Cidade aberta

Cidade aberta Teju Cole




Resenhas - Cidade Aberta


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Luc1l 24/01/2024

As primeiras 300 páginas foram pra mim como flanar pela cidade, explorando suas emoções e pensamentos (além de seu comportamento) e sentir sua posição no mundo e como isso o atingia.
Mas então (nas últimas quarenta páginas) no final acontece uma tragédia que me dilacerou em muito pedaços - por sua omissão, por sua apatia, por sua total falta de percepção e responsabilidade. E para intensificar tudo de forma trágica, perceber que o protagonista não entende a violência no ato, além de qualquer culpa ou remorso me fez questionar e todo a sua trajetória.
E o fato de Julius pensar que talvez seja mais uma história onde o outro se vitimiza sem enxergar que o próprio está no centro da questão, demonstrando alívio somente por ela não ter chorado, significa tudo pra mim.
Enquanto ela passou sua vida inteira marcada por tal experiência, diariamente rememorando o ocorrido, ele apenas permaneceu intacto, inabalável e inocente.
Não entendi o propósito do autor ter finalizado desta forma, pra mim soou pouquíssimo coerente e até mesmo uma forçação no eixo do personagem porque em muitos momentos me questionei se haveria algo fora da curva (afinal tudo o que o protagonista se propôs a fazer foi sequer concluído), mas entendi que seria uma história passiva sobre o cotidiano em si e suas perspectivas e até aí tudo bem - inaceitável foi o final. O final.
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Taly 19/11/2023

Um livro cheio de reflexões!
Julius faz residência em psiquiatria, e vive na cidade de Nova York - nascido na Nigéria, foi no início da adolescência para os EUA, e durante os caminhos ele divide suas reflexões sobre suas vivências.
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Ramon.Amorim 04/09/2022

"Àquela altura, Kenneth já estava começando a me aborrecer e passei a desejar que ele sumisse. Pensei no motorista de táxi que tinha me levado do Museu de Arte Folclórica para casa - Ei, sou africano que nem você. Kenneth estava com a mesma conversa
Escrito por um nigeriano-americano, Cidade Aberta (2012), de Teju Cole, é um convite a uma leitura multiétnica do nosso mundo, mas sem incorrer em falso identitarismo. Seu protagonista, Julius, seminigeriano, médico em Nova York, flana por essa cidade e também por Bruxelas, conhece pessoas, conversa com elas e se abre a diferentes perspectivas sem misturar-se, na realidade, a nenhuma delas.

As identidades são fluidas, se formam a partir de diferentes tipos de socialização. Julius não se dá tão bem assim com os africanos e caribenhos que encontra. Há certa superficialidade, um cumprimento cordial entre eles que diz respeito a certo entendimento sobre percalços semelhantes que encontram na vida citadina, mas Julius, devido a sua formação acadêmica, está mais próximo do seu ex-professor oriental, Saito, do que do taxista nigeriano, do porteiro do museu oriundo da Antígua e Barbuda ou do engraxate haitiano.

Os encontros de Julius rendem boas conversas, foram bem trabalhados pelo autor. Sua reflexividade também contribui para uma narrativa que prende a atenção e que permite um diálogo direto com o leitor, tratando de temas contemporâneos (morte, crise ambiental, questão árabe) sem ser maçante, envolvendo nesse terreno situações vividas por ele no cotidiano.

