bel 02/05/2024
Um livro, na verdade, sobre a vida.
É incrível a forma como Tolstói consegue, em tão poucas páginas, nos fazer refletir sobre toda uma vida que já passou e que virá.
Ivan Ilitch era um homem comum, na média. Não tinha opiniões próprias, não fez nada marcante na vida. Era um homem "feijão com arroz". Seu trabalho, apesar de lidar com vidas, era feito de forma mecanizada, como se não passassem de números. Seu casamento era apenas uma convenção social, sem o mínimo de simpatia. Seus filhos eram meras dores de cabeça e mais uma lista de obrigações. E ele chamava essa vida de feliz, sossegada, tranquila. Achava que era o suficiente, até o momento que não foi mais.
De tantas reflexões que esse livro trás, a que mais me pega é sobre a mecanização das relações sociais, sobre como estamos satisfeitos com o supérfluo, até necessitarmos do calor do afeto humano. Mas nunca fazemos por onde recebê-lo. É um paradoxo, e aqui, é mostrado de forma tão direta, que é como um tapa.
Ivan Ilitch sempre tratou os casos de seu trabalho como, de fato, só mais um dia de trabalho. Até perceber que o médico faz o mesmo consigo, dando atenção na hora da consulta mas jamais pensando em Ivan quando está em casa.
Nunca fez questão de desenvolver laços com sua esposa ou filhos, mas, na enfermidade, deseja que as pessoas cuidem dele, sintam pena e o acolham.
Enfim, esse livro me fez repensar muito sobre minha própria vida. Uma daquelas leituras que te faz sair como um ser humano diferente. Espero jamais ser como Ivan, espero que, quando a morte vier me visitar, eu não a receba com gritos de dor e tortura psicológica, mas como se fosse uma velha amiga visitando, e que essa vida possa ter sido satisfatória.