Fernanda631 05/07/2023
O Vento Pela Fechadura (A Torre Negra #VIII)
O Vento Pela Fechadura (A Torre Negra #VIII) foi escrito por Stephen King e foi publicado em 21 de fevereiro de 2012.
O livro é ambientado no Universo da Torre Negra, explanado durante sete livros por Stephen King.
Oito anos depois de encerrar seu épico o autor volta contando a história do último pistoleiro do Mundo-Médio em sua jornada para chegar à Torre Negra, o nexo do multiverso, Stephen King voltou à sua auto-declarada magnus opus para brindar seus leitores com um pouco mais de Roland Deschain. Foram 26 anos para escrever o épico e, pela segunda vez, o autor resolve enxertar uma nova história para preencher os espaços entre um tomo e outro. Considerando que o universo que ele criou é rico e vasto, sua estratégia faz sentido e O Vento Pela Fechadura pode muito bem ser apreciado como um apêndice de fácil leitura e absorção por aqueles que já leram a saga.
Ocorre entre os Livros "Mago e Vidro" e "Lobos de Calla" e Roland, com o seu ka-tet, busca abrigo de uma tempestade. Prenúncio ideal para Stephen King revisitar esse mundo maravilhoso após um longo período do lançamento do livro "A torre Negra".
Essa história é dividida em três partes: A primeira é o que seria o "presente", onde o ka-tet busca abrigo da tempestade, como dito acima. Serve para os leitores mais antigos da Torre Negra procurar lembrar da interação entre o pistoleiro e os seus quatro aprendizes: Jake, o menino prodígio, Eddie, o viciado, Suzannah/Detta Walker, a gentil senhora com as pernas amputadas que possui um alter ego violento, cruel e impulsivo com seus inimigos e o trapalhão Oi (se conseguisse comparar Oi a uma criatura terrena, seria algo próximo de um cachorro, aliás, é como a minha mente define o personagem) e, como essa mistura tão diferente pode ser a chave da vitória de Roland.
Já a segunda parte, vamos chamar aqui de "passado". Onde, após o grupo conseguir abrigo, e esperar a tempestade passar, Roland decide contar uma história a respeito de seu passado - algo que não é tão incomum durante a saga - em que é designado pelo seu pai Steven Deschain de Gilead, um pistoleiro antigo, designa Roland, juntamente com Jaime DeCurry, um pistoleiro novato, a resolver um problema na longínqua cidade de Debaria resolver um problema relacionado a uma criatura que assombrava os moradores, perto de um local onde sua mãe havia frequentado.
E a terceira parte, num determinado momento, Roland, para acalmar um garoto, conta uma história que foi contada por sua mãe, que entitula o livro, O Vento Pela Fechadura. Essa história possui fatos chave que auxilia e, para quem já desbravou as aventuras de Roland, proporciona uma base maior para entender aquele que Roland desejou matar durante sua vida. O homem de preto. Embora o livro tenha aproximadamente 300 páginas, a parte crucial dele encontra-se na história do Vento pela Fechadura (130 páginas)
Na história - curta, baseado nos livros dessa saga e em todos os outros livros de Stephen King - é possível perceber a eterna dicotomia entre o bem e o mal que abrigam dentro de todas as pessoas, e como as decisões, por menor que sejam, influenciam e podem agitar a vida de todos, verificar como essa dicotomia chega a ser palpável nas decisões de Roland. Além de mostrar alguns personagens das histórias infantis. Uma característica do Mundo Médio, de certa maneira, é revisitar os clássicos infantis de um modo mais sombrio e degradado pelo fim do Mundo Médio.
Tenho para mim que, assim como em As Irmãzinhas de Eluria, a leitura descontextualizada do mais recente livro é até possível, mas pode resultar em uma experiência frustrante. Mesmo que King afirme, no prólogo, que novatos podem tranquilamente ler o livro, a verdade não é bem essa se o que se procura é algo que tenha algum grau de profundidade e não seja visto apenas como uma leitura perfunctória, sem preocupação com questões como construção de personagens e estabelecimento de premissas. Afinal, o autor, no razoavelmente curto (para seus padrões) romance, não constrói Roland Deschain e seu ka-tet americano formado por Eddie Dean, Susannah, Jake Chambers e Oi. Eles apenas estão ali na história, sem que saibamos nada sobre seu passado ou mesmo seu propósito.
