O Evangelho segundo Jesus Cristo

O Evangelho segundo Jesus Cristo José Saramago




Resenhas - O Evangelho Segundo Jesus Cristo


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W Nascimento 13/08/2010

Uma visão crítica do novo testamento.
Antes de mais nada tenho que dizer que qualquer crente fervoroso seguidor de Cristo vai odiar esse livro. Isso por que ele não é um trabalho voltado para ganhar fieis e sim com o objetivo e realizar uma análise crítica, detalhada e racional dos textos que compõem o novo testamento e também alguns do velho.



Também é interessate dizer que Saramago é um autor cujo estilo de escrita pode vir a incomodar alguns. Isso por uma série de motivos:

1- Ele não da espaço para os diálogos. As falas dos personagens ficam emaranhadas em conjunto com as descrições e isso pode confundir um leitor avoado.

2- Seu vocabulário é muito extenso e ele utiliza de um linguajar rebuscado. Logo, esse não é um livro para leitores iniciantes e sim para aqueles já acostumados. E também não serve para aqueles que gostam de ler um pouquinho e sim para amantes de literatura.

3- Sua narrativa é cheia de interrupções. Ele lança comentários como se fossem notas explicativas, promovendo um diálogo entre autor e leitor. Além disso, também temos as referências a acontecimentos tanto do passado quanto do futuro em sua obra, que vem a servir às notas explicativas.



"O Evangelho Segundo Jesus Cristo" é como uma mina, aonde o leitor terá de trabalhar duro para cavar as pedras, mas que, sem dúvidas, as pepitas de ouro ao fim valem o esforço.

Esse livro é sem dúvida fantástico. Saramago possui um domínio sobre a lingua exemplar, que consegue dar poesia aos assuntos mais banais. Tudo fica belo quando ele conta. Eu poderia citar passagens aonde isso possa se exemplificar, mas não quero estragar a surpresa de futuros leitores.

A crítica de Saramago é acida. Personagens como Jesus, Maria de Magdala, Deus e Diabo ganham roupagens novas, mas muito bem pensadas e coerentes com certas discussões dos textos bíblicos.



Sem dúviudas uma obra prima.

Vale a pena. Mas não se engane que vai encontrar aqui algum tipo de relato de fé. Pois não é a toa que esse livro rendeu a Saramago sua excomungação da igreja.

Willian Nascimento
Autor de “O Véu”
pordetrasdoveu.blogspot.com
Lucio 13/05/2010minha estante
dsculpa amigo, mas, pelo q sei, saramago não tem condições nenhuma (não é especialista em grego, nem em teologia bíblica e nem exegeta...) de fazer uma análise crítica de vitalidade acadêmica do Novo Testamento. Mas, como não li o livro (e ainda não passo de um leigo_'sobleigo', pra ser mais sincero...heheh_ no assunto) não posso criticar o livro... mas tenho planos para fazê-lo. Uma dscussão em cima disso seria legal...

t+


Vanessa 18/08/2010minha estante
Concordo com você em tudo.
Para ler Saramago tem que ser amante da literatura e ter estômago forte.
Saramago não escrevia para os fracos de espírito, mas sim para os fortes de coração.


xuxudrops 18/08/2010minha estante
"O Evangelho Segundo Jesus Cristo" é como uma mina, aonde o leitor terá de trabalhar duro para cavar as pedras, mas que, sem dúvidas, as pepitas de ouro ao fim valem o esforço.

Achei isso um elogio muito digno de Saramago, tão poético quanto sua escrita.


Lorrampi 24/10/2010minha estante
Eu li este livro e concordo com você em tudo.
A visão de Saramago e a forma como ele deu vida a este livro é uma coisa única. ^^

Ótima resenha, parabéns...


bardo 18/09/2011minha estante
Humm preciso ler este.. certo que meu último contato com Saramago ... rs Gosto muito dele, verdade, mas como vc disse ele exige muito do leitor.. Vc leu A Última Tentação de Cristo do Nikos Kazantzakis? Nele tb temos uma releitura sobre o evangelho, talvez menos ácida em alguns aspectos, em outros entretanto...


LMG 28/10/2011minha estante
Concordo com o Lucio, mas acho que a obra é valida como literatura de ficção e nada mais.


verô 26/02/2012minha estante
concordo com Willian. Ele descreveu muito bem o que ler Saramago e o q é ler esse livro.
Verônica Guedes


W Nascimento 18/05/2012minha estante
Também não sou exegeta, mas já li bastante textos cristãos para saber que Saramago tem propriedade no que fala. Além dos textos canônicos o livro faz referência a outros escritos que não entraram para o cânone bíblico, como os evangelhos de Maria madalena e Judas, o livro de Enoque e outros. Sem dúvidas um trabalho sublime e uma leitura crítica de qualidade.


Isaque 21/06/2012minha estante
Bom.. Estou lendo, sou cristão, acho que você fez um comentário bem acertado em vários pontos Willian, mas assim como o LMG acho o livro uma ótima obra literária de ficção!

Saramago é muito bom mesmo!


Luhlis 22/06/2012minha estante
Estou, finalmente, lendo "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", depois de meses adiando por conta da faculdade, e, sem dúvida alguma, já sei que este vai para a lista dos livros mais incríveis e geniais lidos na vida. Saramago trata a língua, as palavras, de uma maneira que dá até gosto de saber-se falante natural dela, mostra como o português é belíssimo e essencialmente poético. Além, claro, dos aspectos não estruturais da sua narrativa, aqueles ligados à ideologia e, diria até, filosofia. É um texto genial, que como vc bem disse na sua resenha, revela 'pepitas de ouro' ao leitor que se aventura e se empenha na procura. Nossa, é das melhores sensações do universo ir ligando tudo, criando sentido, ou, simplesmente, 'entendendo' e refletindo sobre aquilo que se lê. Enfim, algo doido assim. É meio quando se lê Machado de Assis e 'entende' (não gosto desse verbo, mas enfim), quando se percebe a sua ironia, suas estratégias, sua (possível) forma de conceber o homem, a condição humana, etc e tal. Vc grita: "ah, esse cara é um gênio!". Bem, como podemos perceber, sou uma baba-ovo do Saramago e estou LOUCAMENTE LOUCA pelo romance em questão! hahaha
Considerando o fato de que não terminei o romance, ouso dizer que a leitura vale mesmo muito a pena! Vale toda a pena! Vale a galinha inteira! (daquelas bestas do tempo de escola) Tanto para crente quanto para descrentes, ou céticos, uma vez que nunca será vão ou tarde para parar e pensar um pouco sobre o que cremos, o que somos, como essas duas coisas se conjugam. Enfim, discordando de alguns comentários, portanto, penso que o romance de Saramago deve ser lido não apenas como 'obra de ficção', mas como obra de vida e de homem, também. Exagero, talvez, para alguns, mas, para mim, Literatura nunca será APENAS ficção.
:D


