grmartins95 19/03/2024
"As coisas belas são difíceis"
Acabei a leitura do primeiro romance da série Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, um dos livros que entrou para minha lista de 2024. Já comentei uma, talvez duas, quem sabe até três ou mais vezes, em outras publicações sobre esse mesmo livro, de que se trata de um dos textos mais bonitos que já li. E sua beleza faz valer a máxima platônica que diz que "as coisas belas são difíceis".
Assim, o que o romance tem de bonito, tem de difícil.
Demorava cerca de uma hora para ler seis ou sete páginas, não apenas porque a edição da antiga Editora Abril tem a fonte minúscula - uma tentativa de aproveitar o máximo possível o espaço da página, o que levava, em alguns casos, a uma mudança com as margens do texto, que podia chegar até o topo ou até a base do papel - mas porque o estilo proustiano constrói esses períodos enormes - facilmente transformados em parágrafos simples em outros autores - que exigiam de mim um retorno frequente ao começo de sua linha de raciocínio, em uma releitura minuciosa, uma procura alucinada dos verbos principais de cada oração (que simplesmente sumiam no meio do caminho).
Sobre a narrativa, é uma prova de resistência, pois se deixa ler de maneira muito fragmentada, já que a cada nova rua, parque, rio, pessoa etc. Marcel precisa alongar a linha, explicar, descrever uma, outra vez, o que viu e sentiu. Isso para não falar da estrutura geral, que tem o primeiro (longuíssimo) e o último capítulo como momentos externos, mas essenciais, à narrativa central, que é o amor de Swann por Odette.
Enfim, poderia falar um pouco mais, mas para quê? O certo é que está lido, que a pedra foi rolada até o topo da montanha. E, agora que terminei, posso recomeçar a empurrada (com a certeza de que, pelo menos essa pedra, reempurrarei muito feliz quando o fizer).