Jacqueline 24/06/2012
Publicado originalmente em www.mybooklit.blogspot.com.br
Shep chegou aos 48 anos com uma bela poupança, fruto de suas economias e a venda de sua empresa Knack Para Toda Obra. Sempre pensando no plano da "Outra Vida", Shep queria em passar sua velhice em uma ilha chamada Pemba - sem nenhuma preocupação com o trabalho - juntamente com sua esposa Glynis e seu filho mais novo Zach.
Todo animado, ele decide fazer uma surpresa e contar sobre a viagem, já com as três passagens em mãos - intimando todos a acompanhá-lo - e deixando claro que mesmo que eles não aceitem, ele estaria disposto a partir sozinho. O que ele não esperava, era que sua mulher tinha guardado uma surpresa nada agradável: ela está com cancêr, e precisará do seguro saúde do trabalho dele, para realizar o tratamento. Abalado pela notícia, Shep não vê outra saída a não ser deixar o plano de lado e se dedicar ao tratamento de sua esposa.
" - De qualquer jeito não me importo mais com o Iraque - resmungou Glynis - Nem com a Terri Schiavo. Fico feliz se todos eles morrerem. Fico feliz com o aquecimento global e com a ploriferação nuclear e com a escassez de água potável. Sou fã de terremotos e enchentes e gripe aviária. Ficaria encantada se as reservas mundiais de petróleo se esgotassem em 2007. Adoraria ver a porcaria toda pegar fogo, depois levar uma trombada de lado de um asteroide do tamanho de Saturno.
- Meu Deus, Glyn. Acho que ficar doente nem sempre traz à tona o que as pessoas têm de melhor, não é?
- Talvez traga (...) Talvez o que eu tenha de melhor, para mim, seja cheio de ódio, vingativo e malevolente. Na verdade, essa é a palavra perfeita. Eu gostaria que todos também ficassem doentes" (pág. 163 e 164)
Este é o segundo livro da autora que eu leio (o anterior foi Precisamos falar sobre o Kevin), e tive a constatação que Lionel está no topo das autoras que conseguem explorar perfeitamente seus personagens, expondo seus sentimentos mais obscuros e inconfessáveis, de modo que cada personalidade se torna única e transmite veracidade ao leitor.
Os personagens são tão viscerais, convincentes e os dramas extremamente realísticos, que a impressão que eu tive era de estar lendo uma história real.
O tema talvez seja pesado para a maioria. Além do cancêr de Glynis, a filha de Jackson - amigo de Shep - sofre de disautonomia familiar, e Shriver não poupa detalhes, como os efeitos colaterais dos remédios e o sofrimento causado por cada doença.
A maioria dos diálogos entre Shep e Jackson, trazem críticas pesadas ao governo, ao sistema de saúde americano, e como as pessoas que possuem plano de saúde são lesadas, quando o mesmo não cobre a totalidade do tratamento.
Em Tempo é dinheiro, a doença é explorada trazendo à tona o pior lado de todos os personagens, onde a negatividade está sempre presente. Glynis tenta achar um culpado para sua doença, e o alvo é seu esposo, que em sua empresa trabalhou com produtos que poderiam conter amianto (a exposição ao amianto pode causar Mesotelioma). Ela se torna uma mulher ressentida com tudo e todos, e não poupa seu marido de acusações e seu discurso auto-piedoso.
Shep se mostra disposto a pagar qualquer valor para ver a mulher livre da doença, mas conforme suas despesas com cirurgias e outros gastos que o plano não cobrem começam a atingir um valor exorbitante, ele passa a pensar em sua conta bancária, no dinheiro que economizou com tanto sacrifício para viver sem preocupações durante sua velhice, e que está indo pelo ralo, sem a certeza de que sua esposa irá ficar curada.
O final foi arrebatador e emocionante. Sem dúvida um dos melhores livros que eu li este ano, onde nos questionamos qual o valor de uma vida, e as mudanças que a doença e o dinheiro podem trazer para nossas vidas.