momento decide abdicar de tudo por causa de sua própria infelicidade. Poupa sua família de seu sofrimento e de sua degradação. Enfim, o pai decide, em nome da infelicidade, buscar terminar sua existência através de uma vida de prazeres, alegrias efêmeras que nada mais são do que ruídos gerados para calar a sonoridade interior de suas frustrações. O pai de Knausgard não vê sentido, e de certa forma protege sua família poupando-os de seu sofrimento. Não seria esta uma forma de amor? Como entender um afeto tão destrutivo em plena adolescência?

Ferrante é igualmente rica. A inveja, a sociedade que olha para os outros continuamente é o principal mote de "A amiga genial". Tão íntima e memorialista quanto o francês e o norueguês. Mais uma vez, no meio de tantos conflitos e violências, sem vivência e sem o desprazer da realidade é difícil compreender a diferença entre cobiça e inveja. A relação entre Elena e sua amiga Lila é fabulosa. Uma está sempre olhando a outra, cobiçando seu sucesso, sentindo-se infeliz a cada passo para frente da outra. Ao invés de seus vizinhos, que olham para os outros mirando toda sua fúria e seu ímpeto de destruição, a inveja natural do ser humano, Elena e Lila fazem da diferença um motor para crescimento. Elas carregam um amor entre elas que é imbatível, somente uma consegue enxergar seu fracasso como chance de se espelhar na outra, uma relação que dificilmente conseguirão repetir com outras pessoas.

Proust é igualmente destinado aos mais vividos. Não é imediato e dificilmente consegue ser absorvido numa leitura em frente à televisão.
"No caminho de Swann" precisa seduzir o leitor de hoje com muito mais esforço do que seus seguidores atuais, graças à sua linguagem rebuscada, musical, que lentifica a leitura do leitor acostumado ao volume e à velocidade. Aos fatos marcantes e imediatamente consequentes. Seu detalhamento de memória não vai ao fundo da intimidade, fora dos limites da privacidade consensuada. Ferrante e Knausgard, ao contrário, não nos poupam da sexualidade, da escatologia e do irrelevante que ocupam grande parte daquilo que nos faz humanos. Nossos olhos de hoje estão mais voltados para esta crueza do que para o rebuscamento da linguagem, que nos diz o mesmo, sem as palavras.

Proust não é somente um cronista da burguesia francesa. Se assim o fosse, seria somente uma releitura de Balzac. Em seu pensamento, fruto de um final de século em que a objetividade e a concretude foram demolidos, ele afirma a dubiedade dos nossos conceitos:

"Mas nem mesmo com referência às mais insignificantes coisas da vida somos nós um todo materialmente constituído, idêntico para toda a gente e de que cada qual não tem mais do que tomar conhecimento, como se se tratasse de um livro de contas ou de um testamento; nossa personalidade social é uma criação do pensamento alheio. Até o ato tão simples a que chamamos “ver uma pessoa conhecida” é em parte um ato intelectual. Enchemos a aparência física do ser que estamos vendo com todas as noções que temos a seu respeito; e, para o aspecto total que dele nos representamos, certamente contribuem essas noções com a maior parte."

Proust entra menos na intimidade e na sexualidade, assuntos que iriam ganhar maior visibilidade nos anos subsequentes, graças às interpretações mais fieis ou mais dogmaticas, quando não planas, das ideias de Freud. Muito de seu memorável "No caminho de Swann" gira em torno de uma discussão platônica, sua caverna. O quanto há no mundo de concreto e de construído pela nossa subjetividade. Proust consegue transformar suas digressões, seus quase-ensaios em expressões musicais, perfeitamente harmonizadas com o restante do texto.

É neste contexto que se percebe claramente que "Em busca do tempo perdido", em outro plano, não é um romance autobiográfico. É autoficção e ensaio, neste ponto, fundador de uma das várias modernidades. Seu personagem principal é a memória, ou o indivíduo dela nascido. Mergulhemos no seu texto.

"Chegará até a superfície de minha clara consciência essa recordação, esse instante antigo que a atração de um instante idêntico veio de tão longe solicitar, remover, levantar no mais profundo de mim mesmo? Não sei. Agora não sinto mais nada, parou, tornou a descer talvez; quem sabe se jamais voltará a subir do fundo de sua noite? Dez vezes tenho de recomeçar, inclinar-me em sua busca. E, de cada vez, a covardia que nos afasta de todo trabalho difícil, de toda obra importante, aconselhou-me a deixar daquilo, a tomar meu chá pensando simplesmente em meus cuidados de hoje, em meus desejos de amanhã, que se deixam ruminar sem esforço."

