Pais e filhos

Pais e filhos Ivan Turguêniev




Resenhas - Pais e Filhos


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bruna e livros 16/10/2023

"Talvez de fato, cada pessoa seja um enigma."
Que livro, meus amigos! Fazendo agora, a "digestão" literária, depois de uma surra de acontecimentos, diálogos, amadurecimento e tragédia. É, sem sombra de dúvida, um dos melhores livros que li neste ano!

Uma frase muito boa que combinaria com este livro, é de uma cena do filme "A sociedade dos poetas mortos" (1989) em que Mr. Keating diz que é preciso de médicos, engenheiros, todas essas profissões necessárias e louváveis, mas a posia/poeta, é mais do que isso. Como se, a arte, a literatura ela é a maneira do homem encontrar sua essência, ir além do que representa nessa terra. A partir disso, me lembrei de Bazarov, que está preso em uma filosofia que reprime amor, poesia, arte, dança... ele é pragmático, médico e sabe que pessoas nascem e depois morrem, fim. No entanto, ele é humano também, contraditório e ao longo do livro, não só ele, mas seu fiel discípulo, Arkárdi, se coloca em situações que vão comprovar o contrário, será que Bazarov consegue se manter nesta posição? Ele não sente nada a mais?

Dois jovens, Bazarov e Arkádi, vivendo o niilismo profundo de pensamentos sobre a geração anterior "atrasada", eles jovens e fortes, mais inteligentes. Niilistas que não servem à ninguém, não deitam, e agem por si mesmos, dizem não à arte, à poesia, dizem não sempre.
Mas, o melhor da literatura é quando, ao longo do processo desses personagens, nada é o que é ou pelo menos, na maioria das vezes. Bazarov disse 'sim' também, Arkádi, além do sim, recebeu outros 'sim' e sempre quis dizer 'sim', porém, tinha receio do mestre Bazarov.

Bazarov é um sujeito que lutou contra tudo isso, não conseguiu em alguns aspectos da história se segurar à sua filosofia, foi contraditório também. Ele era o personagem que mais foi rodeado de amor, e do mesmo jeito, reprimia. Ele sentia, só não queria mostrar 'moleza', era adepto em dizer o que pensava superiormente.

Bazarov era médico, dedicava-se aos estudos com afinco ou com amor. Às pessoas, aos seus pais que o amavam muito... não, na verdade, o idolatravam, ele era ríspido, porque eram muito velhos. Suas convicções estavam ultrapassadas demais.
Bazarov era pragmático, não um ser sem alma, era humano como todos. Isso é o que fica claro ao decorrer do livro, ele é um simples humano que tem ideias e quer praticá-las, que não está satisfeito, que vai contra até mesmo o que diz sem perceber.

Bazarov dizia-se niilista, mas antes disso e durante, nunca deixou de ser gente.
CPF1964 16/10/2023minha estante
Parabéns pelo conto digo resenha, Bruna ...???


Rodiney 16/10/2023minha estante
Pelo ritmo de sua escrita parece que o texto te acertou em cheio. Tudo que Turgueniev provoca...


Rodiney 16/10/2023minha estante
Pelo ritmo de sua escrita parece que o texto te acertou em cheio. Tudo que Turgueniev escreve provoca...


bruna e livros 17/10/2023minha estante
Sim! Me acertou!


Lobita_______ 18/10/2023minha estante
Esse acerta em cheio mesmo


Ellen256 19/10/2023minha estante
Que lindo! Quero ler esse no momento certo.




Lucas 03/10/2019

O passado versus o presente/futuro: Um romance da vida, simplesmente isso
Ivan Sergeiévitch Turguêniev (1818-1883) foi um dos maiores símbolos da era de ouro da literatura russa. Mais um contista que um romancista propriamente dito (Memórias de um Caçador, obra de contos de 1852 é o melhor exemplo disso, e introduziu o autor ao meio literário da época), ele, felizmente, condensou num breve livro de pouco mais de duzentas páginas toda a sua genialidade como escritor em Pais e Filhos, romance de 1862.

A década de 1860 foi particularmente agitada em toda a Rússia, marcada por grandes reformas propostas pelo czar Alexandre II (que governou a nação de 1855 até 1881). A maior delas foi a decretação em 1861 do fim do regime de servidão, um dos sustentáculos da sociedade russa desde o século XVII. É importante que isso (a servidão) não se confunda com a escravidão, enraizada no íntimo do Ocidente. Na Rússia, os servos (ou mujiques) eram obrigados a manterem-se nas terras, sem as poder possuir e os donos dessas terras podiam vender as propriedades em que os mujiques estavam situados com os próprios inclusos. Obviamente que havia castigos cruéis e liberdades ceifadas, mas também existiam alguns limites, como a impossibilidade legal dos donos das terras assassinarem por qualquer motivo algum de seus servos.