Gabriel.Lucas 03/11/2015minha estante
Wiliam, Eu li a obra O ensaio sobre a cegueira de Saramago...
de inicio eu achei um pouco cansativa e ao termino que pude analisar todo o contexto achei surpreendente e umas das melhores obras que já li em minha vida. A pergunta é: posso esperar o mesmo desta obra ?


fellipe! 20/10/2022minha estante
Você definiu bem, boa resenha. ; )
Estou no começo do livro, e já achando rebuscadíssima a escrita.




Arsenio Meira 09/01/2014

O Evangelho de um grande escritor

José Saramago sempre esteve envolvido com a vida política de Portugal, principalmente após 1974,quando o romancista passou a se situar literariamente ao lado dos autores que vivenciaram a Revolução dos Cravos e que procuram imprimir às suas obras um traço combativo, crítico, experimental e reflexivo em relação à nova realidade portuguesa e aos novos caminhos abertos para a produção artística.

Não à toa, sua ficção é tocada por um empenhado trabalho de resgate, e de riscos diante da matéria histórica que escorre pelo universo ficcional; sobretudo, uma perspectiva irônica e subversiva em relação ao discurso literário, historiográfico e político. Acerca dessa ficção portuguesa atual que escreve a História, discutindo na tessitura narrativa os mecanismos e os caminhos ficcionais a serem percorridos pelo romancista no seu afã de dizer bem desse jogo que o universo narrativo estabelece com o leitor, destaca-se a produção monumental de José Saramago.

É difícil manter-se distante, impassível diante da sedução que faz parte do estilo Saramago de escrever.

“O Evangelho segundo Jesus Cristo” transporta o leitor por caminhos tão singelos e ao mesmo tempo tão polêmicos que é difícil dar conta de saber aonde essa viagem leva. A trama, bem trabalhada, além de mostrar Jesus Cristo como homem comum, também o leva à categoria de Reis dos Reis sem deixar que isso interfira, por exemplo, na sua relação conflituosa com sua mãe, no seu amor por Maria de Magdala ou no seu comportamento desafiador perante Deus.

José Saramago convida aos leitores a tirar das páginas dos livros e trazer para a vida, para o mundo tais experimentações; é a magia da verossimilhança. Para tornar a personagem o mais próximo possível do leitor, o autor força-o a uma atitude surpreendentemente nobre: lança-o ao mundo à procura do vizinho e amigo, ele não só o encontra, mas também acaba encontrando a libertação através da morte de maneira injusta. José está redimido.

Não há nada mais contemporâneo do que a morte de um inocente. Através da morte de José o texto mantém os leitores presos à realidade e sentimentalmente ligados à história e ao anunciado destino do ainda menino Jesus, já que o pai encontra seu fim tal qual ele próprio encontrará: crucificado aos 33 anos.

Além disso, a subtrama protagonizada por José faz o público-leitor viajar no tempo e o faz imaginar que papel teria hoje o pai do filho de Deus se a obra fosse contemporânea aos Evangelhos bíblicos. Em teoria, sempre se pode inventar um sistema que torne plausíveis pistas que, em outras circunstâncias não teriam ligação.

O Jesus criado por José Saramago é, afinal, um homem comum com todos os defeitos ou homem santo, acima do bem e do mal? No Evangelho do autor português, graças as suas metáforas bem criadas, ao seu gênio subversivo e estético, aos conflitos bem resolvidos e aos diálogos esclarecedores, Jesus é recriado com a dupla face dos seres humanos, sem perder sua face iluminada e messiânica.

Renata CCS 09/01/2014minha estante
Arsenio,
Assisti a peça há alguns anos e gostei demais! Montada a partir deste livro, a peça fixou-se no capítulo em que ocorre o encontro entre Jesus com Deus e o Diabo, suscitando dúvidas de ordem existencial nos três personagens. Achei fascinante e fiquei bastante instigada em ler esta obra.
Grande abraço!


Arsenio Meira 09/01/2014minha estante
Renata, leia. É perturbador. E olhe que o tema é gasto, cediço, mas nas mãos de Saramago... E o encontro entre Jesus com Deus e o Diabo, e o oceano de todo tipo de incerteza que surge a partir de então, lembrando um pouco o genial Dostoieveski, isto tudo ao vivo, deve ter sido acachapante! Um soco! , rs. Um grande abraço pra você também.


Gabriela 03/06/2014minha estante
Arsenio eu só não entendi uma coisa do livro... O anjo do inicio do livro, que bate na porta e fala com maria é o diabo?


Arsenio Meira 03/06/2014minha estante
Oi Gabriela. Lembro o início do romance. Este anjo esteve por perto em muitos momentos da vida de Jesus. Saramago deixa em aberto: não se sabia se ele era do bem ou do mal. É lícito pensa que era Jesus se disfarçando de mendigo pra testar a bondade dos homens. Mas não, acho que não. Essa dúvida angustiou Maria por nove meses até ouvir da boca deste anjo, diante na manjedoura do recém-nascido, tais palavras:

"Com estas minhas mãos amassei este pão que te trago, com o fogo que só dentro da terra há o cozi"

Como na história que vem sendo recontada por dois mil anos, José, ao descobrir que os romanos matariam todas as crianças de Belém, menores de três anos, fugiu com o filho. Na versão de Saramago, José salvou Jesus mas passou a carregar consigo a culpa de não ter salvo a vida dos outros meninos da cidade. Sem conseguir se perdoar, sonhou todas as noites com o acontecimento até o dia de sua morte. Jesus herdou os sonhos do pai e, perdendo sua paz, partiu em busca de explicações. Deixou a mãe com oito irmãos menores e levou as sandálias do genitor, num gesto simbólico, talvez, de que as histórias se repetem. Mas se Jesus está fadado a seguir os passos do pai, resta saber se Deus ou José. Mas acho que não é o Diabo.


