Tarás Bulba

Tarás Bulba Nikolai Gógol




Resenhas - Tarás Bulba


44 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3


Cinara... 26/05/2021

"Mas um jovem impetuoso não combina com um velho. Ambos têm uma natureza distinta e veem a mesma coisa com as diferentes."

Nikolai Gógol é um dos meus escritores favoritos, e ainda bem que não comecei suas obras por Tarás Bulba, talvez nem teria lido os outros livros. Gosto do lado cômico de Gógol, e esse lado fica bem longe neste livro.
É um livro de batalha, um pai colocando seus filhos para lutar.
Mesmo com a narrativa fluída, não gosto desse tipo de histórias. Cheguei até pensar que lembrasse D. Quixote, mas não.
Prefiro a graça do Gógol!
MarcosMoreno 26/05/2021minha estante
Olha ela. Já concluiu mais um livro de muitos. Tenho orgulho de você. Rsrsr


Cinara... 26/05/2021minha estante
Obrigada Marcos ? aos pouquinhos chegamos lá ??


MarcosMoreno 26/05/2021minha estante
Verdade. Mais você é a melhor. Você tem quantos anos?


Cinara... 26/05/2021minha estante
? 34


MarcosMoreno 26/05/2021minha estante
Ahhh ? é uma idade boa. Eu te dava 19. Esse ano eu vou fazer 33 anos




Reginaldo Pereira 26/03/2023

Admirado pelo bravo povo cossaco!
O prazer que Gógol nos permite ter através da leitura de suas obras é algo que poucos autores conseguem, de maneira tão simples e ao mesmo tempo tão profunda!

E o conto Tarás Bulba não poderia ser diferente!! No melhor estilo gogoliano, os personagens do povo, o seu linguajar direto e robusto (inclusive os xingamentos!!!), mostrados no seu cotidiano festivo e bélico, nos permitem compartilhar tanto da alegria e da embriaguez, quanto da ferocidade e violência das batalhas do século XVII.

Uma leitura rápida, prazeirosa, mas também grandiosa e até mesmo atual, pois agrega argumentos históricos muito importantes no entendimento do que está se passando atualmente com a nação e o povo ucraniano!!

PS: a edição que li possui um posfácio do tradutor (Nivaldo dos Santos) que sugiro ser lido antes da obra em si, pois apresenta uma contextualização importante, e sem spoiler algum!!!
aartemesalva-nat 26/03/2023minha estante
Raro um texto complementar que não contém spoiler. :)


Reginaldo Pereira 26/03/2023minha estante
Tem toda a razão, Natalia!! Um perigo!!!! kkkk Mas esse eu garanto!!! ??


Carolina 26/03/2023minha estante
Esse eu não li, mas li outros do Gógol que gostei muito - O Capote e O Retrato. Quero ler tudo dele. Se a Nova Aguilar lançasse as obras completas, eu comprava.


Reginaldo Pereira 26/03/2023minha estante
Carol, Gógol é um dos meus autores favoritos! Não sei de está na sua lista, mas ?Almas Mortas? é simplesmente perfeito!!!
Eu comprei um box de autores ucranianos e um deles também é justamente ?O Capote?! Portanto em breve falaremos a respeito!!?




Márcia Regina 30/08/2009

Taras Bulba, de Nikolai Gogol

Em um texto na internet, encontrei a seguinte frase sobre Gogol: “Uma das suas primeiras obras é o romance histórico Taras Bulba, panfleto do nacionalismo ucraniano contra os poloneses”.
Pensei: eis aí uma boa linha de raciocínio. Mas, lendo, me deixei levar por sensações e resolvi (comodamente) deixar essa análise para a turma que atua na área. Vou jogar idéias que me surgiram, provavelmente mudarão em novas leituras, mas gosto de primeiras impressões.

Achei o livro muito bom, com ressalva de algumas páginas iniciais. Gogol descreve com força a alma russa, forjada no frio, fome, guerra, amor, ódio, sacrifício, alegria. São homens de almas extremas, concebidas pelo contexto político, social e físico (os positivistas iam me adorar agora). Nesse sentido, achei interessante o discurso sobre “comunidade”, na página 106.

Contraditoriamente, por um momento muito particular meu, de cansaço frente à violência, não consegui ver o livro como incentivo à guerra e ao patriotismo. E percebi detalhes de forma provavelmente diferenciada da intenção do autor (ainda vou pesquisar para saber como os russos do século XIX leram o livro). São aspectos que fogem da idolatria ao “herói”, à pátria.

Abaixo, alguns desses pontos que me chamaram a atenção.

