Andre.Pithon 25/05/2024
Hora de tapar uns buracos meio feios no meu currículo, e de dar opiniões meio controversas. O Quinze é um livro essencial, e ok. Bom até. Pensar que Queiroz publicou isso aqui com 19 anos em 1930 é impressionante, digno de respeito, historicamente poderoso. É uma obra que pega a dor e o sofrimento da vida no sertão, contrasta com o sofrimento de uma vida bem menos sofrida, e pronto, ficção regionalista de alta qualidade. Mas...
Mas Vidas Secas.
E Vidas Secas é muito melhor. E tudo que eu consigo fazer ao ler O Quinze é comparar com a obra de Graciliamos Ramos e considerar muito pior. O que é injusto, já que Vidas Secas foi publicado 8 anos depois, e Queiroz não tem culpa. Injusto, pois a qualidade de um livro não me deveria ofuscar outro. Não me sinto bem ao me ver incapaz de me conectar muito com uma obra, por não deixar de pensar em outra que fez melhor, e qual a consequência disso? Toda obra regionalista nordestina vai automaticamente parecer menor para mim ao não parecer melhor que o titã do gênero, mesmo que tendo sido publicada previamente? Acho que é a natureza humana comparar, mas me pego pensando que se eu lesse O Quinze, e depois Vidas Secas; eu gostaria consideravelmente mais de ambos. Este seria uma experiência excepcional, e o segundo beiraria apoteose. Mas não. Tudo que eu sinto é um leve desapontamento, enquanto ainda percebo que o livro é bom.
Tem cenas fortes. Todo o dissolver da família do Chico Bento (e que nome maldito que me fez demorar para conseguir levar o livro a sério) é doloroso e bem construído. Suas cenas são o grande destaque da obra, e onde se carrega o maior peso emocional, bem construída a jornada através da seca, e como o sofrimento se mantém até a cidade. Conceição tem bons momentos, e seu contraste com a pobreza mais explícita é um importante apontamento social nas diferentes escalas de vulnerabilidade. Vicente é meio sem graça, só andando de um lado pro outro meio confuso meio sem propósito, interesse romântico largado.
O livro é construída nessa dualidade de Chico Bento se fodendo e o vai-não-vai de Conceição e Vicente, história meio desconectadas mas que compartilham espaço, e eventualmente se cruzam. É um contraste que funciona, mas que tem suas melhores cenas na metade do retirante, e as perde quando ele sai da história, e perde fôlego para a conclusão.
É bom, tem uma construção legal, dá pra se emocionar se estiver com a mente no estado certo. Mas é um sofrimento esperado, contado de uma forma meio manjada, o que não torna ruim; reconheço a qualidade e a relevância de um clássico.
Mas não é Vidas Secas.