Gabriela 03/06/2014minha estante
Eu achei todo tempo que era ele!
Sensacional o livro! Saramago é demais!
Obrigada pela resposta e atenção =)


Lucia 29/11/2014minha estante
Arsenio, teu comentário me deu ainda mais vontade de ler este livro!! :) Já leste "Caim"? Segue uma linha muito parecida com a de "O evangelho segundo Jesus Cristo", mas falando de Caim, que é lá do velho testamento.


Ferreira.Souza 14/10/2020minha estante
livro se concentra nas ideologias de Saramago


Aline 05/02/2021minha estante
Gostei muito de sua resenha. Ainda não li essa obra de Saramago, mas só de ler o último parágrafo, já fiquei curiosíssima.


Ricardo.Silvestre 21/02/2022minha estante
Esse livro vai ser o próximo que eu vou ler. Saramago nunca desilude, não é?


Renato 09/02/2023minha estante
Fico feliz quando vejo que há uma resenha do Arsênio sobre algum livro que pretendo ler. São sempre textos de qualidade e muito abrangentes, além de uma crítica que somente leitores com muita bagagem conseguem apresentar. Saudade.




Ricardo.Silvestre 04/04/2022

Jesus e sua história
Uma abordagem muito interessante daquele que foi o Rei dos Judeus, trazido ao mundo como peça fundamental de um plano de Deus, seu pai.

Não vou dizer que não tive dificuldades em alguns pontos da leitura. Já todos sabemos que a falta de pontuação característica de Saramago pode fazer com que assim aconteça. Apesar de se ganhar algum hábito com esta forma de brincar com a pontuação, tive muitos momentos em que precisei voltar atrás e reler o mesmo parágrafo. Ossos do ofício, alguém dirá.

À parte disto, e também porque esta foi a obra que levou José Saramago a ganhar o prémio Nobel de Literatura em 1998, aconselho muito a sua leitura.
SimoneSMM 04/04/2022minha estante
Um dos melhores que li de Saramago, se não for o melhor. Certamente, um dos livros que mais me impressionaram na vida!


Ricardo.Silvestre 04/04/2022minha estante
Eu confesso que gostei mais do ?Ensaio Sobre a Cegueira? mas este não deixa de ser um bom livro por causa disso. ?


SimoneSMM 04/04/2022minha estante
O Ensaio sobre a Cegueira é impressionante! Um livro que toca profundamente. Esse toque de humanidade e realismo que Saramago coloca em seus livros, é o que me encanta. Mesmo com a dureza que ele expõe. O Ensaio é um livro que dói.


Ricardo.Silvestre 04/04/2022minha estante
De todos os que já li até agora, esse foi o que mais me marcou.


Bragança 09/04/2022minha estante
Quero ler.


Ricardo.Silvestre 09/04/2022minha estante
@Bragança
Vai em frente que não se arrependerá!!! ?




Gisele.Maravieski 19/07/2016

Saramago não é para mim.
Depois de algumas tentativas tenho mesmo que admitir que Saramago não é para mim. Embora seus livros sejam interessantes, com temas excepcionais, eu não consegui me acostumar com a técnica de narrativa dele, apesar das tentativas.Tentei, mas não deu...
Guiga 19/01/2017minha estante
Estou na quarta tentativa... Vamos ver.


Gisele.Maravieski 24/01/2017minha estante
Boa sorte! :-)


Fabio.Azevedo 02/04/2018minha estante
Uma pena, mas não desista. Retome daqui algum tempo.


Karina.Agra 19/04/2019minha estante
Tamo junta, Gisele! Saramago tambêm não é pra mim...


Giulia 27/06/2019minha estante
Caso vc queria trocar esse livro por algum que eu tenha podemos negociar uma troca!




spoiler visualizar
Levi 09/09/2015minha estante
Dirce, esse também foi o meu primeiro Saramago. Lembro que um amigo me deu quase que dizendo: "esse autor vai desfazer sua fé". O tiro saiu pela culatra. Não perdi a fé (nem acho que Saramago perca tempo com isso), gostei do livro e fui totalmente cativado pelo estilo de escrita do autor, que é hoje um dos meus favoritos. Já li quase tudo dele. Seus livros são sempre recheados dessas "cutucadas" no evangelho. Algumas me rendem boas risadas, outras me levam a ótimas reflexões e pesquisas, como nenhum outro livro "cristão" (se é possível usar esse termo) faz.


DIRCE 09/09/2015minha estante
Então Levi, pode haver outros Saramago sim, mas preciso de um tempo de calmaria.


Manuella_3 22/09/2015minha estante
Ainda não li o Evangelho, Dirce, e tenho muita curiosidade. Estreei no universo Saramago com o Ensaio sobre a Cegueira,e que apesar de não ser do meu gênero preferido, foi o livro que me deixou acordada na madrugada para devorá-lo de uma vez. Coisa rara, nada tira meu sono. Aí foi encanto e paixão pela escrita de Saramago, suas ideias... emendei com A Caverna e neste há uma das mais belas cenas de amor não dito, apenas delicadamente descrito. Um livro curioso, humano. Intermitências da morte me soou cansativo, mas Saramago está no topo dos meus autores preferidos. Quero ler o Evangelho e ficar chocada, mas já sabendo disso vou me divertir.
Bela resenha, vc é responsável por muitas escolhas minhas. :)


DIRCE 23/09/2015minha estante
Saudade, Manu.
Não é do seu tempo, mas havia uma propaganda que dizia o primeiro sutiã a gente nunca esquece. Pois é: o primeiro Saramago a gente nunca esquecerá, posso afirmar. Foi um tsunami. Assisti ao filme Ensaio sobre a Cegueira. Não sei o filme faz jus ao livro, mas achei impactante e assustador. E, apesar do abalo provocado por O Evangelho... , Saramago ganhou uma leitora porque gostei muito do estilo dele. Tenho um sério problema: não gosto de narrativa recheadas de travessões, durante a leitura do Evangelho..., nem os percebi que eles estavam ali ( embora ocultos) porque Saramago os substituiu por virgulas e me passou totalmente despercebido que eu estava diante de um tipo de narrativa que me desmotiva. Beijo grande e boas leituras.