- A dor da mãe, a impotência frente à força masculina. É comovente a cena em que ela passa a noite acordada velando os filhos.

- O amor de Andrei. Sua percepção da pátria como “aquilo que nossa alma busca, o que é mais querido por ela” é vista como fraqueza (na verdade, soou adolescente), mas, ao mesmo tempo, Gogol o coloca como um dos mais valentes guerreiros.
É vencido pelo pai, pela submissão ao amor paterno, submissão valorizada no contexto russo. Ostap e Andrei, ainda que de formas diferentes, na hora da morte lembram da figura paterna.
Da mesma forma, a mulher que Andrei ama o chama para tentar salvar a vida da mãe (o amor filial mostrado de ambos os lados em luta).

- O encontro com o guarda, quando Taras vai visitar o filho. O guarda diz que os cossacos “professam uma religião que ninguém leva em consideração”. Ao que Taras responde: “É a de vocês, hereges, que ninguém respeita”. Destaca-se a dignidade de Taras, mas, também, fica a sensação de que o judeu, o polonês ou o cossaco, cada um acredita estar certo. A religião ser verdadeira ou não, depende de quem a vive.

- A morte de Taras. No livro, a “alma russa” aparece construída em cima do sofrimento e da vontade de cobrar e aplacar essa dor, mas como algo “coletivo”, não “individual”. E Taras termina transformando a jornada no desejo desesperado de vingar o filho. De certa forma, se aproxima, na minha visão, de Andrei, pois luta pelo filho, Ostap, como Andrei lutou pela mulher que amava.
Também, Taras morre sozinho, incentivando sua tropa a fugir. Achei meio estranho, pois, para o soldado, morrer lutando era motivo de orgulho. Quebra as leis da camaradagem tão destacadas no livro, de que nunca deveriam ser abandonados os companheiros.
F Fernández 19/07/2011minha estante
O que não é culpa inteira de Gógol, mais que deve ser bem lembrado é seu anti-semitismo.
Outro ponto, a questão da "terra russa", uma ideia comum aos românticos e a questão do "espaço vital", onde estão os antepassados, onde deve cair seu sangue. "Morreria tranquilo se tivesse um companheiro" "pai onde está", então ele responde "estou aqui meu filho".
O sentido patriótico é firme também, o da unificação das "russias" etc, etc.
Admito que hoje parece uma grande balela ideológica, mais o livro é bem escrito, é a questão de força , garra, sobrepõe a estas questões.


Paulão Fardadão 23/11/2012minha estante
Tem um ponto no livro onde se compara Andrei e Ostap. Diz-se q Andrei é um guerreiro valente, mas q não serve para liderar ao contrário de Ostap. Isso pq a valentia de Andrei vêm da impetuosidade, q o faz cego aos perigos, enquanto q Ostap sabe a hora de recuar para investir novamente com mais força e assim vencer a batalha. Dessa forma, a fuga em batalhas perdidas não quebra as leis da camaradagem, pq é diferente da simples covardia. Qdo Taras é capturado, já estava empreendendo uma fuga desesperada de uma situação insustentável, e tão somente exorta seus comandados a seguirem o q já estava planejado.


Márcia Regina 23/11/2012minha estante
Interessante, você está certo, Paulão, esse aspecto do "orgulho" e da "morte" é algo mais complexo, a forma como li tem muito de superficial. Gostei de repensar a questão.




Rosa Santana 01/04/2011

Taras Bulba é um curto romance histórico do Nikolai Gogol. Conta a história de um velho cossaco ucraniano - Taras Bulba - e os seus dois filhos, que estudam na Universidade Nacional Academia Kyiv – Mohyla, e voltam para a casa de férias. Daí os três homens viajam para a Sich de Zaporizhia, situada na Ucrânia, na ilha de Khortytsia, para se juntar aos outros cossacos na guerra contra a Polônia. Eles lutam bravamente, sob o comando de Taras.

Os cossacos assinam a paz com os polacos. Mas Taras, por não concordar, leva o seu regimento para continuar a guerra contra a Polônia. Taras é capturado em combate e ordena que seus comandados fujam, deixando-o sozinho. Ele é queimado vivo na fogueira improvisada, gritando pelo Espírito da Rus (não deve ser confundido com o espírito da Rússia).

