Carol 23/08/2020Impressões da CarolE-book: Cuore {1886}
Autor: Edmondo de Amicis {Itália, 1846-1908}
Tradução: Maria Valéria Rezende
Editora: Autêntica
272p.
Entre 1815 e 1870, período conhecido como Risorgimento, os pequenos reinos italianos passaram por movimentos revolucionários e uma guerra nacionalista, em busca da unificação do país, completada com a anexação de Roma, em 20 de setembro de 1870.
É neste contexto, de um Estado-Nação recém-criado, que Edmondo de Amicis publica Cuore. O livro logo tornou-se leitura obrigatória em todas as escolas do país.
Acompanhamos Enrico, um menino de 9 anos, numa espécie de diário escolar, em que ele descreve seu cotidiano, seus amigos, pais, professores e as lições aprendidas, ao longo do ano letivo.
Intercalados, na narrativa, como se fossem deveres de casa para Enrico, há doze contos, um para cada província da Itália, com histórias sobre a unificação do país, tendo, por protagonista, uma criança.
Ao ler Cuore, deve-se ter em mente que, em 1866, era preciso criar uma identidade nacional. Assim, tudo é idealizado: o patriotismo, a disciplina, a retidão, o caráter, a honradez, os princípios morais. É clara a intenção de ensinar às crianças o valor da cidadania, o sentimento de ser italiano.
Um século e meio depois, não cabem mais um patriotismo que envie crianças à guerra, a romantização do trabalho infantil ou a resignação por ocupar um lugar no mundo devido ao nascimento, nesta ou outra classe social.
Os métodos pedagógicos evoluíram, mais que chantagem emocional, deve-se buscar o diálogo entre pais e filhos, em prol da boa educação. Mais que apenas tolerar, deve-se buscar a compreensão do outro. O mundo de Enrico é o fim do século XIX, um outro mundo. Suas lições são datadas e devem ser lidas como tais.
Mas alguns valores são eternos. O amor aos pais, a educação, o respeito e a cordialidade são lições válidas e prementes até hoje. Ler Cuore em 2020 é ter em mente o quanto evoluímos ou retrocedemos quanto sociedade. Creio que, como literatura infantil, Cuore possa ser uma leitura sentimental e piegas. Porém, como um estudo antropológico, é um livro bem interessante, indico.