Manuella_3 23/09/2015minha estante
O filme bem fiel ao livro, uma ou outra coisinha que muda.




Alan Martins 25/12/2018

O Evangelho segundo José Saramago
Título: O Evangelho segundo Jesus Cristo
Autores: José Saramago
Editora: Companhia de Bolso
Ano: 2005
Páginas: 376

“Filho, a ocasião pode sempre criar uma necessidade, mas se a necessidade é forte, terá de ser ela a fazer a ocasião.” (SARAMAGO, José. O Evangelho segundo Jesus Cristo. Companhia de Bolso, 2005, p. 265)

Assumidamente ateu, José Saramago teceu inúmeras críticas à Igreja Católica ao longo de sua vida. Em ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’, encontramos uma obra que engloba muitas dessas críticas, que se estendem à Bíblia e ao cristianismo. Todavia, não se trata apenas de críticas, e sim de um romance muito bem escrito.

Nobel lusófono
Nascido em 1922, filho de agricultores, José Saramago, até o momento, é o único autor lusófono a ser laureado com o Nobel de Literatura. Isso aconteceu no ano de 1998, pegando o autor e seu editor de surpresa.

É o autor de livros reconhecidos mundialmente, como o próprio ‘O Evangelho segundo Jesus Cristo’, ‘Ensaio sobre a cegueira’, ‘O ano da morte de Ricardo Reis’, entre outros.

Além da literatura, foi conhecido por suas posições políticas e por suas críticas à Igreja Católica. Faleceu em 2010, aos oitenta e sete anos de idade.

“[…] pois o Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um deles é somente ausência do outro.” p. 12

Recontando a vida de Jesus Cristo
No mundo ocidental, é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar em Jesus Cristo, em sua história, que é narrada nos Quatro Evangelhos, presentes no Novo Testamento. Foi a figura de Cristo que inspirou o cristianismo e suas diversas vertentes, que possuem muita força no Ocidente.

Porém, as histórias que encontramos nos Evangelhos não narram toda a vida de Jesus, que teria sido crucificado com trinta e três anos de idade. Ficamos sabendo sobre o seu nascimento e sobre sua vida adulta, já próximo ao tempo de sua morte; há uma grande lacuna sem respostas. Como teria sido a infância de Cristo, sua adolescência e início da vida adulta? Não temos essas informações na Bíblia.

Aproveitando esse espaço em branco, José Saramago usou toda sua criatividade, inteligência e habilidade de escrita para focar nesses espaços de tempo que não são narrados na Bíblia, com uma grande ênfase na adolescência de Jesus, quando ele começou a se compreender como homem, até conhecer sua missão na Terra, que lhe é dita por Deus em pessoa.

“[…] o melhor é não arriscar juízos morais peremptórios porque, se ao tempo darmos tempo bastante, sempre o dia chega em que a verdade se tornará mentira e a mentira se fará verdade.” p. 159

Pitada de polêmica
Saramago tomou muita liberdade para escrever seu romance, e acabou por alterar alguns eventos bíblicos, como, por exemplo, José, pai de Jesus, que neste livro é morto crucificado (aos trinta e três anos de idade), ao ser confundido como um rebelde. Ademais, temos uma suposta trindade, composta por Deus, Jesus e o Diabo. Ou seja, há muita coisa nesse livro que vai de encontro à doutrina católica, por isso a Igreja Católica de Portugal não gostou nada e criticou o autor.

Também temos algumas cenas que envolvem sexo. Saramago quis humanizar os personagens, principalmente a figura de Jesus Cristo. No início temos uma cena onde José faz sexo com Maria, o momento em que a semente de Jesus é plantada, com a ajuda de uma intervenção divina. E o próprio Jesus satisfaz suas necessidades carnais, com Maria Madalena (ou de Magdala, como é chamada no livro), uma ex-prostituta que será o par romântico de Jesus.

Toda essa história é contata com o estilo característico de José Saramago: parágrafos longos, diálogos sem sinalização especifica (ele apenas os separa por vírgula), nem perguntas são sinalizadas, não há uso de ponto de interrogação ou exclamação. Quem lê um de seus livros pela primeira vez pode estranhar esse estilo, mas, no decorrer da leitura, ficamos acostumados com essa escrita “diferente”, e isso não será um problema. O que é diferente, às vezes, assusta, mas não precisa ter medo.

Além de nos contar uma história, o autor também faz algumas reflexões sobre a fé, sobre Deus e a religião. Na maioria dos casos, essas reflexões são críticas, trata-se da posição do próprio Saramago. A linguagem apresentada varia um pouco, às vezes é mais simples, às vezes mais complexa, o que demonstra a habilidade do autor e faz desse romance algo único.

Nos primeiros capítulos a narrativa é um pouco lenta, não tão interessante assim, mas todo detalhe apresentado será importante. Quando a jornada de Jesus tem início, as coisas ficam mais interessantes. O melhor do livro está na metade para frente, culminando em um final muito bem elaborado, que pode deixar muita gente de boca aberta. Vale a pena chegar até o final da leitura, você não vai se arrepender.

Por fim, vale ressaltar o motivo de Deus ter exercido sua força para que Jesus fosse concebido, que se assemelha a uma teoria da conspiração contra os demais deuses que existem ao redor do mundo. Saramago também retira do Diabo qualquer culpa pelos problemas do mundo, deixando tudo como consequência das ações de Deus, que busca uma maior popularidade entre os mortais. Muitos cristãos podem ficar incomodado com a leitura, entretanto, quem tem fé verdadeira não será abalado, e pode achar o livro interessante, afinal é uma obra que pode te fazer (e vai) refletir.

“[…] o tempo não é uma corda que se possa medir nó a nó, o tempo é uma superfície oblíqua e ondulante que só a memória é capaz de fazer mover e aproximar. p. 137

Sobre a edição
Edição de bolso, ou seja, tamanho reduzido, brochura, capa sem orelhas. O papel utilizado no miolo é o Pólen Soft, e, claro, a diagramação é reduzida, com fonte pequena e pouco espaço entre as linhas. Estamos falando de uma edição de bolso que se propõe a ser mais barata (às vezes fica só na proposta, pois o preço continua elevado).

A ortografia segue o original, ou seja, é o português de Portugal. Saramago não gostava que seus livros fossem adaptados para o português local. Isso não é um problema, apenas algumas palavras são diferentes. O estilo original é mantido, o que é melhor.

“[…] deserto é tudo quanto esteja ausente dos homens, ainda que não devamos esquecer que não é raro encontrar desertos e securas mortais em meio de multidões.” p. 61

Conclusão
Quem se interessa pela Bíblia, seja pela fé, por estudo ou apenas curiosidade, vai ficar interessado em conhecer a história de um Jesus humanizado, com as necessidades e dúvidas de qualquer ser humano comum. No Novo Testamento existe uma lacuna na história de Jesus, pouco (ou nada) se sabe sobre sua adolescência e início da vida adulta. José Saramago dá grande ênfase nessas fases da vida do jovem Jesus, que deixa sua família e parte para uma jornada de descoberta e aprendizado, até ter seu encontro com Deus e descobrir muito mais a respeito de si, sobre sua real missão. Escrito com o estilo característico de seu autor, esse livro apresenta muitas reflexões e críticas à Bíblia e, principalmente, à Igreja Católica, que não gostou nada e também criticou Saramago, dizendo se tratar de uma obra que fere a fé. A polêmica se deu, também, pelas cenas sexuais, entre Maria e José, e também entre Jesus e Maria Madalena (de Magdala). Não é uma obra que vai fazer alguém abandonar sua religião, trata-se de um autor que tomou a liberdade para especular sobre a vida de Jesus, principalmente sobre os períodos menos conhecidos de sua vida, dos quais não há evidências. Uma obra que traz muitas críticas, mas que, ao mesmo tempo, faz o leitor pensar a respeito de muita coisa. Ademais, esse livro apresenta um dos melhores finais de todos. Fique atento aos pequenos detalhes e, caso ache o começo arrastado, insista na leitura, valerá a pena.

“O barro ao barro, o pó ao pó, a terra à terra, nada começa que não tenha de acabar, tudo o que começa nasce do que acabou.” p. 23

Minha nota (de 0 a 5): 4

Alan Martins

Visite meu blog.

site: https://anatomiadapalavra.com/2018/12/25/minhas-leituras-98-o-evangelho-segundo-jesus-cristo-jose-saramago/
Vítor Gomes 09/06/2019minha estante
Adorei a sua crítica e gostaria de lhe perguntar uma coisa.
Eu estou pensando em compra o livro só q eu n sei se essa edição de bolso tem uma diagramação boa e eu queira peeguta isso, a edição de bolso tem uma diagramação boa? A letra é confortável para a leitura?


Alan Martins 13/06/2019minha estante
Você já leu algum livro de bolso da L&PM? Essas edições de bolso da Companhia das Letras são bem melhores, a fonte é um pouco maior. Mas, como todo livro de bolso, a fonte não é tão grande e as margens mais estreitas, assim como o espaçamento entre linhas. Mas digo que essa edição é boa para ler, não senti desconforto. E a versão padrão desse livro é bem cara. Acho que compensa.
Obrigado pelo elogio!
Abraço.


Vítor Gomes 14/06/2019minha estante
Haa bom saber. Qual livro do Saramago vc me recomenda para começar a lelo?


Alan Martins 23/06/2019minha estante
Pode ser por esse mesmo. Não há muito segredo em ler Saramago. Considero essa uma boa leitura que vai deixar uma boa impressão.


Vítor Gomes 25/06/2019minha estante
Haaa obrigado mt obrigado




Ma_ah 13/09/2023

Esta bela obra literária escrita por José Saramago em 1991, apresenta uma interpretação ficcional da vida de Jesus Cristo, explorando questões religiosas, filosóficas e sociais de uma maneira única e provocadora. Conta a jornada de Jesus desde o seu nascimento até a crucificação, mas com enfoque nas complexidades da natureza humana do protagonista e nas tensões entre o divino e o terreno. Ele retrata Jesus como um homem com dúvidas, conflitos internos e desafios pessoais, tornando-o mais acessível aos leitores. Saramago também questiona a ortodoxia religiosa ao explorar temas como a liberdade individual, o papel da igreja, a moralidade e a responsabilidade, que nos desafia a refletir profundamente sobre as questões levantadas. Diria que é uma obra literária provocativa que estimula a reflexão sobre as crenças religiosas e a natureza humana. José Saramago tece uma narrativa complexa e instigante que convida os leitores a questionar, debater e interpretar de maneiras diversas, tornando-a uma leitura enriquecedora e desafiadora. Uma obra que todos deveriam ler.
Gleidson 13/09/2023minha estante
Ainda não li e quero ler. Sua resenha potencializou essa vontade. Bela resenha!


Ma_ah 13/09/2023minha estante
Esse é o livro da minha vida. Uma verdadeira catarse para mim. Amo Saramago!


Gleidson 20/09/2023minha estante
Saramago é bom demais! O primeiro dele que eu li foi As Intermitências da Morte. Fiquei impressionado com a capacidade crítica dele.


Ma_ah 21/09/2023minha estante
Todos os livros dele são excelentes, num nível surreal... mas te recomendo "A Caverna" e "Caim" que, juntamente ao "Evangelho", formam a minha santíssima trindade ..Abraços!




Carlos Alberto 11/10/2010

Sensacional.
O Evangelho, biblicamente falando, é narrado por quatro pessoas: Mateus, Marcos, Lucas e João. Saramago se propõe, então, a narrar da sua forma esta história mundialmente conhecida.

Com uma descrição impecável e algumas vezes repetitiva, José Saramago relata a vida de um Jesus comum, humano, com suas necessidades e ambições, culpas e remorsos, filho de um José crucificado e uma Maria incrédula. Irmão de outros sete, abandona a casa ao treze anos após descobrir que seu pai deixou que matassem as crianças de Belém, a mando de Herodes, pois preferiu salvar a sua própria, mas que afinal estava em segurança numa caverna longe da cidade. Viveu quatro anos ao lado de um autodenominado Pastor, até que um dia vê Deus em formato de nuvem, no meio do deserto. Há uma aliança a ser feita: em troca de póstumas glória e poder, Deus quer a vida do Seu Filho, Jesus; aliança aceita. O Filho de Deus descobre os desejos da carne com uma prostituta, Maria, da cidade de Magdala, com quem acaba por dividir o resto de seus dias na Terra. Torna-se pescador, embora não tivesse a mínima vocação para isso. Arrasta exércitos de seguidores, crentes em seus milagres, seus exorcismos e suas pregações de arrependimentos e belas histórias contadas. Morre nu, ao lado de dois ladrões, como o Rei dos Judeus e com uma mãe ressentida aos pés: "Homens, perdoai-lhe, porque Ele não sabe o que fez".

