natália rocha 01/12/2020O duelo está presente de diversas formas nessa novela de Tchekhov, publicada em 1891.
Em ‘’O Duelo’’, conhecemos Laiévski – um homem supérfluo, termo pela primeira vez utilizado na literatura como característica à alguém por Turguêniev, que caracteriza um intelectual de classa média sem utilidade para a sociedade que está inserido. Laiévski era idealizado no vilarejo por ser um homem culto, liberal e que frequentou a universidade. Na verdade, não passava de um homem que vivia de jogos e álcool, sem trabalho e responsabilidades.
‘’Sujeitos como ele, aparentemente cultos, um pouquinho educados e que falam muito sobre o próprio espírito nobre, sabem se fazer passar por seres extremamente complexos.’’
Laiévski muda-se de São Petesburgo para uma pequena cidade no Cáucaso com sua amante, Nadiéjda – casada com outro homem. E é aqui que nos deparamos com o primeiro duelo da obra, entre amantes entediados com a vida interiorana que acreditam talvez não se amarem mais.
Ao longo da obra, nos vemos no meio dos devaneios de Laiévski, em que ele reflete sobre sua vida e escolhas, sobre onde está agora e onde gostaria de estar. Aqui, nos deparamos com aquele velho conflito humano sobre nunca estar plenamente satisfeito com o presente. É outro tipo de duelo presente na obra.
Na obra também conhecemos outro personagem muito interessante, Von Koren: um cientista, moralista ao extremo e rival de Laiévski. Inclusive, ele acredita que o nosso protagonista é o tipo de pessoa que deveria ser excluída da sociedade por se tratar de um péssimo exemplo. Por terem ideais e uma visão de mundo completamente diferente, representam outro tipo de duelo no livro, o ideológico.
‘’Mas o homem tropeça até quando anda no plano, e o destino humano é assim: quando não se erra no principal, se erra nos detalhes.’’
Como já vimos muitas vezes na história do mundo, conflitos ideológicos desencadeiam, muitas vezes, conflitos reais, físicos. E no livro não é diferente. A rivalidade entre os personagens citados levam a um quarto duelo, dessa vez em sua forma clássica da Rússia do século XIX.
Com uma escrita de fácil compreensão, e muitas vezes cômica, Tchekhov nos imerge em discussões éticas e filosóficas muito presentes na vida de qualquer um de nós.