Penso eu, que o autor deixa Taras morrer sozinho, no final, não por ter sido abandonado pelos “camaradas”. Ele próprio incentiva a partida dos guerreiros para que eles, de uma forma ou de outra, continuem a luta aí iniciada, já que o que almeja é a vitória e a conseqüente expansão da alma russa. Essa alma russa não morre com ele, mas permanece viva naqueles guerreiros que, como os mergulhões, são “altivos”. Como as velozes aves, os cossacos navegam livres, pelo menos por hora porque outras batalhas virão! Seu atamã (Taras) cuja alma russa não foi vencida pelas chamas, está ali com eles e perdurará com outros que ouvirão e contarão aos tocadores de pandora, que a cantarão para outros e para outros, e mais e mais outros...

Esse livro me lembrou muito o “Mensagem”, de Fernando Pessoa, que conta dos heróis e das lutas do povo português, também submetido a tantas batalhas, umas gloriosas e outras, não...

Fala de um povo que conquistou territórios, mas que se viu conquistado, dominado, quebrado no seu orgulho patriótico...

O livro é uma MENSAGEM: a de que a História – esse conjunto infindável de fatos, conquistas, derrotas, batalhas, revoluções, viagens, glórias... – não passa de manifestações aparentes de uma energia potencial (o mito!) cuja tendência é ir muito além do que na verdade fora e conclama o povo português a não se esmorecer e a não se esquecer disso.

Asssim:

O mito é nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo –
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Taras se transforma nesse paradoxo: é o nada (morto, queimado), mas é tudo: o sol brilhante, ainda que morto, está vivo para os que o “abandonaram” Por isso, acho que Taras morre sozinho: para que tenha quem o cultue. Se todos se extinguissem, quem contaria sua história? Como ele se transformaria em mito?


(...)Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecundá-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Só assim, nosso lendário herói continuará “a entrar na realidade e a fecundá-la”, fazendo com que sua plenitude espiritual alimente seus compatriotas – de todos os tempos - e perpetuando neles a aspiração, (utópica?) para que o sonho, que não é dele apenas, mas de todos os cossacos, não seja esquecido, e, encontrando condições favoráveis, venha a acontecer.

Como mito, ele está muito acima da morte, da transitoriedade... Em baixo, a vida que é metade de nada, morre, queimada ou não; acompanhada ou não... Mas o mito permanece, a força, a energia potencial com que ele fecunda a vida, está além, planando os ares...

Taras viverá, como mito, como essa energia latente, para que possibilite que sua comunidade vá mais além, como os pássaros...
O que não aconteceria se todos lutassem juntos, até a extinção.


Outro poema que muito me ocorria quando estava lendo, tb do livro Mensagem:


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

..........

Acho que o idealismo romântico está presente do início ao fim da história com seus caracteres nem exagerados e nem grotescos, tão comuns à obras do Gogol. O romance tem que ser entendido no contexto do movimento literário do nacionalismo romântico, desenvolvido à volta de uma cultura étnica, baseando-se nos ideais românticos..

..............................................

Lô Becco 11/06/2010minha estante
Excelente comentário. Me fez enxergar o final sob um novo prisma.


Márcia Regina 02/07/2010minha estante
Rosa, hoje estávamos falando do livro e vim reler as resenhas.
Eu estava encucada com o final. Gostei da tua forma de ver a fuga dos companheiros.


Rosa Santana 01/04/2011minha estante
Termiinei de ler "Diário de Um Ano Ruim", de J. M. Coetzee, narrativa inovadora em que o autor mistura narração de fatos com ensaios, separados fisicamente nas páginas. Esses ensaios versam sobre os mais variados temas, inclusive literatura e escritores. Em um deles, fala sobre Antjie Krog, escritora da África do Sul. Cito aqui um excerto, porque acho que se relaciona, e muito, com a minha análise acima:
"Ninguém na Austrália escreveu com fúria comparável. O fenômeno de Antjie Krog me parece muito russo. Na África do Sul, assim como na Rússia, a vida pode ser miserável; mas como o espírito valente se levanta para reagir!" (211)
Achei que essa última frase retrata exatamente o espírito valente de Taras Bulba!


Rosa Santana 31/08/2014minha estante
Lendo O Músico Cego, deparei-me com uma comparação feita por Korolenko entre um fazendeiro e seus filhos e Taras Bulba e sua prole...
Deu vontade, vim aqui reler a resenha!




Lucas 05/08/2020

Tarás Bulba: Uma síntese perfeita do que é a literatura russa e do que ela representa
Nikolai Vassílievitch Gógol (1809-1852), sem exageros, é o patriarca da literatura ficcional russa, que explodiu no Império Russo no século XIX e que legou à eternidade dezenas de obras de inúmeros autores diferentes. Junto ao poeta Aleksandr Púchkin (1799-1837), eles foram os pilares daquilo que convencionou-se chamar de Era de Ouro da literatura daquele país, até então agrário e quase feudal.

Importante demonstrar este preâmbulo porque por mais que se estude e sejam famosas as obras russas daquele período no Brasil (especialmente as de Fiódor Dostoiévski, Liev Tolstói, Ivan Turguêniev e tantos outros), ainda se tem na mente daquele leitor não estudioso da literatura russa a noção de que estes "monstros" (no sentido aumentativo) citados são os grandes baluartes desta literatura. Não deixa de ser verdade, lógico, mas estes autores que viveram seus auges a partir da segunda metade do século XIX construíram uma eternidade própria que deriva de Gógol e Púchkin. Prova disso é a obra Tarás Bulba, lançada por Gógol em 1835, seu segundo trabalho e que o fortaleceu no cenário literário russo da época.

Tarás Bulba não é personagem protagonista do livro; é um pouco difícil para o leitor definir quem o seja, mas é por meio das decisões de Bulba que todo o dinamismo da narrativa vai se construindo. Se for para delimitar um protagonista para os doze capítulos da história, fica claro que ele não é um personagem específico, mas sim o povo cossaco.

Falar dos cossacos é falar do povo russo, pois uma breve pesquisa sobre a origem desse grupo étnico traz uma forte semelhança daquilo que se entende por "russo" como indivíduo junto ao imaginário do Ocidente. Os cossacos correspondem a um povo originário da região sul da Rússia, em especial à beira do Mar Negro e na atual Ucrânia. Teimosos, normalmente de bigodes, machistas (para os padrões atuais) e, essencialmente, ótimos guerreiros: são termos que sintetizam cruamente o que são os cossacos. Patriotas, beberrões, soldados destemidos e ao mesmo tempo selvagens nos campos de batalha são adjetivos que complementam essa descrição e que não são críticas a este povo: são complexidades que tornaram a tarefa narrativa de Gógol ampla, por mais que ele tenha vivido neste meio (seu pai era um proprietário de terras cossaco e o escritor era natural do que hoje se conhece como a Ucrânia).

A região onde os cossacos viviam era marcada pela presença de inúmeros outros povos, que constantemente brigavam entre si dos séculos XVI a XVIII (a narrativa de Tarás Bulba não fala em datas, mas o narrador descreve a história como se ela estivesse ocorrendo "no século passado"): havia os tártaros (naturais do centro asiático), os turcos, os muçulmanos, os judeus e os poloneses, que conjuntamente são as etnias que mais aparecem no livro. As diferenças entre cossacos e esses povos (em especial os poloneses) levavam a constantes escaramuças regionalizadas, a maioria dela provocada por aspectos religiosos conflitantes e por disputas territoriais (é neste ensejo que a segunda metade de Tarás Bulba se desenrola. A atual Ucrânia era uma região controlada pela Polônia, de influência católica; já os cossacos eram cristãos ortodoxos). O homem cossaco comum, se sobrevivesse às guerras, normalmente adquiria uma fazenda no interior, arranjava uma esposa (que era totalmente submissa às vontades do marido), tinha filhos, os colocava num colégio distante e, quando formados, eram incluídos na arte da guerra.

É este o perfil de Tarás Bulba, inclusive. A obra começa narrando o retorno do seminário em Kiev dos seus dois filhos, Óstap e Andríi. Bulba, um homem de ação e apaixonado pela vida da caserna, logo que os filhos retornam à casa paterna, organiza uma expedição para a "Siétch" (fortificação militar dos cossacos) de Zaporójie, que ficava às margens do Rio Dniepr, importante rio do leste europeu que atravessa toda a atual Ucrânia. Toda essa "atividade" marca o primeiro capítulo: é apressado e dinâmico, sem ser vazio. Gógol, nestas primeiras páginas, já faz uma descrição bastante minuciosa do cossaco como povo, seu apego ao militarismo, às farras e assim por diante.

Uma marca que fica desde estes primeiros momentos é a habilidade de Gógol em "pintar" com palavras um pano de fundo narrativo coloridamente belo. As descrições detalhadas que ele faz da estepe, famosa formação geográfica da Rússia, marcada por planícies e vegetações rasteiras, são um exemplo singular dessa capacidade narrativa. Se Ivan Turguêniev (1818-1883) ficou posteriormente marcado por ter uma grandiosa habilidade de escrever sobre a natureza em geral, muito deve ter aprendido com Gógol.