Saramago faz de Deus um deus mesquinho, que quer sempre poder e glória e para conquistar mais adoradores, usa de Jesus como ferramenta: "Vai, ande a pregar o arrependimento. Diga: Arrependei-vos. Não há ser humano que não tenha pecados. Ah... e se eles não te derem ouvidos, use a imaginação, conte parábolas, e não se preocupe se eles não as entenderem, deixe lhes ficar a dúvida e pensar que se não conseguem entender, a culpa é só deles. Para arrematar, tu morrerás numa cruz, morrerás como um mártir para seres lembrado no futuro, e ampliar meu domínio sobre o ocidente, sobre as terras a serem descobertas."

Esta obra é simplesmente fantástica do ponto de vista ficcional, mas pode ir contra os valores dos mais religiosos. Saramago com certeza quis isso, e eu o apóio.
Guga 17/11/2010minha estante
Meu amigo Arnie, você cometeu um erro enorme. Saramago trata sim Deus como figura literária, escreve esse trecho, que faz parte do diálago entre Deus, o Diabo e Jesus, para ver como não faz sentido a crença religiosa em Jesus. Só isso. Você se equivocou tremedamente.

O único burro aqui é você, que chama Saramago de burro, sem ter lido o livro, pegando trechos soltos. E não leia mesmo, Saramago não é para cabeças fechadas como você.


Ivan Picchi 08/12/2010minha estante
bem retardado mesmo, o argumento


Pâmella 02/01/2011minha estante
Tanta discussão é mais um convite para ler o livro!!




Ana Letícia Brunelli 17/07/2017

Questionar é fundamental.
Considero que para ler este livro é preciso que o leitor se desapegue de crenças religiosas. Apesar da estória ter personagens e passagens bem conhecidas, trata-se de uma nova estória, fictícia, na qual o autor reconta os passos de Jesus através de sua ótica. Seus personagens são muito mais humanos e próximos da realidade como a conhecemos, sujeitos a dualidade entre o bem e o mal, suscetíveis a sentimentos contraditórios e a atitudes incertas. Dessa forma, contrária à forma canônica mundialmente difundida, o autor coloca suas ideias sobre sociedade, fé, comportamento humano, e principalmente, seus questionamentos sobre Deus.
Independente de concordar ou não com os pontos de vista do autor, considero incrivelmente inteligente a forma como ele os insere e os aborda em seus textos.
Vejo José Saramago como um grande questionador, e é isso que tem despertado meu interesse por suas obras. Penso que acreditar é importante, mas questionar é fundamental.

'O firmamento, o imenso olho negro de Deus crivado daquelas luzes que são o reflexo deixado pelos olhares dos homens que contemplaram o céu, geração após geração, interrogando o silêncio e escutando a única resposta que o silêncio dá'.
Kelly 30/07/2017minha estante
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Fabiano 10/08/2017minha estante
Fictícia? Acredito que 'versão' é uma palavra mais bem empregada nesse caso.


Ana Letícia Brunelli 11/08/2017minha estante
Concordo com o emprego da palavra 'versão', mas a considero 'fictícia' uma vez que o autor não foi testemunha ocular dos fatos e nem é um pesquisador histórico. Não creio que o autor considerasse sua versão 'verdadeira'. Creio até que ele não considerava versão nenhuma verdadeira. Entendi que ele apenas recontontou uma história mundialmente conhecida através da sua visão de sociedade e comportamento humano, a qual eu considerei 'incrivelmente inteligente'. Agora, se aconteceu, e como exatamente aconteceu, eu pergunto: como alguém pode ter alguma certeza?




Debora 03/04/2020

Um ateu que conhece a Bíblia e entendeu Jesus
Saramago revisita as histórias da Bíblia neste livro, sem os dogmas interpretativos das religiões.
Ele reescreve a história a partir de um Jesus humano, um Jesus que ama - não só Maria de Magdala, mas a humanidade. Mas um Jesus que está fadado a viver o que Deus decidiu.
O último capítulo é um primor de tentativa e humanidade.
Saramago entregou, do meu ponto de vista, um livraço.
Etiene ~ @antologiapessoal 03/04/2020minha estante
aaaa esse autor :)


Alexia 03/04/2020minha estante
Esse livro é incrível! Também está entre meus favoritos :)


Debora 03/04/2020minha estante
Muito bom!




Fabio Shiva 28/08/2010

Posso imaginar...
...que alguém leia esse livro e diga: Fabuloso!!!

Posso imaginar que outro leia e fale: Ultraje!!!

O que é inconcebível é que, depois de ler Saramago, se diga algo como: É, até que foi legalzinho... ou então: achei meio fraco...

Pois com Saramago é assim, ou você ama ou você odeia. Não há como considerá-lo mais ou menos. Saramago pode ser tudo, menos morno.

Mas o que eu mesmo posso dizer a respeito de O Evangelho Segundo Jesus Cristo? Terminada a leitura, fechada a última página, o que se seguiu foi um silêncio ainda cheio de assombro, onde faltam palavras.

O maior escritor da atualidade em língua portuguesa decide recontar a mais famosa de todas as histórias, a história que moldou o mundo como nós o conhecemos hoje. Qual terá sido a intenção de Saramago ao fazer isso? Qual a sua perspectiva, o seu ponto de vista? Que mensagens tencionava passar?

A pista maior para responder a essas perguntas está no próprio título do livro. Creio que Saramago quis contar a história de Jesus pelo ângulo humano, demasiado humano. Uma decisão corajosa, que foi levada a cabo com muito talento e habilidade.