Todavia, o foco aqui não é discutir sobre essas diferenças por vezes muito obscuras, mas sim usar desse elemento do fim do regime como ponto de partida para a descrição geral da sociedade russa da época. Por mais que houvesse as já citadas reformas estruturais progressistas, havia também uma sensação geral de desânimo, de incertezas frente a esse novo horizonte. A própria questão do fim da servidão alimentava isso. Se hoje, quase 160 anos depois daquela época parece muito difícil imaginar que elementos como libertação de servos ou escravos poderiam gerar algum tipo de polêmica ou contrariedade, isso era sim um problema naquele tempo. Isso porque o fim do regime, feito sem amparo ou instrução para os mujiques, gerou algumas calamidades localizadas, como rebeliões, discordâncias, questões familiares, etc., que demoraram muitas décadas para deixarem de ser efetivamente um problema, mas que se tornaram um elemento de fortalecimento social da Rússia como nação.

Voltando a Pais e Filhos (cujas linhas permitem que o leitor divague a respeito dos temas que ele trata), Turguêniev montou sua narrativa como uma resposta aos seus críticos, que o tratavam como um "ocidental", incapaz de escrever sobre o seu país. Assim, ao analisar esse contexto da época, o autor trouxe para o âmbito da literatura a questão do niilismo, em voga entre os jovens da década de 1860. O nome do romance visa justamente representar a contraposição entre o velho e o novo, entre a geração mais antiga (que viveu ou sofreu influência das atrocidades cometidas pela invasão de Napoleão Bonaparte à Rússia em 1812), apegada a valores tradicionais como fé e família e a geração mais nova, que se baseava no empirismo puro, ceticismo contra tudo que não pudesse ser provado cientificamente e uma desvinculação a hierarquias. Aliás, esta última era a principal característica do niilismo, a rejeição a autoridades, sejam elas morais, familiares ou religiosas.

Nesse sentido, Turguêniev explora este choque entre mais velhos x mais jovens sob dois ângulos diferentes, e que para que eles sejam explicados, podem ser aqui citados (finalmente) os personagens principais da obra.

Por mais que as sinopses sugerem algo diferente, é o médico Evguêni Bazárov o protagonista, símbolo supremo do niilismo. A narrativa inicia-se com Bazárov acompanhando seu amigo, Arkádi Kirsánov (personagem principal das sinopses) em visita a Marino, "feudo" do pai de Arkádi, Nikolai, que tinha um irmão, Pável, que ajudava a administrar a propriedade. De cara surgem reflexões a respeito do já mencionado fim do regime de servidão, com Nikolai tendo muitas dificuldades para se adequar a esse novo modelo. Contudo, esta questão está longe de simbolizar o cerne deste círculo narrativo, e isso cabe a Bazárov e o tio de Arkádi, Pável.

Assim, tem-se muitos embates narrativos entre esses dois personagens, que correspondem ao primeiro ângulo de comparação entre mais velhos e jovens: a questão de ideais e formas de pensamento. A visão agrária de Pável, seu apego à arte, ao requinte e à natureza, entrará frontalmente em colisão com os ideais mais práticos e céticos de Bazárov, que, por rejeitar qualquer tipo autoridade, soa presunçoso e até mesmo irritante em momentos pontuais. Apesar disso, nesse círculo da narrativa o foco do autor está mesmo em reforçar a parte prática dos ideais de Bazárov, que serve de convite ao leitor para que ele analise a validade do pensamento niilista, mesmo que na maioria das vezes ele parta de um argumento mesquinho, para dizer o mínimo.

Arkádi também é um niilista, mais por influência do seu amigo e mentor do que por convicções próprias. No geral, é um personagem doce, um pouco ingênuo e que acaba por protagonizar os caminhos que conduzem a narrativa a outros círculos. Com o passar das páginas, surge Anna Odíntsova, viúva, que exercerá grande influência sob Bazárov. Aqui, o niilista se verá numa situação contraditória em termos de ideais, não cabendo maiores revelações. Importante citar, contudo, o ensinamento disso: por mais cético e empírico que alguém seja, é sempre difícil resistir à emoção. Por mais que Anna Odíntsova seja relevante para a história, o leitor irá senti-la como um elemento que o prepara para o melhor círculo de Pais e Filhos, o da família de Bazárov.

Vassíli Ivánovitch é o pai de Bazárov, ex-médico militar e agora dono de uma pequena propriedade da família no interior (os locais em que se passa a narrativa não são definidos). Bazárov era o filho único dele e de Arina, e ambos, pai e mãe, trazem momentos de sublime beleza emocional. Arkádi, nesse contexto, serve para ilustrar o quanto os pais de Bazárov se orgulhavam do filho e quanto o amavam. Diferentemente do círculo da família de Arkádi, aqui Bazárov adquire um caráter mais desprezível mesmo, como o leitor perceberá. Tem-se aqui o segundo ângulo que a narrativa explora do dualismo entre gerações, este mais baseado nas relações familiares e que fornece a maioria dos momentos inesquecíveis que o livro perpetua.

Ao longo do século XX, provavelmente muito influenciado pela questão da URSS e dos regimes ditatoriais que por lá se instalaram sucessivamente, o Ocidente adquiriu uma visão mais crua, fria, do povo russo. Não é um preconceito, mas é uma imagem pré-concebida que a história foi construindo à percepção de quem não é natural do país. Mas a verdade que Turguêniev mostra (não só ele como seus escritores contemporâneos da Rússia), de uma forma bem singela, lúdica e bela, é a de um povo que sabia como ninguém demonstrar carinho, especialmente nos filhos. De pais que muitas vezes não sabiam se conter para agradar seus rebentos, satisfazer suas vontades, de expor o orgulho que sentiam... Certamente, esses valores devem ter se perdido em parte por lá (isso é universal, o mundo vem se esquecendo de valorizar a família e suas relações internas), mas o escritor reservou muitos momentos marcantes em Pais e Filhos utilizando-se dessa abordagem.

Ponto importante de Pais e Filhos é também a questão do niilismo como um movimento social, que possuía seguidores na Rússia. Inclusive a narrativa não só não causou estardalhaço positivo como gerou críticas das gerações mais novas e mais velhas, o que fez com que Turguêniev perdesse totalmente a vontade de viver por lá (a narrativa explica porque as críticas vieram de ambos os lados). Segundo Vladimir Nabokov (1899-1977), no seu Lições de Literatura Russa (Editora Três Estrelas, 2014), Turguêniev teve uma vida problemática e até vazia: apesar de ser membro da aristocracia rural (em privilegiada situação econômica, portanto), ele não casou, nem teve filhos. Seu grande amor foi uma cantora de ópera casada, e ele passou boa parte da vida vivendo em cidades como Berlim, Londres e Paris. Ainda segundo Nabokov, o autor era muito apegado a imagem pessoal e entrava em conflito literário constante com Fiódor Dostoiévski (1821-1881), que considerava Turguêniev um escritor mais "europeu" do que russo. O que associa e ao mesmo tempo afasta os dois é o niilismo: em Dostoiévski, ele é exposto nas decrepitudes morais, de forma mais crua, mais rebuscada, como uma gangorra para a redenção; Turguêniev trata essa mesma questão de uma forma mais acadêmica e menos psicológica, sempre com um olhar mais voltado para a vivência prática dos seus personagens.

Pais e Filhos é, sem mais delongas, totalmente maravilhoso, com elementos tocantes, muito romance e, acima de tudo, uma infinidade de reflexões advindas do conflito entre gerações, que sempre será um tema atual (as modernidades tecnológicas do século XXI servem como pano de fundo de reflexões similares). De uma forma breve e muito bem escrita (Turguêniev sabia como ninguém na Rússia poetizar a narrativa, por meio de descrições belíssimas da natureza, especialmente), o autor deixou um legado que precisa ser eternamente cultuado pelos seus ensinamentos. Os filhos de hoje serão os pais de amanhã, e ler a obra-prima de Turguêniev traz ao leitor a sensação de que o tempo que faz essa transformação só moldará de verdade o ser humano se ele for vivido em sua plenitude, especialmente nos pequenos acontecimentos que o formam.
Sheila Lima 03/10/2019minha estante
Sua resenha é sensacional, Lucas.Você diz tudo o que eu gostaria de dizer sobre esse livro encantador de Turguêniev. Vale ressaltar que o livro Demônios de Fiódor Dostoiévski segue o mesmo caminho de Pais e Filhos.
Mas convenhamos, Pais e Filhos é uma obra insuperável.


Lucas 03/10/2019minha estante
Os Demônios deverá ser o próximo "dinossauro" do Dostoiévski que lerei justamente por isso. Pelo que pesquisei, Dostoiévski coloca ali um personagem baseado em Turguêniev, então estou curioso em saber como ele será retratado, já que o relacionamento dos dois autores era problemático. No mais, Pais e Filhos foi um livro que me surpreendeu muito positivamente, e deverei passar dias revisitando suas passagens mais memoráveis. :)


Sheila Lima 03/10/2019minha estante
São personagens antagônicos, Fiódor bate de frente com o seu protagonista, mas em minha opinião, perde para Pais e Filhos, contudo, Os Demônios não deixa de ser um ótimo ¨dinossauro¨.


Sheila Lima 04/10/2019minha estante
Lucas,boa noite. Esqueci de dizer que se puder leia O Diário de Um Homem Supérfluo, do mesmo autor.


Lucas 05/10/2019minha estante
Parece ser excelente também. Mas acho que irei ler primeiro Memórias de um Caçador. Foi uma coletânea de contos que fez de Turguêniev mais conhecido, e parece ter uma temática mais voltada ao povo russo mais humilde, aos mujiques... Mas Diário de um Homem Supérfluo parece excelente, ambos, certamente, editados de forma primorosa pela Editora 34. :)


Sheila Lima 05/10/2019minha estante
Bem lembrado, estou em falta com esta coletânea!




Alan kleber 23/02/2024

A esperança e a inquietação do futuro incerto, entrando em choque com a nostalgia de um passado glorioso.

"País e Filhos" de Ivan Turgueniev é uma obra-prima da literatura Russa que mergulha nas complexidades das relações familiares, dos conflitos geracionais e das mudanças sociais ocorridas na Rússia do século 19. Apesar da trama se passar na Rússia, essa é uma história que ressoa universalmente.
Por meio de personagens multifacetados, Turgueniev nos convida a uma jornada introspectiva, instigando-nos a refletir sobre nossas próprias convicções e valores.

A história começa com o retorno de Arkadi Kirsanov a propriedade rural de seu pai, Nikolai, após completar seus estudos em São Petersburgo. Arkadi traz consigo a influência do pensamento progressista da cidade, enquanto seu amigo Bazarov, um médico niilista, desafia as convenções sociais e as tradições estabelecidas.
Arkadi, impregnado das idéias, progressistas da cidade, simboliza a busca incessante pela liberdade individual e pela autenticidade em meio as amarras da tradição e das expectativas sociais. Seu amigo e confidente, Bazarov irrompe na trama como uma figura emblemática do niilismo radical, questionando os fundamentos morais e filosóficos que sustentam a ordem estabelecida. Sua presença disruptiva na vida dos Kirsanov desencadeia uma série de eventos e transformações para todos os envolvidos.
Sua presença catalisa um conflito geracional e ideológico que ecoa através das páginas, mostrando os eternos embates entre a juventude e a velhice, a revolução e a conservação, o racionalismo e o idealismo.

Ao longo da história, somos confrontados com questões fundamentais sobre o propósito da existência, a natureza do amor e da amizade, e os limites da liberdade individual. Turgueniev nos leva a explorar os recônditos da psique humana, revelando as contradições e os conflitos que moldam nossas escolhas e nossos destinos.

Com diálogos brilhantes e reflexões profundas que vão além do tempo e espaço, dessfiando-nos a confrontar as verdades inconvenientes que se escondem sob sua a superfície da vida cotidiana.
"País e Filhos" é, portanto, mais do que um simples romance; é um convite à contemplação filosófica e à busca incessante pela verdade e pelo significado em um mundo em constante mutação.

É uma leitura essencial para aqueles interessados na literatura Russa e nas dinâmicas humanas atemporais.
Flávia Menezes 23/02/2024minha estante
Esse é um livro que desperta muito a minha curiosidade. E agora estou ainda mais interessada em ler.
Parabéns pela resenha, Alan. ??


Alan kleber 23/02/2024minha estante
Flávia, este livro está repleto de diálogos brilhantes! Foi minha primeira experiência com Turgueniev, e estou completamente fascinado pela história.


AndrAa58 24/02/2024minha estante
Parabéns pela resenha, Alan.


Alan kleber 24/02/2024minha estante
Obrigado! Ainda não cheguei na qualidade da resenha de vocês aqui, mas espero chegar lá.


AndrAa58 25/02/2024minha estante
Chegou sim, Alan. Cada um tem seu estilo. O mais legal é a oportunidade de nos conhecermos um pouquinho mais através de nossas leituras, impressões, no que valorizamos, trocamos experiências e aprendemos juntos... Muito bom!




Caroline Gurgel 17/02/2017

Muito bom...
Pais e Filhos foi lançado em 1862 e para que entendamos bem a grandiosidade desta obra devemos contextualizá-la muito bem. A Rússia passava por um momento de grande impacto social: o fim da servidão, regime em que o camponês era propriedade do dono da terra. Turguêniev, brilhantemente, não só faz um panorama deste novo cenário, como se aproveita dele para nos mostrar com mais intensidade as relações entre pais e filhos e as divergências de pensamento entre essas diferentes gerações.

Arkádi acaba de terminar a faculdade e resolve retornar, ao lado de seu amigo Bazárov, à propriedade de seus pais. Eis onde tudo começa. Da propriedade da família de Arkádi à da família de Bazárov, passando - estrategicamente (e, por que não, romanticamente?) - pela casa de Ana Serguêievna, Turguêniev vai nos apresentando as ideias e as atitudes das diferentes gerações, desde o pai que tenta se modernizar, às mães e seu amor irrestrito, até o tio conservador que não aceita tudo facilmente.

Bazárov se considera um niilista, aquele que não crê em nada, que se recusa a seguir regras e a reconhecer autoridades. É um personagem fantástico, mas de uma arrogância que me deu raiva. Turguêniev o coloca - aparentemente - em um pedestal, como se ele fosse o herói de tudo. Mas... mas... aparentemente. Ou, ironicamente!, já que o autor nos mostra que o niilismo de Bazárov não se sustenta por completo.

Então, quem estava certo? Os tradicionalistas ou os niilistas? Nem um, nem outro. Nem Pável, o tio conservador de Arkádi, nem Bazárov, seu antagonista. Turguêniev alfineta os dois lados, ambos sucumbem - aqui e acolá - ao que rechaçam.

E os pais? Sempre os pais! Sempre presentes, sempre ali, faça chuva ou faça sol! Dispostos a tudo, inclusive a não falar com seus filhos, se assim o desejarem. Como somos imaturos aos 20 e poucos anos! Como entendemos pouquíssimo da maternidade quando ainda não somos mães... Deu para sentir o que sentiram os pais de ambos os jovens, sem que Turguêniev precisasse sequer nos descrever.

O amor, diante de tanta negação, é, talvez, o maior vencedor desse livro. Ou sou eu que vejo amor em tudo... É para os braços dos pais que os filhos voltam, é nos braços da amada que os jovens querem estar, por mais que queiram romper com qualquer ideia do romantismo.

Turguêniev abordou diversos temas de forma simples, contando uma história que quase não tinha o que contar, mas que, incrivelmente, traz uma profunda reflexão para o leitor acerca das relações humanas. Nem niilismo, nem tradicionalismo, Pais e Filhos é muito mais que meros conceitos. Muito bom!

*** Esse livro está na lista dos 1001 Livros Para Ler Antes de Morrer. Lá no blog tem mais sobre esse Projeto :)))

site: www.historiasdepapel.com.br
Gleidson 17/02/2017minha estante
Faz tempo que quero ler este livro. Agora minha vontade aumentou ainda mais...


Caroline Gurgel 17/02/2017minha estante
É muito bom! Fiquei com raiva até certo trecho, mas depois fui percebendo qual era a do autor e adorei.


Gleidson 17/02/2017minha estante
Vou comprar urgente!


Caroline Gurgel 17/02/2017minha estante
Espero que goste!!! :)))


DIRCE 17/02/2017minha estante
Sua resenha é um convite à leitura.




Tamiris 02/03/2021

Conflitos de gerações.
Ao ler sobre a obra deparamos como algo que escandalizou a época que foi muito criticado, mas ao ler nos dias de hoje não consegui ver nada que pudesse chamar a atenção por algo escandaloso, porém temos que nos colocar em uma época diferente para que possa entender.

O livro aborda a diferença de pensamentos, opiniões de gerações. Os mais velhos vendo algumas atitudes e opiniões como afronta, prepotência e o jovem como pessoais feudais, ?atrasados?. Ele trata também de um assunto que era muito novo e que estava começando a ser falado, Bazárov é apresentado como niilista e quando o amigo explica descreve como uma pessoa que não crê ou nada reconhece e para o mais velho faz a releitura disso como um homem que nada respeita.

Algumas atitudes do Bazárov com os seus pais me deixou irritada, pais amorosos que exaltavam o filho, mais que tinham medo de demonstrar afeto para não irrita-lo. Bazárov era um anti-romântico e muito pragmático achava que demonstrar afeto e alguns sentimentos eram sinal de fraqueza. Do outro lado tem seu amigo Arcádio que vê as coisas de outro modo e forma diferente de relacionar com seu pai.

No livro ele também acaba abordando as diferentes classes sociais que havia na Rússia naquela época e alguma situações que possivelmente foram algo que chamou muito atenção nos relacionamentos e lutas por mudanças.

Vale a pena conhecer a obra !
Pedro 02/03/2021minha estante
Excelente resenha, Tamiris. Parabéns!


Tamiris 02/03/2021minha estante
Obrigada Pedro ??


Pedróviz 03/03/2021minha estante
Infelizmente muitos de nós, quando jovens, somos duros com os pais e acabamos por amargar grande remorso quando a idade pesa sobre os ombros.


Tamiris 03/03/2021minha estante
Exatamente Pedro Luiz, no caso do personagem não teve remorso ? nem tempo. Mas traz essa reflexão na forma demonstrar afeto e gratidão com pessoas tão importantes.




Duchesse 08/06/2023

Os Mestres Russos
A leitura da biografia de Dostoiévski me levou a ler ?País e Filhos? de Turgueniev. O romance é excelente, mas é melhor compreendido quando entendemos o contexto social e Histórico em que foi escrito, em 1862. O personagem principal, Bazarov, simboliza a divisão entre a intelectualidade liberal da pequena nobreza da década de 1840 e os jovens radicais (os raznotchintsi) dos anos 1860. O termo ?niilista? foi utilizado para descrever Bazarov que nega tudo, inclusive os sentimentos e as emoções, que quer destruir toda a ordem vigente, sem se preocupar com o que será construído sobre as ruínas.

Trechos do livro:
?- Mas, com licença - começou Nikolai Pietrovitch. - O senhor nega tudo, ou, em palavras mais exatas, o senhor destrói tudo. No entanto, também é preciso construir.
- Isso já não é da nossa conta. Em primeiro lugar, é necessário limpar o terreno.?

? - Meu irmão, o senhor é burro, pelo que vejo. Eu, entende, eu preciso dos idiotas. Não cabe aos deuses, aliás, fazer as panelas...
?Entendi!?, pensou consigo Arkadi. E, então, apenas por um momento, todo o abismo sem fundo do orgulho de Bazarov revelou-se a ele.
- Então nos somos deuses? Ou seja, é um Deus, mas eu sou um tolo??

Bazarov representa o jovem enérgico, raivoso, que se acha superior a tudo e todos, cheio de ideias, teorias e ideais, que despreza as convenções, mas que, ao entrar en contato com a realidade, percebe despertar em si sentimentos que não consegue controlar ou entender e vê suas belas ideias e grandiosas teorias soçobrarem. Bazarov, de certa maneira, é um prelúdio de todos os revolucionários idealistas que querem mudar o mundo antes de realmente conhecê-lo, sem se preocuparem com as consequências.
Diego 15/06/2023minha estante
Adorei a resenha!