Esta mesma genialidade poética é transformada em realismo cru nos momentos apropriados. As descrições de batalhas oferecem dezenas de cenas fortes, com decapitações, espancamentos e por aí vai. Há também um relato frio e realista de um cerco a uma pequena cidade e o resultante desespero dos cidadãos que nela viviam. Aqui, torna-se inevitável não lembrar de Liev Tolstói (1828-1910) e a agonia que a narrativa do seu Guerra e Paz (1865-1869) causa quando relata o cerco e posterior invasão à Moscou pelas tropas napoleônicas em 1812. É bem perceptível a semelhança no sombrio tom narrativo que é empregado.

Ponto genial digno de nota (e que é muito bem assinalado por Nivaldo dos Santos, tradutor da obra, no posfácio da sempre excelente edição da Editora 34, que contextualiza muito bem outros pontos) é o ineditismo no cenário literário russo da época personificado por Gógol ao tratar personalidades comuns como verdadeiros heróis, dignos de romances. O autor foi o primeiro a escrever sobre o povo russo como fonte de heroísmo, colocando em destaque personagens aparentemente comuns como exemplos de coragem, superação e apego a um ideal. Completando a tríade de autores russos posteriores citados e a influência que eles obtiveram a partir da obra "gogoliana", esta é uma tese muito aprofundada por Fiódor Dostoiévski (1821-1881), que em seus trabalhos sempre recorria ao povo mais humilde, ao tipo mais comum e até decrépito da sociedade que o circundava para protagonizar todas as suas narrativas.

Além de todas estas nuances alegóricas, que ajudam a definir a literatura russa (se é que esta é uma tarefa possível), Tarás Bulba ainda traz uma história cinematográfica sem ser apressada e que fala dos mais diversos temas: a religião, o patriotismo, a família e como o cossaco se inseria nesse contexto. Os valores amplos do cossaco são questionáveis na mesma medida da sua bravura: se sobra coragem para encarar um exército inimigo em campo aberto, sobram condutas polêmicas no trato familiar, por exemplo. Estas dissonâncias são mais relevantes do que o futuro leitor pode imaginar, já que elas conduzem a um desfecho imprevisível, na qual é impossível que quem está lendo-o passe incólume.

Religião, patriotismo, crenças, valores próprios... Tudo isso e muito mais se confundem na jornada épica e breve de Tarás Bulba. De caráter nacionalista e panfletário, é por meio dele que Nikolai Gógol solidificou sua posição vanguardista dentro da Rússia e na eternidade literária. Ao oferecer reflexões de temas universais sob o ponto de vista cossaco, Tarás Bulba acaba sendo a resposta, fria, mas totalmente exata, à hipotética pergunta: o que é a literatura russa? O livro, em seu todo, responde a este questionamento formidavelmente, provocando um fascínio ao leitor que ele dificilmente irá esquecer.
Natalie Lagedo 05/08/2020minha estante
Você sempre impecável nas resenhas. Amei essa contextualização histórico-literária. Gogol é realmente um titã.


Lucas 06/08/2020minha estante
Titânico é realmente um adjetivo bem apropriado, Natalie. Gógol é incomparável. :)


Erika 06/08/2020minha estante
Lucas, eu sempre acho que suas resenhas são uma ótima leitura de apoio! Belíssimo texto!




Heder Duarte 26/03/2012

Uma história empolgante em um livro curto.
Taras Bulba é um livro pequeno e barato, mas com grande conteúdo ao narrar as guerras dos povos ucraniano e polonês em tempos passados. A história narra lutas épicas numa dramatização que contagia o leitor, pois existe um jeito bem próprio e marcante de Nikolai Gógol definir os personagens, ambientação, conflitos, atitudes e mentalidade dos povos citados em seu livro. Os sentimentos estão saltando por dentro dos valentes e brutos cossacos, seus exércitos marcham e encontram-se, reúnem-se para brigar e beber, cometem diversos crimes de guerra e saqueiam outros povos. Nessa história dou destaque também para o fato de que uma paixão pode ser perigosa demais para quem não tem racionalidade para controlá-la.
comentários(0)comente



ClaudiaOSimoes 10/10/2012

Brilhante
Taras Bulba é o protagonista desta obra, um pai de dois rapazes, pertencente aos kossacos russos. Os kossacos são guerreiros, fortes, corajosos e amantes da sua pátria. Juntam-se para socializar, pensar em lutas, beber e treinar. Taras Bulba leva os filhos para o campo dos kossacos de forma a eles pertencerem e lutarem contra os Polacos. Muitas coisas acontece neste livro, gostei sobretudo da forma como Gogol nos leva para aquele ambiente tão diferente da nossa realidade. O livro não partes chatas e está muito bem escrito, recomendo vivamente.

vídeo em youtube.com/amulherqueamalivros
comentários(0)comente



Felipe 05/03/2013

Épico Ucraniano vai além das simples aventuras...
Tarás Bulba corre o risco de passar pelo leitor como uma espécie de faroeste ucraniano, uma historieta fugaz de capa e espada. Porém, ao mergulharmos dentro desse mundo medieval descrito por Gógol com uma violência poética exorbitante, encontraremos, para além de uma anedota sobre cossacos guerreiros e implacáveis, a mais densa e sombria crônica familiar sobre o ódio e a diferença ancestral que separa pais e filhos.