"Acho muito razoável a crença céltica de que as almas daqueles a quem perdemos se acham cativas em algum ser inferior, em um animal, um vegetal, uma coisa inanimada, efetivamente perdidas para nós até o dia, que para muitos nunca chega, em que nos sucede passar por perto da árvore, entrar na posse do objeto que lhe serve de prisão. Então elas palpitam, nos chamam, e, logo que as reconhecemos, está quebrado o encanto. Libertadas por nós, venceram a morte e voltam a viver conosco."

Eu gostaria de compreender se um jovem consegue apreender a dinâmica que existe entre a perda e a memória. Na juventude, estamos abertos, buscamos experiências. Desejamos a novidade e a vida do estranho. A maturidade nos traz os fantasmas, vivemos as lembranças que nos assombram feito espectros. Será que o leitor acostumado à velocidade consegue sentir o peso da história? Que se deixa tomar pelo vazio que se esconde por trás das descrições tão extensas? Para aqueles que já viveram algo mais do que o sopro frugal das manhãs de verão, os textos de Proust soam como viscerais:

"Mas quando mais nada subsiste de um passado remoto, após a morte das criaturas e a destruição das coisas, sozinhos, mais frágeis porém mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fiéis, o odor e o sabor permanecem ainda por muito tempo, como almas, lembrando, aguardando, esperando, sobre as ruínas de tudo o mais, e suportando sem ceder, em sua gotícula impalpável, o edifício imenso da recordação."

O que mais imediatamente se diz a respeito de "Em busca do tempo perdido" é que o(s) livro(s) circula(m) em torno de uma crítica à burguesia, à classe média francesa. Não deixa de ser. Num plano superficial de uma leitura imatura, certamente é. Não vamos esquecer que tanto Proust, como a maioria de seus leitores,inclusive eu, fazemos parte desta burguesia, e à parte nossas mesquinharias, narcisismos e o próprio sentido do hedonismo em nossa existência, somos nós que movemos a arte com seu consumo e seu elogio. A arte faz parte da burguesia e de sua história, sem a burguesia a arte continuaria confinada à Igreja e aos salões de um poucos nobres. Sem vivência, tudo parece muito óbvio e imediato. O mundo não é obrigado a se conformar às nossas ideias. "Em busca do tempo perdido" traz algo mais, quando trazemos uma identidade com aquilo que está escrito ao redor de suas palavras.

Além disto tudo, aos dezoito anos enxergava sua cronologia como um quebra cabeças. Nada disto. Como retrato de nosso próprio pensamento, somos uma frase feita por lembranças coladas como cacos de vidro, aparentemente sem ordem. "Em busca do tempo perdido" traz um fluxo de pensamentos e um ordenamento do tempo que não são o de uma história sequencial, mas da intimidade, da nossa vida como a construímos. Por importância e associação, com a forma da realidade e as cores da lembrança. Esta é a memória de Proust,irreal, sem tempo ou sequência, determinada pelos seus sentimentos, pela sua saudade. Quando fala de sua mãe, toda leveza e flutuação é aparente, reina em Proust a falta, a sensação do tempo perdido, eternamente, que retorna meio sonho, transformando o passado naquilo que é mais que uma fantasia, é a própria identidade. "Na verdade, poderia responder, a quem me perguntasse, que Combray compreendia outras coisas mais e existia em outras horas. Mas como o que eu então recordasse me seria fornecido unicamente pela memória voluntária, a memória da inteligência, e como as informações que ela nos dá sobre o passado não conservam nada deste, nunca me teria lembrado de pensar no restante de Combray. Na verdade, tudo isso estava morto para mim. Morto para sempre? Era possível."

Aos dezoito anos, alguns trechos, não poucos, me passaram em branco, como se fossem somente um elemento decorativo de seu estilo. Não eram.
Não tenho dúvida que minha leitura de hoje foi diferente daquela de trinta anos atrás. Não me arrependo, compreendi o livro à luz da minha maturidade. Nada mais Proustiano. Se não apreendi o todo, a leitura me fez mais seguro, recheou minhas lembranças e de certa forma fez com que eu me deslocasse. Não há arrependimento, tive tempo de sobra para recuperar as perdas.

site: http://grinbaum.wix.com/leitorinsuportavel
Nanci 13/09/2015minha estante
Parabéns Renato, pelo belíssimo depoimento.