Duchesse 15/06/2023minha estante
Obrigada!


GIPA_RJ 26/07/2023minha estante
Dos autories russos traduzidos para o português , Turguienev foi o único que ainda não tive o prazer de ler , mas estou de olho!




Suelen 03/07/2022

Pais e Filhos
Literatura Russa não está nos meus gêneros literários favoritos, inclusive evito sempre que posso, mas esse livro faz parte de me desafiar e sair da minha zona de conforto, inclusive na leitura.

Eu demorei pra enganar a leitura, principalmente com tantos nomes e expressões em outras línguas, mas depois peguei o ritmo e gostei da história.

Trata de amor fraternal e as diferenças entre gerações. Pais que amam os filhos incondicionalmente, porém filhos que não amam os pais. Fala sobre conflitos internos, amorosos, conflitos entre empregados, etc.

Serve de reflexão o livro.
Victória de Castro 04/07/2022minha estante
Nao to nenhum pouco animada pra ler. Mas vou ler por causa do QP.


Diego 05/07/2022minha estante
Boa resenha! Obrigado!




Rick-a-book 26/10/2009

Conflito de gerações? Não, não apenas isso.
Publicado originalmente em 1862, este romance de Ivan Turgueniev retarata as mudanças na sociedade russa do início da década de 1860: o fim do sistema de servidão e a fundação da organização secreta "Terra e liberdade", que lutava contra autoridades e instituições oficiais. Foi com esta obra que se consagrou e popularizou o termo "niilismo", espécie de doutrina que se caracteriza, na explicação de Bazárov, co-protagonista do romance: "numa espécie de rebeldia que não se inclina a nenhuma autoridade nem aceita nenhum princípio sem exame".

O enredo trata das relações entre o recém formado na Universidade de São Petersburgo Arcádio Nicolaiêvitch Kirsánov e seu amigo e tutor Eugênio Vassílievitch Bazárov, símbolos da nova geração (os "filhos") e Nicolau Pietrovich Kirsánov e seu irmão Páviel Pietrovitch Kirsánov, pai e tio de Arcádio, respectivamente, representantes da geração liberal de 1840, símbolos da velha ordem (os "pais").

Uma série de atentados e movimentos de mobilização social ocorridos após o lançamento do livro fizeram com que Turgueniev fosse responsabilizado, ainda que algumas dessas manobras políticas tivesse pouca ou mesmo nenhuma relação com o niilismo. Autores como Dostoiévski e Nietsche fizeram uso do tema: o primeiro trasnformou Ivan Turgueniev em personagem de um livro seu, o Ivan Fiedorovitch de "Os Irmãos Karamázovi", ainda que existam algumas alusões ao livro de Turgueniev em "Crime e Castigo", de 1866, e o segundo que, apesar de nunca ter feito referência direta ao autor russo, auto-entitulou-se "o último niilista".

Chama a atenção o fato de um livro com pouco mais de 200 páginas sintetizar de forma tão pungente a realidade das relações familiares, os "ruídos na comunicação" existentes entre qualquer duas gerações distantes apenas alguns anos e suas diferentes expectativas diante da vida e do mundo em que vivem. Serve como um ótimo guia para que possa entender os progenitores, ou, ao contrário, um manual estupendo para que se possa compreender melhor os próprios herdeiros.
Ed 26/09/2013minha estante
Ótima síntese! além de tudo que você falou, Bazárov ainda é muito atual, no sentindo em que representa a necessidade gritante do "novo" ser transgressor e até mesmo apelativo na busca de contradizer o passado. O próprio niilismo ainda influência várias correntes do pensamento atual, mesmo sendo um niilismo já descaracterizado de sua origem ideológica.


Cristian 24/10/2014minha estante
Show mesmo!




David.Albuquerque 11/01/2018

Sentido e limites do niilismo em "Pais e Filhos" de Turgueniev
A vida, as relações e os conflitos de Bazárov e de seu amigo-admirador Arcádio. Jovem identificado com o “niilismo”, Bazárov se dedica à medicina e às ciências da natureza mas nega cotidianamente a validade do interesse em qualquer coisa, crença, pessoa ou princípio moral, enquanto professa uma filosofia utilitarista (do tipo “é bom ao homem aquilo que lhe é útil”), de desprezo frente a toda forma de “sentimentalismo” (honra, espiritualidade, amor etc.). Como o título sugere, Turgueniev apresenta esse processo a partir das relações entre "Pais e Filhos". O choque de Bazárov com a moral aristocrática da sociedade russa do século XIX, com a conduta dos pais – membros da velha aristocracia militar e entes superamorosos – e com o desejo arrebatador inspirado por Ana Serguêievna Odintsova são enfrentados com o mais absoluto ceticismo por um típico personagem-filósofo. Entre a decadente aristocracia rural e a falta de horizontes de afirmação de uma vida mais moderna, Turgueniev conduz Bazárov pela negação de tudo, o surpreendendo, porém, após alguns fatos que insinuavam os limites dessa negatividade, com uma implacável imagem da “negação da negação”.
roberth.braga 11/01/2018minha estante
O livro q tu tem é essa edição mesmo?