Poderíamos descrever o plot do romance com um simples “A vingança do Pai” com P maiúscula, pois não se trata de um pai em específico, mas do pai ocidental, figura massacrada e destronada simbolicamente por narrativas que vão do Édipo até os Irmãos Karamázov. Tarás, o velho cossaco educado no calor da guerra, levará até o fim o seu poder de coordenar a vida dos filhos. Ele é o pai-Deus, o pai implacável que toma em suas mãos os destinos de suas criaturas; assim, ele decide que os seus dois filhos, Andríi e Ostáp, caminharam ao seu lado para a ilógica glória da guerra.

Podemos sentir, ao lado de descrições minuciosas da rotina de um cossaco, os ecos de um mundo muito mais antigo do que aquele retratado no romance. Falo do mundo da épica e da tragédia gregas. O romance está impregnado dessas tradições e é extremamente chocante quando percebemos claros remakes dos épicos e trágicos gregos. Um exemplo é quando um dos personagens arrasta um inimigo ao pé de seu cavalo por todo o campo de guerra, alusão mais que evidente ao episódio em que Aquiles amarra o corpo de Heitor pelos pés. Ou quando, depois de uma das passagens mais impactantes, em que Tarás mata o seu próprio filho, ouvimos do seu irmão uma fala agônica sobre enterrar o filho de forma digna e o livrar do jugo dos inimigos e da rapina dos pássaros, evidente referência a uma das heroínas mais amadas da tragédia grega, Antígona, que, enfrentando a lei do Estado, intercede a favor de Polinice, seu irmão, que morreu de forma trágica, para que esse seja enterrado com as honras fúnebres necessárias para que seu corpo não fique a vagar pelo mundo.

O mundo grego está ali não como adorno, mas como elemento formal da obra. É um épico trágico que, mesmo com o aparente nacionalismo Ucraniano e com a aparente aversão aos judeus e poloneses, esses últimos inimigos centrais da Ucrânia à época, exala uma terrível sentença do vazio que existe na guerra, nos laços e na vida. O penúltimo capítulo, um dos mais acabados esteticamente, chega ao paroxismo da dor e da literatura, retratando o último dia do condenado Ostáp e da memorável e trágica dor de Tarás, homem terrível que encontra a morte simbólica, e depois a real, no momento em que percebe o gosto infausto de um mundo esvaziado de sentidos, mundo em que a maioria das pessoas, como diz o narrador, olha para os acontecimentos cutucando o nariz com o dedo.
comentários(0)comente



Andre 26/07/2013

Gógol é da "geração" imediatamente anterior à Tolstoi, e ficou evidente a influência, apesar de um estilo literário diferente. Não li outros livros de Gógol, mas este é curto, fácil de ler, e de uma paixão impressionante pelas origens e cultura Ucraniana.

Achei curioso que ele caracteriza o povo judeu com aquele estereótipo ainda popular hoje em dia, de que eles são exímios negociadores.

Apesar do que possa parecer ao leitor desatento, ou que não o contextualize com o perfil de Gógol e o momento pelo qual passava, este livro é uma comédia. Fala constantemente de companheirismo, de festas e deveres para com a cultura, mesmo nos comportamentos hoje vistos como rudes e violentos.
comentários(0)comente



Ramiro.ag 17/01/2024

"O sabre, o mosquete, o cachimbo e o fuzil de pederneira estavam sempre ao lado de cada cossaco."
"E toda a Siétch rezava numa só igreja e estava pronta para defendê-la até a última gota de sangue, embora não quisesse nem ouvir falar sobre jejum e abstinência."

Gógol, precursor entre os magníficos escritores russos, extraiu do seio popular personagens entranhados nas camadas sociais menos afortunadas, elevando-os à sublime condição de heróis nas tramas de uma obra literária épica.