Mas os que são familiarizados com a saga e seus personagens – seja pelos livros, seja pelos quadrinhos -, terão algumas boas horas de divertimento. Se King tem uma grande vantagem é saber costurar tramas diversas em um todo coeso e lógico, mesmo que nem sempre ele acerte na mosca. Em O Vento Pela Fechadura, ele faz o ótimo uso do artificio da “história dentro da história dentro da história”, como uma matriosca, contando três histórias em camadas sucessivas, mas interdependentes.
A primeira camada, a que dá a moldura para o livro, lida com Roland e seu ka-tet americano, não muito tempo depois dos eventos no Palácio Verde, ao final de Mago e Vidro, tendo que se proteger de uma gigantesca e perigosíssima tempestade congelante chamada Starkblast – ou Borrasca, na tradução brasileira – na prefeitura de pedra de um vilarejo abandonado. Depois de muito esforço, o grupo finalmente se senta ao calor da lareira do local e Roland passa a contar uma história sobre seu passado, em que ele e seu amigo pistoleiro Jamie De Curry são enviados por seu pai à cidade de Debaria para livrá-la da ameaça de um potencial metamorfo (criatura que pode assumir várias formas). Chegando lá, Roland depara-se com um massacre e um único sobrevivente, o garoto Bill Streeter que ele passa a proteger pessoalmente como parte de seu plano para capturar o vilão. Essa segunda história é, de certa forma, a principal do livro, a que funciona como seu recheio, repleta de reviravoltas e elementos de obras de horror, especialidade de King. Mas, em um terceira camada, Roland narra a Bill a fábula O Vento Pela Fechadura, história essa que os acontecimentos tanto da “moldura” na cidade fantasma e aqueles em Debaria o fizeram relembrar e que lida com o garoto Tim Ross, em muitos aspectos um paralelo do pequeno Bill e do próprio Roland.
Mistérios são a especialidade do autor e, aqui, eles são muito importantes. Afinal, diferente do tom de toda a saga d’A Torre Negra, O Vento Pela Fechadura é muito mais um suspense do que uma fantasia de ficção científica e faroeste, pelo que dar mais detalhes pode estragar o prazer da leitura. E, de fato, é um prazer ler o livro, pois King envelopa cada história de maneira cuidadosa, usando informações de cada uma delas para dar sentido e profundidade às demais. O que parece ser apenas uma historinha para passar o tempo no que se refere ao tempo presente, acaba se revelando como bem mais do que isso, trazendo informações interessantes – não necessariamente importantes – sobre o passado do anti-herói. E o mesmo vale para a fábula contada a Bill, essa refletindo como em um espelho o drama para descobrir o paradeiro da criatura monstruosa.
King, porém, e também diferente de seu épico, mantém a simplicidade e a despretensão vista, talvez, apenas em O Pistoleiro, a primeira peça da complexa estrutura que ele erigiria ao longo dos anos em torno do conceito da Torre Negra. Com isso, O Vento Pela Fechadura transparece, estilisticamente, exatamente aquilo que a história quer ser: um momento de conexão entre Roland e seu ka-tet ou, no caso dos leitores, uma conexão entre eles e o pistoleiro em uma história que só não pode ser chamada de descontraída pelo conteúdo pesado e violento que inevitavelmente aborda.
No final das contas, tanto faz se consideramos O Vento Pela Fechadura como o volume VIII ou IV-1/2 de A Torre Negra. De uma forma ou de outra – e é isso que importa – o livro é um dos melhores dos oito até hoje existentes.
Como uma side story, algo a ser apreciado pelos fãs, "O vento pela fechadura" tornou-se um livro que complementa a gigantesca obra que é "A Torre Negra". Na opinião desse resenhista, não é possível ler o livro sem ter lido a Torre Negra, ainda, caso esteja lendo entre o quarto e o quinto livro, pare no final do quarto livro e leia O vento na Fechadura.
Baseado no objetivo do livro existir - um complemento a obra A Torre Negra - o livro é algo que deve e foi apreciado com certa "lentidão", para que o "saudosismo" ou as inter-relações entre os livros sejam devidamente identificadas e, tenho certeza que caso isso aconteça, um sorriso vai pintar do leitor, assim como pintou vários sorrisos em mim na leitura.