Não posso dizer que concordei com o ponto de vista do autor. O Cristo que ele vê difere bastante do que eu vejo, embora os dois tenham em comum o fato de estarem bem distantes das versões oficiais e comumente aceitas. Essas minhas objeções, no entanto, são puramente espirituais ou filosóficas. Do ponto de vista estritamente literário, Saramago é um mestre irretocável.

Por aí já deu para se perceber que esse não é um livro recomendável para todos. Pessoas com uma visão religiosa muito rígida irão encontrar muitos motivos para se ofender ou se deixar influenciar. Pois esse é um livro que irá testar as suas convicções, sejam elas quais forem.

Lendo esse livro, finalmente entendi porque achei a versão cinematográfica de Ensaio Sobre a Cegueira tão mais densa e pesada que o original. É que Saramago escreve sempre com um leve sorriso irônico nos lábios, mesmo ao contar os maiores sofrimentos, e foi justamente essa relativa leveza de sua prosa que não havia como transpor para um filme.

A prosa de Saramago, aliás, merece ser louvada à parte, e também criticada, pois tanto há quem ame como quem odeie, como já foi mencionado, essa peculiar característica de engolir os pontos parágrafos e emendar tudo entre vírgulas, algo que exige habilidade não só de quem escreve, como de quem lê, para corretamente identificar e interpretar as orações coordenadas e subordinadas, alguns aqui já irão fechar a cara só de imaginar o esforço que será ler Saramago, asseguro que nem tanto, nem tanto, basta um pouco de boa vontade para apreciar o seu mistério, fica aqui essa pálida imitação como um exemplo, em se querendo, nada é impossível.

Voltando ao Evangelho, em resumo, nesse primeiro momento após a leitura minha posição é ambivalente. Esperava mais do autor. Esperava menos do livro.

(16.07.09)

Carla Macedo 02/09/2010minha estante
Depois desta resenha só me resta lê-lo o mais rápido possível! A PÁLIDA IMITAÇÃO foi excelente! Nem me atrevo a fazê-la! Conheci o Sr. Saramago através do Memorial do Convento e foi exatamente a forma de escrever que me cativou primeiro pelo desafio destas páginas iniciais e depois foi somente puro deleite.


Fabio Shiva 02/09/2010minha estante
Valeu pelo comentário!
Ainda não li Memorial do Convento, quero muito!!!


Peônia 15/02/2016minha estante
Resenha incrível, Fabio!




Thiago 13/01/2016

Uma bosta! (E não me refiro a questões religiosas)
Li esse livro no ano passado.
Achei uma porcaria.
Antes de ler eu via comentários dizendo que era "o final mais surpreendente da literatura", "nossa, que livro incrível"
Achei péssimo. Achei o final meio jogado... achei que a "rebelião" de jesus aconteceu meio de repente. Tmb achei meio ingênuo Ele (Jesus), que já tinha conversado com Deus a respeito do que precisava acontecer, nao perceber que era exatamente aquilo que Deus "queria" que Jesus fizesse. Saramago inventou um Jesus emo/mimimi que não me convenceu nem um pouco.


Isso sem falar na forma como Saramago escreve. Tudo misturado e embolado, narração /pensamento/falas, tudo no mesmo parágrafo gigantesto que às vezes ocupa 4 páginas seguidas sem um ponto final sequer. Uma bosta!
Uma vez ouvi um comentário de um pseudo-intelectual dizendo que "grandes escritores" escrevem pra poucos. Se é fácil de ler é 'povão' e não presta". Quanta bobagem!!!! Alexandre Dumas e Dostoiévski (só pra citar dois) escreviam em fascículos de jornal (fácil de entender e de altíssima qualidade) mais povão que isso impossível.

Se o "estilo de escrever inovador e incrível" do Saramago for apenas para se destacar dos outros "mortais" da literatura, tipo a capa invisível que só quem é inteligente consegue ver (e que todo mundo jura que está vendo), só faz ele ser mais bosta ainda a meu ver.

E não venham me dizer que ele é bom só por ser o único prêmio nobel da literatura portuguesa. Prêmio Nobel não é atestado de qualidade. Até a (hoje execrada) lobotomia já foi laureada com um prêmio nobel. Provavelmente o comitê do nobel se arrependa mortalmente de ter premiado os criadores da lobotomia, mas agora já era...

Uma merda.
HL Castro 01/02/2016minha estante
Concordo com a sua resenha e agora até estou me achando generoso de ter dado 3 estrelas para o livro!

Mas ainda vou dar uma chance ao Saramago e lerei "Ensaio sobre a Cegueira". Pois este me decepcionou ao ponto de ficar com má impressão do autor.


Diogo 15/03/2016minha estante
Que cólera imatura, vamos ver se um dia passa.


Biasak 19/10/2016minha estante
A forma como Saramago escreve, de fato, não é para qualquer um. E não digo do ponto de vista intelectual do fácil ou difícil, e sim da necessidade de se abstrair as formalidades para se captar a essência. Pelo que entendi de 'Ensaio sobre a Cegueira' e 'Ensaio sobre a Lucidez', o homem gosta de criar experimentos colocando os personagens em situações extremas para depois estudar os sentimentos e comportamentos humanos que regem a trama. Algo que deu muito certo com o primeiro livro e distintamente errado com o segundo. Não sou super conhecedora de Saramago, mas não generalize. 'O Evangelho segundo Jesus Cristo' pode apenas ter sido um experimento que não deu certo...