Na expressão gogoliana, a vinculação entre vida e literatura assume contornos ainda mais profundos, visto que o autor adota a vida do povo russo como o epicentro de toda a sua criação literária. A cultura popular, a existência mais singela do ser humano, seja ele um opulento proprietário de terras, um modesto funcionário público, um mujique ou um cossaco, assim como a alma multifacetada do homem russo, estão intrinsecamente entrelaçadas em suas narrativas.

"[...] consideravam indispensável dar educação a seus filhos, embora fizessem isso para depois esquecê-la por completo."

Em "Tarás Bulba", obra tecida nas tramas da história dos cossacos, ressoa uma intensa tonalidade popular e nacionalista. Nessa obra, o autor caracterizou o coronel Tarás Bulba de maneira a personificar toda uma nação, exaltando não apenas sua coragem e determinação, mas também desvelando um estilo de vida singular, uma sociedade anárquica que coabita harmoniosamente com um sistema militar meticulosamente organizado.

"Porém, estabelecer parentesco pela alma, e não pelo sangue, é algo de que só o homem é capaz."

Tarás Bulba pode ser considerada uma epopeia, assim como Ilíada e Odisseia, dando aos guerreiros cossacos os mesmos contornos dos heróis épicos. Em toda a trama, os guerreiros estão lutando pela sua honra e pela honra de sua pátria, estão tentando evitar a supressão do cristianismo ortodoxo pela igreja católica da Polônia, com personagens que, mesmo destituídos de nobreza, conquistam a glória nos campos de batalha. A essência épica dos personagens em "Tarás Bulba" se entrelaça com a peculiaridade popular: injúrias, maldições, desvios morais, preconceitos e superstições. Este contraste, ao mesmo tempo que desafia a grandiosidade épica dessas figuras, faz emergir do seio do povo personagens repletos de glória e esplendor.

"Não existe força maior do que a fé. Ela é terrível e inabalável como um rochedo no meio do mar tempestuoso e sempre inconstante, de cujas profundezas ele, que fora criado de uma só rocha inteiriça, ergue até as alturas os seus muros inexpugnáveis."

Apesar do tema sério e das recorrentes descrições violentas e brutais, a obra abraça, de fato, uma atmosfera carnavalesca. Eu me peguei rindo em inúmeras passagens, e a descrição burlesca confere uma leveza e uma abertura ao riso.

"E o fogo já se levantava acima da fogueira, envolvia suas pernas e estendia as chamas pela árvore...Mas haverá no mundo algum fogo, martírio ou poder que possa vencer a força russa?"


Outra leitura que veio para reafirmar a razão pela qual Nikolai Gógol perdura como minha paixão literária.
comentários(0)comente



Ave Fantasma 11/02/2016

Esse romance do Nikolai Gógol é curto, muito bem escrito e nos chama a atenção em muitos pontos. O primeiro deles é em como o Taras Bulba, pai e soldado cossaco, se apresenta como um homem que aparenta um esteriótipo do guerreiro nacionalista um tipico "homem bruto". Aos poucos vamos notando várias nuances que o torna um personagem marcante: os seus valores e princípios como soldado incansável, o fiel companheirismo e o amor aos filhos.
Algo que me marcou muito no livro, mesmo que só aparecesse no início e uma outra vez na obra, é o amor e sofrimento da mãe. Solitária porque seu marido só desejava a guerra e ter que ver partir os jovens filhos também para esta. As descrições das cenas em que a personagem está são marcantes.Esta obra é também sobre a relação entre pai e filhos. O quanto o Ostap e Andrei são subordinados a este mesmo em situações que esperaríamos uma total separação de laços e de ideais os filhos sempre seguem fieis de algum modo ao Taras.
Mergulhamos nos costumes dos cossacos e sentimos essa Rússia oriental, o amor pela vodka, o frio intenso, a rigorosidade dos russos, a paixão os cossacos pelo combate, a inimizade acirrada entre cossacos ucranianos e poloneses, e também o anti-semitismo.
comentários(0)comente



Janarybd 24/01/2020

MINUTO LEITURA: Tarás Bulba
Um velho coronel criado pela ânsia em manter o combate violento contra seus inimigos, recebe de volta em casa os jovens filhos recém-saídos de um colégio interno religioso. Se distinguindo pela sinceridade grosseira de seu temperamento, o pai não espera os garotos se instalarem em casa e, como para que provar o sangue forte dos herdeiros, trata de levar ambos para um dos pontos da sangrenta batalha entre ucranianos e poloneses durante o século XVI.