Renato 14/09/2015minha estante
Não dá para escrever mais sobre Proust do que já foi dito. Seria muito pretensioso. Só resta ser pessoal. Obrigado pelo comentário.




DIRCE 18/08/2015

SOBREVIVI.
Seria muita pretensão da minha parte esboçar qualquer tipo de crítica acerca do “ No caminho de Swann” - volume I, da obra Em busca do tempo perdido’ , considerando que ele encontrava-se “perdido” na minha Estante, face o meu temor em enfrentá-lo, pois eu o via como uma espécie de trincheira intransponível, e foi graças aos comentários sedutores deixados neste site que me decidi pela leitura, portanto, vou me limitar a comentar as sensações provocadas pela leitura( o que comumente faço), e também por ser ela - as sensações deixadas pelo inexorável passar do Tempo ( no meu entendimento)- um dos fios condutores do romance.
Agora concluída a leitura do romance, constato que não fui muito imprudente em imaginá-lo como uma trincheira. De fato não é uma leitura fácil , acredito que só consegui concluí-la porque estagiei nesse tipo de leitura quando li “O Som e a Fúria do William Faulkner : a escrita não obedece uma ordem cronológica – prevalece o vai em vem do passado e presente e as personagens , lugares e cenas se “ revelam” por fluxo dos pensamentos do narrador dando-me a certeza que eu tinha uma batalha pela frente. Decidi encarar as rajadas advindas da escrita de Proust e, para a minha surpresa, a cada a página,a cada inimigo vencidos, fui recompensada generosamente por Proust. Existe algo mais compensador do que um mergulho na oportunidade de ser aprender algo? Sou ávida por aprender e a leitura do “ No Caminho de Swann” me levou até a Belle Époque da Cidade Luz permitindo-me de conhecer os hábitos, as classes sociais ( meio que um sistema de castas) e “ agitos” de então, por meio da família do narrador, do Charles Swaan e das conversações frívolas nos jantares dos Verdurin.
No meu histórico de leitura sobre a primeira parte do livro, falei sobre a DR ( discussão da relação com Proust) e sobre quão chatinho julguei o menino narrador, mas tenho que me retratar. Na terceira - última parte - do romance, o narrador deixa transparecer uma fragilidade, uma carência, uma necessidade de atenção (um tanto over, na minha opinião) por parte da jovem por quem se enamorara: Gilberta. Seria reflexo da aparente frieza da sua mamã? A Mamã não se revelou para mim como mãe amorosa, conforme parecer de alguns colegas Também Swann padeceu de amor e de ciúmes pela Dama de Cor- de -Rosa e se tornou uma espécie de Dom Casmurro,só que Swann tinha motivos de sobra para duvidar da sua amada. Padeceu de amor... Será? “ E dizer que eu estraguei anos inteiros da minha vida , que desejei a morte, que tive o meu maior amor , por uma mulher que não me agradava , que não era o meu tipo”.
Voltando ao nosso Machado, termino meu comentário tomando emprestada sua célebre frase: “ AO VENCEDOR AS BATATAS” . SOBREVIVI e, ainda que as 420 páginas do meu exemplar do “ No Caminho de Swann” , não tenham me proporcionado uma aventura prazerosa ( considero prazerosas as leituras feitas com o coração e não com a razão), fiz uma leitura extremamente desafiadora, instigante e enriquecedora. Com certeza enfrentarei as seis batalhas que restam.
oeudesalves 19/08/2015minha estante
"desafiadora, instigante e enriquecedora". Excelentes adjetivos você encontrou para sintetizar o que a leitura de um clássico representa também para mim, Dirce. Foi assim com Kafka, Dickens e Brontë (até o momento) e considero que esse tipo de texto, sobretudo, nos ensina a respirar devagar (quase que estudando a própria respiração) diferente daqueles nos quais um fôlego apenas é o suficiente para que compreendamos toda a mensagem da trama.




Ricardo Rocha 17/06/2015

solidão. solidão. solidão.
com sorte, uma madeleine
comentários(0)comente



101 encontrados | exibindo 61 a 76
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR