Rodrigo Arlindo
06/06/2024Já havia lido “Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento” uns anos atrás, hoje terminei “Fugitiva” e cheguei a uma conclusão: nunca me decepcionei com a leitura de nenhum conto de Alice Munro, a dinâmica narrativa da autora é “magnética”, densamente estruturada no “curto” espaço do conto, nunca falta “fôlego” e nunca “sobram arestas a aparar” no fim dos contos, parece que a autora é uma maestra do “compasso prosódico”. E esse ritmo está sempre ligado ao processo de transformar as “batalhas internas e externas” do cotidiano dos personagens em arte escrita. Em “Fugitiva” esse ritmo narrativo alia-se ainda a uma estrutura narrativa que adorei: acompanhar episodicamente, em períodos dispersos no tempo, a vida das personagens “fugitivas”. A sequência de contos (“Ocasião”, “Daqui a pouco” e “Silêncio”) e o intrigante conto “episódico” (há uma divisão temporal em “capítulos” dentro dele) “Poderes”, retratam como ao passar dos anos as suas protagonistas, Juliet e Nancy, respectivamente, realizaram suas “fugas”: da realidade, do papel “esperado” de uma mulher numa sociedade estruturalmente patriarcalista, de si mesmas. Enfim, em todos contos de “Fugitiva” a maestria rítmica com que Munro compõe suas curtas narrativas está presente para retratar a dinâmica vital das mais diversas “fugas” que uma mulher tem de empreender na vida.