David.Albuquerque 11/01/2018minha estante
Não, é da coleção Grandes Sucessos, da Abril, 1981.




RayLima 24/09/2023

O amor é uma linguagem universal que atravessa gerações
?Pais e Filhos? é a obra de maior prestígio do escritor Ivan Turguêniev, é também considerada uma das mais importantes da literatura russa. Esse clássico aborda, como a própria definição de clássico pede, temas universais que se mantém relevantes ao longo do tempo. Protagonizado pela dupla Arkádi e Bazárov, amigos de personalidades distintas, o primeiro pacífico e sensível, o segundo enérgico e inflexível.

?[?] o homem é uma criatura estranha. Quando observamos, de fora e de longe, a vida rústica que os ?pais? levam aqui: o que pode haver de melhor? Comer, beber e saber que vivemos da maneira mais justa e mais razoável. Mas não: o tédio vence.?

O tema central é certamente as relações entre pais e filhos, como o título propõe, mas como essas relações se dão é que é interessante. Arkádi é amado pelo pai que teme a sua desaprovação e por isso esconde um segredo, já Bazárov é idolatrado pelos pais que temem aborrece-lo e por isso o evitam. Entre os dois amigos se estabelece de alguma forma também uma relação ?pai e filho?, visto que Bazárov exerce uma forte influência sobre Arkádi.

Outro tema muito presente é o cenário político da Rússia que na época passava por um período de transição (na edição que eu li, da Companhia das Letras, a introdução fala sobre isso, se você for ler nessa edição também, não pule essa parte!). Entender os posicionamentos políticos dos personagens é de extrema importância para se ter uma maior compreensão da personalidade de cada um e como isso influencia suas decisões. Não é preciso se aprofundar muito pra entender, pois é algo que se repete na história mundial e por isso mantém a obra tão atual: a ?briga? entre gerações.

Ah, mas esse livro só fala disso? Deve ser chato! Calma que por cima disso tudo ainda tem uma pitada de romance. E que romance, meus amigos! E no romance que vemos as histórias de cada personagem se desenvolver individualmente e tomarem rumos próprios. O romance aqui tem caráter transformador. Como cada um lida com os próprios sentimentos é que vai definir o seu futuro.

?Os dois estavam calados; mas justamente por estarem calados, por estarem sentados juntos, fazia-se sentir uma proximidade confiante; cada um parecia não pensar no seu vizinho mas, em segredo, se alegrava com a sua proximidade.?

A escrita de Ivan Turgueniev é apaixonante. Apesar de ser um clássico (esse ?apesar? é pra quem tem medo dos clássicos, viu? eu adoro!), o vocabulário não é difícil e a leitura é bem tranquila. Os capítulos são curtos, contribuindo para um ritmo fluido. Os personagens são muito bem escritos, tem profundidade, não são estáticos e se desenvolvem e se moldam ao longo da história.

Termino com a frase final do livro:

?Por mais exaltado, pecador e rebelde o coração oculto no túmulo, as flores que crescem sobre ele olham para nós serenas, com seus olhos inocentes: não falam apenas de uma paz eterna, da grande paz "indiferente"; falam também da reconciliação eterna e da vida nos da natureza infinita...?

Eu chorei ?

Obs.: o livro é bem mais curto do que eu pensei, pois boa parte das páginas são da introdução no início e no final tem alguns ensaios/artigos de outros autores falando sobre a obra e escrita de Ivan Turgueniev.
Fabio 26/09/2023minha estante
Nossa!!!!!!
Resenha perfeita, Nay!
Parabéns!


RayLima 26/09/2023minha estante
Esse livro merece uma resenha à altura, Fábio ?




Fabio.Nunes 31/10/2023

Obra-prima
Pais e filhos - Ivan Turguêniev
Editora: Cia das letras, 2019

Obra-prima!
Pronto. É isso.

Para quem acha que literatura russa é só Tolstói e Dostoiévski, tá aí uma prova de que não (ainda que existam outras).

Em Pais e Filhos Turguêniev nos apresenta oposições ligadas por laços de amor.
Uma obra que trata de forma inteligente e perspicaz o conflito entre a geração de 1840 (aristocrática, formal, liberal-conservadora, religiosa) com a geração jovem de 1860 (materialista e niilista, portanto alheia a princípios de toda a ordem e à autoridade), reproduzindo com maestria essa época histórica na Rússia do século XIX.

A despeito do que possa parecer, os conflitos na obra não são tratados de forma maniqueísta nem estereotipada. Existe uma complexidade e profundidade em todos os personagens que representam cada lado desse conflito. E isso é algo extraordinário!
Turguêniev cria personagens tão completos com tão poucas palavras que a gente pensa que pode tocá-los.

Uma leitura prazerosa do início ao fim e que me deixou um vazio ao acabar.
Max 31/10/2023minha estante
Um dos meus favoritos deste ano!
Resenha perfeita, Fábio! ?


Fabio.Nunes 01/11/2023minha estante
Obrigado! O livro realmente é bom demais.




Norma Elise 27/02/2023

Primeiro livro em literatura russa! Se você, assim como eu, ainda não leu nenhum livro de literatura russa, posso dizer com convicção: comece por Pais e filhos, leitura tranquila e que irá te prender! O livro trata exatamente sobre as divergências de pensamentos de duas gerações, bem interessante. Vale com certeza a leitura!
Ezequiel.Cesar 28/02/2023minha estante
Muito bom mesmo!


Norma Elise 01/03/2023minha estante
Valeu a indicação pai!




Ana 29/07/2021

É um bom livro mas não consegui me apegar a história.
Dá pra perceber claramente que o autor foca mais em construção de personagens do que enredo. Os diálogos são muito bem construídos, mas eu realmente não consegui lidar com o Bazarov. Além de chato e hipócrita ele é muito machista e fazia comentários bem desencessarios que não tinham muita construção para uma posição.

Enfim, achei bom pra entender mais da literatura russa (ainda mais pq se passa em um ano de muitas transformações) já que o autor foi o principal a abrir as portas do ocidente, mas está longe dos meus favoritos russos.
Marianna 29/07/2021minha estante
Nossa, li outro do Turgueniev (A Véspera) e senti a mesma coisa: bom livro, mas não consegui me apegar a história!


Ana 29/07/2021minha estante
A história desse é bem simples até de tanto que ele foca na construção dos personagens




Linda 27/06/2020

O dono das casas
Este livro precisa ser lido sem medo. É intrigante, é emocionante, e chega mesmo a ser uma divertida forma de conhecer, ainda que superficialmente, a Rússia do século XIX, os fidalgos, os servos e mujiques.
Pais e filhos foi escrito entre 1860 e 1862, período no qual a Rússia passava pelas reformas que dariam fim ao regime de servidão e os camponeses deixavam de ser propriedade dos senhores da terra. Neste livro, Ivan Turguêniev conta a história do jovem Arkádi e seu mentor, Bázarov, que após terminarem seus estudos em San Petsburgo foram juntos visitar suas famílias. Primeiro a de Arkádi, depois a de Bázarov. Ao chegarem na casa da família de Arkádi, ele e seu tutor são tratados com todo respeito e deferência, os quais não são retribuídos pelo hóspede Bázarov, que sendo niilista tudo questiona e nada aceita, exceto as taças de vinho, a comida farta e o ambiente ideal da casa dos fidalgos para o desenvolvimento de suas pesquisas. Os jovens sentem-se bastante a vontade para manifestarem suas opiniões divergentes dos mais velhos, o pai, Nikolai e o tio Pável, os quais mostram-se relativamente tolerantes às ideias dos recentemente formados.
Ao entediarem-se, viajam para a cidade * ,onde desfrutam da companhia e hospitalidade de Kúkchina e seus amigos, incluindo Sítnikov. A relação de Bázarov com seus anfitriões pode ser ilustrada pela passagem na casa de Kúcchina, após fartar-se: "....ocupava-se antes com o champanhe - deu um sonoro bocejo, levantou-se e sem se despedir da dona da casa, saiu direto pela porta, em companhia de Arkádi (P. 107)."
Porém, ao conhecerem Anna Serguêievna na festa do governador e depois partirem para uma temporada em sua casa, as certezas dos dois amigos acerca de suas crenças e disposições sobre as mulheres já não é a mesma, ilustrada pela fala de Bázarov para Arkádi: "segundo minhas observações, as únicas mulheres que pensam de forma livre são as monstruosas de tão feias (P. 113)".
O pior confronto mostrado no livro, não é o das ideias visto que nosso protagonista não as tem, cabendo-lhe apenas questioná-las incansavelmente. Com isso, intimida e mantém distantes as pessoas, inclusive os mais próximos incluindo seu discípulo oprimido. O confronto vem por meio do afeto, que julga desprezível, que nega e talvez por isso, não seja retribuído. Desprezado, primeiro pela rica Anna e depois pela pobre Fienechka, cuja honra é defendida pelo tão criticado aristocrata Pável que apesar de desprezível é capaz de zelar pelo amor de outrem, o niilista retorna ao lar paterno, onde aprendeu a ser idolatrado sem medidas. E lá, o dono das casas encontra, finalmente, o nada ao qual defende.
Xxxxxxxx1 27/06/2020minha estante
Excelente resenha, Lindamar!


Linda 27/06/2020minha estante
Muito obrigada, Rodrigo.




Chelly @leiodetudo 24/03/2023

Não aproveitei ?
Terminei sem saber se entendi o que era pra ter sido entendido. Precisaria assistir pelo menos uns vídeos e debates sobre a obra pra compreender.
Sabrina 25/03/2023minha estante
Eu tbm fiquei em dúvida se entendi direito?


Heloísa 03/04/2023minha estante
Estou no início ainda, mas estou viajando ?




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