Publicado em 1835, o romance “Tarás Bulba” traz descrições ferozes do russo Nikolai Gógol a respeito dos combates gloriosos do povo Cossaco – que é o nativo da região sudeste da Europa, que se instalaram pela Rússia asiática. Apesar de curto (com menos de 200 páginas), esse romance parece nos transportar para a convivência ao lado de homens alegres, violentos, implacáveis, corajosos e sentimentais. Que vivem a guerra pelo seu povo, como a maior honra que se poderia conquistar em vida. São ecos de um mundo muito mais antigo do que aquele retratado na história.

O romance está impregnado de tradições de um povo, que foi intensamente pesquisado por Nikolai Gógol por meio do folclore da Ucrânia, lendas, canções e ditos populares. O resultado foi uma obra épica de cavalaria que é marcada pelas tragédias pessoais do coronel Tarás Bulba – que é exaltado como um grande herói nacionalista. O russo Nikolai Gógol é um dos mais importantes escritores da literatura mundial e seus textos teatrais e narrativas que mesclam a arte e o misticismo influenciaram muitos autores hoje conhecidos como gênios.


site: https://soundcloud.com/user-567764695
comentários(0)comente



luizguilherme.puga 15/04/2020

Novela Épica de Gógol sobre os cassacos, grupo de guerreiros russo-ucranianos muito peculiar que tirava a excelência em combate do caos anárquico de suas vidas. Neste particular o General Taras Bulba empreende uma campanha face aos Polacos, até então seus dominadores, mostrando alma, coragem e distinção cossaca.
comentários(0)comente



iagofelipeh 14/05/2020

Uma epopeia popular!
É um trabalho hercúleo não rasgar elogios para Nikolai Gogol. Foi um dos fundadores da literatura moderna que é uma das melhores que já existiram. O cara influencia nomes como Puskhin (seu amigo e contemporâneo), Tolstoi, Dostoievski, Babel, etc!

Morreu, infelizmente, muito jovem, e, ainda assim foi de tamanha capacidade e relevância a deixar o supracitado legado e obras magnânimas como o romance Almas Mortas. Gogol, todavia, foi um mestre dos textos curtos com ótimas coletâneas de contos (como O Capote) e de novelas.

Tarás Bulba é uma novela inovadora e subversiva, nunca antes um texto épico havia sido tão enraizado com ditos populares, folclóricos, carnavalescos e caricaturais na mesma medida em que faz uma grande homenagem ao povo ucraniano do século XVI representados pelos valentes cossacos (sugiro que leiam sobre quem foram), bravos guerreiro que lutavam de modo quase anárquico contra um avanço militar da Polônia com toda a repressão que o catolicismo vociferava contra a religião cristã ortodoxa russa. Eram baluartes nacionalistas que defendiam sem medo suas convicções.

Gogol escreveu esta novela na década de 1830 apoiado com um enorme acervo de pesquisa histórica para retratar aquele momento, e o fez de modo sobrepujante e intenso mais que qualquer outro. Além de homenagear a luta por liberdade que muito representou os guerreiros cossacos, ele critica profundamente o caráter do indivíduo que fazia parte do conjunto. Tarás Bulba era um coronel respeitado, destemido e feroz, entretanto foi um péssimo pai, péssimo marido, impulsivo, sujo e sanguinário. Outro aspecto ambivalente e que entorna o texto é como o nacionalismo exagerado e o extremismo religioso é negativo como um todo. Fazendo mal não apenas aos polacos católicos, mas especialmente aos cossacos zaporogos, estes cristãos ortodoxos.

Nikolai também traz a tona a questão da moral judaica e, ao meu ver, embora apresente-os de modo malicioso e estigmatizado, não deixa de apresentar sutilmente as injustiças e perseguições sofridas por essa classe, fazendo frente e prelúdio a um fenômeno que, um século depois de escrever sobre trêsséculos antes, resultaria nas câmaras de gás e em Auschwitz.

É um texto pequeno mas longe de ser raso, é também extremamente divertido e aventureiro, como uma grande epopeia deve, de fato, ser.
comentários(0)comente



Phelip 05/06/2020

Meu primeiro contato com Taras Bulba foi no ensino médio, há uns 10 anos quando frequentava bibliotecas, escolhi aleatoriamente um livro e comecei a ler a história tendo como protagonistas os cossacos. O autor consegue transportar o leitor para o século dos cossacos, a impressão ao ler era que estava dentro da cultura e das batalhas.
Apresenta um tom épico e as vezes carnavalesco, não existem cerimônias. O que mais chama a atenção é a forma de vida quase anárquica, com alta capacidade de organização diante de algum desafio.

Com exceção de algumas situações que são incompatíveis com nosso entendimento atual, é um livro brilhante.
comentários(0)comente



44 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR