Miguel.Moreira 22/02/2024
Ortodoxia – G. K. Chesterton
Gilbert Keith Chesterton escreve Ortodoxia em resposta a um desafio, e nos incita, com sua resposta, a pensar no espanto de uma criança com tudo o que é novo, e que ao desenrolar dos argumentos do livro, chegaremos a uma conclusão de que as crianças muitas vezes têm mais sanidade do que muitos adultos. O objetivo principal da obra é defender a fé cristã, da qual arrisco dizer ser o Catolicismo em específico, mesmo que a obra tenha sido composta antes de Chesterton se converter formalmente à fé católica; os pontos defendidos pelo autor me levaram a concluir essa percepção. O Cristianismo é a maior fonte de verdades que o mundo pode ter, e somos convencidos disso com argumentos racionais, e não apenas morais e espirituais; e essa Ortodoxia é definida como o Credo dos Apóstolos.
Em contraposição à Ortodoxia temos a Heresia, que é representada pelo materialismo, ou em tempos mais antigos, o estoicismo. Chesterton nos leva a refletir sobre essas doutrinas e muitas outras e sobre suas morais: “todas as religiões de fato são boas?”. Está aqui uma pergunta que o autor nos apresenta e defende que não, nem todas as religiões são boas, o que é algo óbvio, pelo menos para mim. Somos levados a refletir sobre o Budismo, que é representado com seu santo de olhos fechados, olhando para si mesmo de forma serena e em paz, enquanto o santo católico está sempre de olhos abertos enquanto é torturado (física ou psicologicamente), e seu olhar simboliza espanto com o mundo, pois este não pertence ao mundo como o budista, a diferença está na transcendência presente no cristão enquanto não há nenhuma no oriental estóico, que não se espanta com o mundo, pois faz parte dele.
A figura do budista ou do estóico representa o individualismo, que é massificado no século XX, e com isso gera uma onda em relação ao ateísmo, que nada mais é o homem individualista que não aceita os milagres de Cristo e que nega o pecado original. Dentre muitos exemplos que Chesterton nos apresenta, destaco a figura do pecador que se quer se curar do pecado, deverá se esforçar com extrema presteza para ser alguém melhor do que foi ontem; já um doente num hospital se quiser se curar de sua doença deverá ser paciente e esperar passivamente com que seu corpo se recupere automaticamente.
É uma obra extremamente importante para entender a visão religiosa de Chesterton, além de uma ótima ferramenta para um católico defender sua fé em meio ao mundo moderno, em que não há mais o respeito por Cristo, muito menos pela verdade. Apesar de ser uma obra relativamente curta, com argumentos simples, seu valor é grandioso, pois com o simples, Chesterton conseguiu defender sua fé de forma racional de forma que dificilmente alguém com maturidade não será convencido da fé cristã.
A tradução deixa um pouco a desejar, mas acredito que seja pela dificuldade de se traduzir Chesterton, que faz diversos jogos de palavras que podem perder o sentido do original durante o processo de tradução, das obras que estou lendo do autor fica claro este obstáculo para a compreensão em nosso idioma. Mas apesar dos pesares, a tradução é de uma forma geral, suficiente para a compreensão geral do pensamento de Chesterton.
Só mais um comentário para complementar minha resenha: Chesterton fala da Democracia dos Mortos, da qual devemos dar voz para os grandes homens que viveram em nosso mundo. É simplesmente absurdo pensar que só porque estamos com diversas tecnologias, obrigatoriamente somos mais evoluídos, e por isso devemos descartar os clássicos. Pode-se pensar que Ortodoxia é uma obra que nos revela alguns motivos para se ler livros clássicos e dar voz aos grandes homens, que com toda certeza são atemporais (se não fossem jamais saberíamos seus nomes, como Santo Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Homero, Aristóteles, Platão, Jesus Cristo).