Michele 06/01/2017A história começa com o nascimento de Tristão, filho de Brancaflor, irmã do Rei Marcos da Cornualha, e Rivalino, rei de Leônis. Porém os infortúnios em sua vida começam cedo: sua mãe morre no parto. Seu pai, em profunda tristeza, lhe dá o nome de Tristão (que acaba por ser um presságio de toda a vida do recém nascido). Pouco tempo após fazer 15 anos seu pai também morre, combatendo o duque Morgan, que queria invadir o reino.
Durante sua infância recebeu a educação de um guerreiro e também aprendeu música, canto e poesia. Também se tornou um ótimo imitador: de vozes e de cantos de pássaros. Um exímio cavaleiro. Inigualável na arte da luta, e da imitação, e encantador na arte da música. Honrado e corajoso como nenhum outro.
Após a morte de seu pai, Gorvenal, seu escudeiro e a pessoa que também cuidara de sua educação, decide levá-lo para Tintagel, na Cornualha, para colocá-lo sob a salvaguarda de seu tio, o Rei Marcos.
Após anos servindo como o melhor cavaleiro e sendo muito amado pelo tio, e despertando assim a inveja de vários duques na corte de Marcos, chega na Cornualha um guerreiro chamado Morholt, da Irlanda, para cobrar um tributo imposto à Cornualha um século antes, no decurso de uma guerra. Viera buscar 300 rapazes e 300 donzelas na idade de 15 anos para servirem na Irlanda. Mas se um campeão do rei Marcos combatesse o Morholt sozinho e o dominasse a Cornualha seria liberta do tributo.
Tristão se oferece para lutar como campeão do tio e consegue matar o Morholt, mas não sem ser ferido pela lança deste, que Tristão não sabia estar envenenada. Como nenhum médico o consegue curar ele pede para ser colocado numa barca sem velas nem remos e lançado ao mar – simbolismo de que ele não tem controle do que está para acontecer e que os acontecimentos próximos devem-se apenas ao destino -. Chega então na Irlanda onde acaba por ser curado pela rainha e sua filha Isolda que não sabem que ele é o assassino do irmão da primeira e tio da segunda, pois Morholt era irmão da rainha da Irlanda.
Após se recuperar Tristão foge da companhia de ambas e retorna ao reino de seu tio, completamente curado.
Na corte seu tio não tem nenhum herdeiro pois não é casado e nem quer se casar. Pretende assim fazer de Tristão seu herdeiro, o que aumenta ainda mais a inveja de alguns duques na corte, que passam a importunar o rei para que arranje uma esposa e gere um herdeiro para o trono da Cornualha. Um dia o rei Marcos observa andorinhas se aproximarem pela janela, que ao entrarem no recinto deixam cair uma mecha de cabelo louro que parecem fios de ouro e, como já estava cansado da insistência dos duques, anuncia que só se casará com a dona daquela mecha de cabelo. Ele acha que tal moça nunca será encontrada pelos duques, porém Tristão reconhece na mecha a cor dos cabelos de Isolda e conta isso ao tio e aos duques. Tristão parte então para a Irlanda para procurar uma forma de conquistar Isolda em nome de seu tio.
Ele consegue realizar o feito. Porém quando o Rei Gormond, da Irlanda, vai lhe entregar a mão de sua filha, ele esclarece que foi conquistá-la para o Rei Marcos, o que fere o orgulho de Isolda, que se sente desprezada por Tristão, e que já nutre sentimentos pelo cavaleiro, mesmo que não o admita. A mãe de Isolda, preocupada com a infelicidade da filha no casamento, prepara uma “poção do amor” para que Isolda partilhe com Marcos. Ela entrega a poção para Brangia, aia de Isolda, em segredo avisando que o efeito da poção dura 3 anos e pede que ela não revele nada a sua filha.
Mas para infortúnio de Isolda e Tristão acidentalmente, sem o saber, eles compartilham a poção – outro simbolo, para mostrar que o amor deles é puro, e não visa magoar ou prejudicar ninguém intencionalmente -. E ainda no navio eles tem sua primeira relação sexual. Mesmo assim, por honra e palavra, Tristão entrega Isolda ao tio quando chegam na Cornualha e este desposa Isolda.
Várias desventuras amorosas se desenrolam a partir dai e inacreditáveis artimanhas são aplicadas para que os amantes se encontrem às escondidas sempre que possível. Mesmo após o efeito da poção passar, o amor deles ainda existe, até mesmo mais forte e sincero que antes. Ainda assim aqueles que invejam Tristão descobrem os dois e os entregam ao Rei Marcos.
Eles passam ainda por mais diversas provações que culminam num trágico final para os amantes. Ainda assim um dos finais mais lindos que já li, e isso porque não sou lá muito romântica.
Não entrarei em detalhes sobre a desventuras que passaram pois espero despertar o interesse na leitura que se tornou uma das minhas histórias favoritas da vida. Sei que dei alguns spoilers, mas acreditem, a leitura tem muito mais riqueza do que expressei acima. As estratégias que eles empregam para não serem descobertos são ótimas e muito divertidas de se ler.
Tristão e Isolda é um perfeito exemplo do que chamaram de amor cortês: um cavaleiro que ama uma dama maravilhosa porém fora de seu alcance, quase sempre casada, por quem faz tudo. Seu amor é incessante e eterno.
Histórias como essa faziam muito sucesso nas cortes mesmo com a temática do adultério, numa época onde os casamentos eram arranjados por conveniência e não por amor. Engraçado esse sucesso ao contrastar com o enorme rebuliço que Madame Bovary, por exemplo, causou na época em que foi lançado, vários séculos depois de Tristão e Isolda.
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https://alittlelostin.wordpress.com/2016/12/22/resenhando-tristao-e-isolda/