spoiler visualizarLeo 07/05/2024
Burlesco.
Em quase 700 páginas, Koushun Takami entrega um trabalho bagunçado, superestimado e medíocre. Entretanto, a leitura se mantém fluída apesar de todos os defeitos.
O que me desagrada inicialmente é o desenvolvimento das personagens, ou a falta deles. Numa história com vários alunos do ensino fundamental com as vidas em risco, o autor se limita a construir personalidades genéricas típicas dos animes. Garotas no arquétipo Madonna-Prostitua, dilemas românticos repetitivos e outros padrões de um shounen da temporada. Embora seus conflitos internos e traumas sejam tratados superficialmente, atitudes dos alunos vistas como "fria" são consideráveis levando em conto o contexto japonês, principalmente com a explosões de gangues, inclusive femininas, do século passado.
Entre os momentos dos alunos, admiro a cena da Takako e também a do grupo da Yukie.
Os elementos perdidos não se restringem às personagens. Um dos destaques durante a obra é Shinji Mimura que teve uma atmosfera misteriosa criada envolta dele desde as primeiras páginas. Com várias páginas sobre as influências de seu tio na criação, vários personagens mencionando o garoto prodígio e sua ideia de vencer o jogo, o escritor joga tudo para o ar sem mais nem menos. No fim, as páginas foram puro enche- -linguiça e ficaram de presente para o senhor invencível das balas infinitas, Kazuo.
Mas o que mais prende minha raiva é o plano político. Quando conheci o livro, me disseram que era uma alusão ao que os estudantes japoneses sofriam na década de 90. Exceto por declarações de Sakamochi no início e final do livro e alguns discursos anti-governo ao decorrer, nenhuma narrativa crítica é coesa com esse discurso, nem mesmo nas entrelinhas. Além disso, essa carência de explicação sobre o programa só nos leva a pensar que é uma atitude cruel e sem sentido, certo? Pois o governo ditatorial já mostra seu poder durante o cotidiano. E colocar jovens para se matar não funciona como propaganda política já que não provocaria temor significante, só causaria revolta entre pais.
Ademais, tudo não passa de uma representação anticomunista, ainda mais que minha edição tem uma frase do George Orwell nas primeiras páginas (rei do anticomunismo com trabalhos ruins que chegam a ser cômicos). Uai, mas isso é um livro distópico sem vínculos com a realidade, não? Preciso citar a frase cansativa de que viver é um ato político? Ou falar que botar elementos reais com discursos associando os Estragos Unidos com liberdade seria besteirol?
Enfim, péssimo.