paulajanay 27/02/2013O Rei do BrasilFundou a primeira televisão brasileira, a TV Tupi. Criou a TV Cultura. Fundou o MASP. A ESPM. E possuía dezenas de jornais espalhados pelos estados brasileiros – os Diários Associados. O único a peitar o Estado Novo de Getúlio Vargas – apesar de ter lutado na revolução que pôs Getúlio na presidência em seu primeiro mandato. O único que podia falar mal de um presidente brasileiro durante a ditadura militar. E ao mesmo tempo, um jornalista que não tinha escrúpulos de perseguir desafetos em seus artigos, elogiar patrocinadores e usar a sua influência para conseguir o que quisesse.
Listar todas as excentricidades e feitos de Assis Chateaubriand é quase impossível. Mas Fernando Morais conseguiu no livro “Chatô, o Rei do Brasil” (Companhia das Letras). Como um bom livro reportagem, você fica preso à excelente narrativa de Fernando Morais. Do início ao fim, como dá para perceber no parágrafo de abertura. Simplesmente não dá para parar de ler.
"Inteiramente nus e com os corpos cuidadosamente pintados de vermelho e azul, Assis Chateaubriand e sua filha Teresa estavam sentados no chão, mastigando pedaços de carne humana. Um enorme cocar de penas azuis de arara cobria os cabelos grisalhos dele e caía sobre suas costas, como uma trança. O excesso de gordura em volta dos mamilos e a barriga flácida, escondendo o sexo, davam ao jornalista, a distância, a aparência de uma velha índia gorda".
E Chatô conseguia o que bem entendesse, mesmo. O exemplo mais escandaloso é a criação por Getúlio Vargas de uma lei para que o jornalista impedisse a mãe de sua filha Teresa, Corita Acuña, de ficar com a guarda da menina. E não se sabe em troca de quê.
"Passado os quatro meses que Chateaubriand gastou para se desquitar e reconhecer a filha, o Diário Oficial estampava o inacreditável decreto-lei de Getúlio feito sob encomenda e sob medida para o jornalista, e que entraria para a história do Judiciário brasileiro com o nome de Lei Teresoca."
É um livro longo, escrito em mais de 700 páginas, mas cheio de reviravoltas. Quando você pensa que o livro não teria mais nada a te oferecer, ele surpreende e te conduz confortavelmente a mais histórias inacreditáveis de Assis Chateaubriand. Nunca é enfadonho e as histórias de Chatô chegam a ser hilariantes.
Resenha escrita para o blog Mumunhas http://mumunha.wordpress.com/2013/02/03/chato-o-rei-do-brasil-de-fernando-morais/