OgaiT 12/04/2020

O Evangelho segundo Saramago
Saramago, como bom ateísta, foge aos padrões doutrinários do Cristianismo. Por meio de uma escrita ácida e sarcástica, recorre a sua interpretação dos evangelhos bíblicos para contar a história de Cristo. E história digna dos mais eruditos adjetivos. É um dos meus romances favoritos.
Com uma estrutura narrativa que lembra muito o Vidas Secas de Graciliano Ramos, por ser um ciclo, o autor inicia e termina a obra no mesmo ponto de partida. O narrador, a partir de uma minuciosa observação de um determinado quadro, no qual temos a crucificação de Cristo, cita um dado importante quanto a água com vinagre dada a Jesus, o que é uma alusão a certas interpretações equivocadas que nós, os Cristãos, fazemos da Bíblia.
"Lá atrás, no mesmo campo onde os cavalheiros executam um último volteio, um homem afasta-se, virando ainda a cabeça para este lado. Leva na mão esquerda um balde e uma cana na mão direita. Na extremidade da cana deve haver uma esponja, é difícil ver daqui, e o balde, quase apostaríamos, contém água com vinagre. Este homem, um dia, e depois para sempre será vítima de uma calúnia, a de, por malícia ou escárnio, ter dado vinagre a Jesus ao pedir ele água, quando o certo foi ter-lhe dado a mistura que traz, vinagre e água refresco dos mais soberanos para matar a sede, como ao tempo se sabia e praticava. Vai-se embora, não fica até ao fim, fez o que podia para aliviar as securas mortais dos três condenados, e não fez diferença entre Jesus e os Ladrões, pela simples razão de que tido isto são coisas da terra, que vão ficar na terra, e delas se faz a única história possível." (p. 12-13).
Sobre o enredo vamos acompanhar a vida de Jesus Cristo, para além dos episódios bíblicos, o acompanhamos do seu nascimento até a sua crucificação. Um outro ponto muito importante, repetido pela grande maioria das resenhas, é a humanização dada pelo narrador a Jesus Cristo: cheio de medos, inseguranças, pecados, teimosia, questionador, desejos sexuais, um típico ser humano. Por sua vez, José e Maria, seus pais, também passam por essa "humanização" que é suprimida pelos dogmas cristãos, os quais são a todo momento abordados de maneira sarcástica pelo narrador:
"Mas o mal que nasceu com o mundo, e dele, quanto sabe, aprendeu, amados irmãos, o mal é como a famosa e nunca vista ave Fénix que parecendo morrer na fogueira, de um ovo que as suas próprias cinzas criaram volta a renascer. O bem é frágil, delicado, basta que o mal lhe lance ao rosto o bafo quente de um simples pecado para que se lhe creste para sempre a pureza, para que se quebre o caule do lírio e murche a flor da laranjeira. Jesus disse à adúltera. Vai e doravante não tornes a pecar, mas no íntimo ia cheio de dúvidas."(p. 293-294).
Dois alertas aos futuros leitores: prestem atenção no anjo, no pastor e na cuia, pois são peças fundamentais da narrativa. O outro alerta é a de que Saramago não utiliza marcação dos diálogos, é o famigerado monobloco tão detestado pelos corretores de redação.
Paulinho 14/04/2020minha estante
Perfeito!


OgaiT 14/04/2020minha estante
Verdade, esse é um dos meus livros favoritos


Paulinho 14/04/2020minha estante
Meu também. Li 2x e vivo tentando resistir a lê-lo de novo.




Léia Viana 30/06/2017

"Como sempre desde que o mundo é mundo, para cada um que nasce, há outro que agoniza."
“Vês tu, ó Pilatos, ele confessa, e tu não podes deixar ir-se com a vida salva quem, diante de testemunhas, se declarou contra ti e contra César. Pilatos suspirou, disse para o sacerdote, Cala-te, e, tornando a Jesus, perguntou, Que mais tens para dizer, Nada, respondeu Jesus, Obrigas-me a condenar-te, Faz o teu dever, Queres escolher a tua morte, Já escolhi, Qual, A cruz, Morrerás na cruz. Os olhos de Jesus, enfim, procuraram e fixaram os olhos de Pilatos, Posso pedir-te um favor, perguntou, Se não for contra a sentença que ouviste, Peço-te que mandes pôr por cima da minha cabeça um letreiro em que fique dito, para que me conheçam, quem sou e o que sou, Nada mais, Nada mais. Pilatos fez sinal a um secretário, que lhe trouxe o material de escrita, e, por sua própria mão, escreveu Jesus de Nazaré Rei dos Judeus. O sacerdote, que estivera entregue ao seu contentamento, deu-se conta do que sucedia e protestou, Não podes, escrever Rei dos Judeus, mas sim Que Se Dizia Rei dos Judeus, ora Pilatos estava enfadado consigo mesmo, parecia-lhe que deveria ter mandado o homem à sua vida, pois até o mais desconfiado dos juízes seria capaz de ver que nenhum mal podia advir a César de um inimigo como este, e foi por tudo isto que respondeu secamente, Não me maces o que escrevi, escrevi. Fez sinal aos soldados para tirarem dali o condenado, e mandou vir água para lavar as mãos, como era seu costume depois dos julgamentos.”

Este é meu terceiro Saramago e termino a leitura com vontade de reler essa obra sensacional novamente. Rico nos diálogos e nos argumentos das conversas entre Cristo, Pastor, Deus e Diabo, Saramago narra a vida de Cristo, aceitando sua existência, mostrando seu nascimento, sua adolescência, juventude e morte de uma maneira humana, profunda e cheia de detalhes de um período de Jesus que na bíblia não consta, que é o da adolescência. O mendigo, os reis magos colocados apenas como pastores, e que dão presentes úteis, sim, sempre achei os presentes dos reis magos descrito na bíblia inúteis, nesta obra, como Pastores, eles são úteis e um deles marcante. Assim como o raciocínio e a maneira de Jesus perceber a vida, o mundo na Sinagoga, com o Pastor, com o Diabo e com Deus leva o leitor a refletir e repensar em tudo, além de se maravilhar com argumentos tão bem construídos que nos fazem concluir que a linha entre o certo e o errado é tênue, frágil e que depende muito mais de como você está inserido no contexto para tomar partida de um dos lados. E, afirmo: o Diabo é um dos personagens mais interessantes nesta obra de Saramago.

Para quem acha Saramago um escritor difícil de ler pela falta de pontuação e identificação dos personagens através de pontuação, por favor, tente porque não é difícil, apenas tem que estar concentrado na história que se lê, pois, Saramago dominava tanto a arte que com poucas páginas você aprende a identificar os personagens apenas por suas personalidades, sem necessitar de identificações para isso.

Leitura muito mais que recomendada!
Ana Letícia Brunelli 17/07/2017minha estante
Tenho a mesma opinião bom relação a dificuldade de ler Saramago. É só insistir e se concentrar.


Ana Letícia Brunelli 17/07/2017minha estante
Tenho a mesma opinião com relação à dificuldade de ler Saramago. É só insistir e se concentrar.


Sergio.Pontes 30/07/2017minha estante
obrigado Léia pelas suas lindas palavras. Me convenceu de ler esse livro.




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