Também é um livro agradável para se pensar em cidades que se abrem às pessoas. Teju Cole transmite uma sensação muito favorável de Nova York a partir dos clubes de jazz, mostra uma cidade para caminhadas, agradável piquenique no Central Park, suas descrições das visitas aos museus são ricas e, por fim, revela as possibilidades de interessantes interações humanas àqueles que sabem ser bons ouvintes.
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Christiane 24/07/2021

Julius é um nigeriano que vive nos Estados Unidos em Nova York no pós-Onze de Setembro e faz residência em psiquiatria.
Um livro sobre o híbrido, traumas e uma imensa solidão. Ele passa seus dias no Hospital e depois sai para caminhar pela cidade. A sensação da solidão que ele nos passa caminhando e relatando o que vê somado a informações históricas e também suas lembranças do passado. Aquele momento onde percebemos em alguma coisa ou algo uma pequena lembrança de algo que nos ocorreu que nos vem da memória. Mas ele também empreende uma fuga de tudo, deixa muitas reticências, não consegue se confrontar com seus fantasmas e prefere esquecê-los.
Faz uma tentativa indo procurar sua avó que mora na Bélgica, mas passa seus dias naquela cidade fazendo a mesma coisa, flanando pela cidade, com uma diferença que ele conhece Farouq e mantém conversas com ele, porém em todos os momentos de seus encontros ele mais escuta e pensa do que fala. E não me parece que faz algum esforço para encontrar sua avó de fato, e que talvez nem ele mesmo saiba o que foi fazer ali, pois provavelmente tinha consciência da dificuldade que seria encontrá-la, supondo que ainda estivesse viva.
É no relato de suas errâncias que notamos mais profundamente o hibridismo atual, nas diferenças e nos iguais, que ele relata. Seja nos restaurantes que cita e que são vários podendo ser locais ou indianos, chineses, seja nas lojas que visita e que igualmente podem ser representativas de vários locais, e nas pessoas que encontra nas ruas. Farouq defende a diferença, outros acham que as pessoas precisam ser vistas como iguais.
Os traumas de guerra e da vida que surgem seja nas lembranças de Julius, no que ele vê ou nos relatos de pacientes. As pessoas que deixam seus locais de origem devido ditaduras cruéis, genocídios, guerras e lutas tribais e sonham com um país que haja liberdade, mas será que esta liberdade tão desejada existe? Ou será que há algo oculto na representação da Estátua da Liberdade que a tantos fez chorar de alegria ao vê-la pela primeira vez?
Porém há um outro lado neste livro que só me surgiu quando eu já estava quase terminando a leitura, e confesso que há momentos que se torna até cansativo aquele desenrolar de suas percepções, e foi quando ocorre uma revelação de um fato ocorrido há muitos anos atrás no qual ele seria o vilão. O que realmente me chocou foi que Julius apenas assume que todos nós temos um lado bom e outro mau

" Temos a capacidade de fazer o bem e o mal, e na maioria das vezes optamos pelo bem. Quando não o fazemos , não nos perturbamos com isso..."

Ele deixou uma vida marcada para sempre, e com consequências trágicas, porém não é isto o que me revelou este livro, o que ele mostra claramente, depois que acompanhamos Julius por 300 páginas é sentir e perceber como se sente ou não se sente uma pessoa que cometeu uma violência, relegando isto totalmente ao esquecimento, ou talvez recalcando, mas não acredito que aqui seja isto, ele simplesmente esqueceu, por que para ele isto não o afetou. E quando Moji lhe relata ele chega mesmo a pensar que talvez seja mais uma história onde o outro se vitimiza sem perceber que também está no centro da questão, apesar de ela lhe parecer convincente. Ele não lhe diz nada, apenas dá graças por ela não ter chorado.

Enquanto Moji passou sua vida toda pensando a cada dia nisto, sentindo a marca em si, ele continuou andando e vivendo sua vida, e nem a reconheceu quando a viu no mercado.

Cole nos dá um relato excepcional aqui, pois como esta revelação vem ao final do livro, surpreende e nos pega já mergulhados na vida de Julius, e diante do fato é que percebemos como é com outros que também cometeram atos assim. Crimes que se perpetuam, não só este, mas a violência que vemos no mundo.

Um relato trágico do que ocorre nestes crimes, e que também fazem parte de todas as guerras.
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Marco 16/02/2021

Um livro de descrições
Confesso-me surpreso com "Cidade Aberta". Trata-se de um livro de reflexões sobre a humanidade, sobre o trabalho da psicologia, sobre o individuo diante de uma paisagem que o extasia. Por uma boa quantidade de páginas fiquei tentando adivinhar qual seria a trama narrativa; se a busca pela avó perdida seria o grande turning point do livro, mas, acabei me deparando com o oposto disso. Não é um livro de procura, e sim de encontros, de contemplação. Memorialístico sem sombra de dúvidas, é um livro que pede calma ao leitor, tal qual um poente exige de seu espectador.
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fev 13/01/2021

#BingoLitNegra #LeiaNegros

Teju Cole traz em Cidade Aberta uma reflexão sobre pessoas, lugares e comportamentos. Não é um livro de plot twits, é um livro de contemplação. É um livro com tantas referências a cultura, filosofia, músicas, países que eu tenho certeza que nadei de braçadas na ignorância tendo que ir muitas vezes ao Google. Mas isso é bom, é sair da zona de conforto.

Por meio de Julius, personagem principal, e suas andanças por Nova York, Bruxelas e infância na Nigéria, Teju Cole, propõe conversas intelectuais sobre o mundo. Os capítulos de quando Julius viaja para Bruxelas é uma das partes que eu mais gostei de ler. O capítulo em que ele conversa com Farouq em um bar português é um dos pontos altos do livro pra mim. As conversas com o professor Saito também eram maravilhosas.

O personagem principal é psiquiatra então vemos e lemos muito sobre a mente humana e as suas complexidades. É também é sobre a solidão que permeia a vida do meio nigeriano, meio alemão que enquanto percorre Nova York vai contando a sua história.

Admito que talvez não tenha capitado a essência do livro de um todo, mas posso dizer que foi uma leitura que de certa forma acrescentou algo para mim. Também acredito que nem todo mundo irá gostar enrendo por não ter grandes acontecimentos e ter muito papo cabeça intelectualizado. Mas garanto que é uma ficção boa e com uma escrita maravilhosa. E que merece releitura, pelo menos para mim.

Fica a recomendação.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 14/01/2019

Teju Cole - Cidade Aberta
Editora Companhia das Letras - 320 Páginas - Tradução de Rubens Figueiredo - Capa de Elisa v. Randow sobre fotografia Placa (2010) de Emmanuel Nassar - Lançamento: 15/06/2012.

Nascido em 1975, Teju Cole é um escritor e fotógrafo nigeriano radicado nos EUA, onde mantém uma coluna no New York Times Magazine sobre fotografia e leciona escrita criativa em Harvard. Seu segundo romance, Cidade Aberta, publicado originalmente em 2011, foi vencedor de importantes prêmios literários no mercado editorial norte americano em 2012, como o PEN/Hemingway Award e também finalista do National Book Critics Circle Award. O protagonista é um jovem imigrante nigeriano chamado Julius que guarda muitas semelhanças com o próprio Teju Cole. Vivendo em Nova York, Julius é um estudante de pós-graduação em psiquiatria, separado recentemente da namorada e que costuma fazer longas caminhadas pela cidade de Manhattan, durante as quais observa e comenta, desde o movimento migratório dos pássaros até os monumentos históricos da cidade, sempre com muitas referências à literatura e arte.

O romance certamente tem muito de autobiográfico e é composto, na sua maior parte, por narrativas longas e detalhadas das ruas e habitantes de Nova York, tendo muito pouca ação e diálogos, o que poderá desmotivar leitores pouco acostumados a este tipo de texto reflexivo e, de certa forma, memorialista — um estilo muito comparado ao do escritor alemão W.G Sebald (1944-2001) pela crítica literária. As caminhadas de Julius revelam um sentimento de liberdade que é, na verdade, contrastante com a solidão da vida nas grandes cidades. Ao longo do livro, de forma fragmentada, o protagonista relembra passagens de sua infância na Nigéria em contraponto com a sua condição atual de imigrante.

"As caminhadas atendiam uma necessidade: representavam um alívio do ambiente mental rigidamente controlado do trabalho, e assim que descobri que eram uma terapia, tornaram-se algo normal, e esqueci o que era a vida antes de eu começar a dar minhas caminhadas. O trabalho era um regime de perfeição e competência e não admitia improvisação nem tolerava erros. Por mais interessante que fosse meu projeto de pesquisa — eu fazia um estudo clínico sobre os distúrbios afetivos em idosos —, o grau de minúcia que a pesquisa exigia era de uma complexidade que ultrapassava qualquer outra coisa que eu tivesse feito até então. As ruas serviam como um bem-vindo oposto de tudo aquilo. Cada decisão — onde dobrar à esquerda, quanto tempo ficar perdido em pensamentos diante de um prédio abandonado, onde parar para ver o sol se pôr sobre Nova Jersey ou despencar nas sombras do East Side, de frente para o Queens — era algo irrelevante e, por esse motivo, servia como uma evocação da liberdade. Eu percorria os quarteirões da cidade como se medisse as distâncias com meus passos, e as estações de metrô serviam como motivos recorrentes em minha marcha sem destino. A visão de grandes massas humanas descendo afobadas para câmaras subterrâneas era perpetuamente estranha para mim, e eu tinha a sensação de que a raça humana inteira se precipitava, empurrada por um impulso de morte antinatural, rumo a catacumbas móveis. Na superfície da terra, eu estava com milhares de outros em sua solidão, mas dentro do metrô, de pé entre desconhecidos, empurrando e sendo empurrado em busca de espaço e de uma brecha para respirar, todos nós reconstituíamos traumas não admitidos, a solidão intensificada." (Pág. 14)

Juntando as partes do passado de Julius que são reveladas aos poucos, de forma não linear, o leitor toma conhecimento da sua ascendência nigeriana por parte de pai e alemã pela mãe, heranças culturais tão diversas que fazem da busca da identidade uma das chaves principais do romance. O protagonista nunca está completamente integrado à paisagem local, seja em seu país natal ou nos Estados Unidos, sendo um mero observador da vida de outras pessoas, talvez uma razão para as caminhadas aleatórias pelas ruas de Nova York.

Durante uma viagem de férias na Bélgica em busca de informações sobre sua avó alemã que havia se mudado para lá há muitos anos, o olhar fotográfico de Julius descreve a cidade de Bruxelas e a vida de imigrantes na Europa em um mundo globalizado, mas que revela uma aversão crescente a refugiados, principalmente em uma época pós-Onze de Setembro, com uma série de eventos de ódio racial. É por meio da proprietária do apartamento que ele aluga em Bruxelas, Mayken, e um imigrante marroquino, funcionário de uma lan house, Fariq, que Julius conhece mais sobre a comunidade local e a sensação de não pertencimento.

"Pensando melhor nas afirmações de Mayken, concluí que eu estava enganado. O que Farouq recebia no bonde não eram rápidos olhares desconfiados. Era um medo fervilhante e mal contido. A clássica visão contra os imigrantes, que os encarava como inimigos que competiam por recursos escassos, estava convergindo com um renovado temor do islã. Quando Jan van Eyck retratou a si mesmo num grande turbante vermelho na década de 1430, deu um testemunho do multiculturalismo da cidade de Ghent no século XV, onde o estrangeiro nada tinha de incomum. Turcos, árabes, russos: todos faziam parte do vocabulário visual da época. Mas o estrangeiro continuou um estranho e se converteu num alvo para novos descontentamentos. Ocorreu-me também que eu não estava numa situação tão radicalmente diversa da de Farouq. Meu aspecto — o estrangeiro de pele escura, solitário, que não sorri — fazia de mim um alvo para a raiva sem forma dos defensores de Vlaanderen. Num lugar errado, eu poderia ser visto como um estuprador ou um 'viking'." (Pág. 130)

O conhecimento enciclopédico de Julius, ou é claro do próprio Teju Cole, nas áreas de literatura, arte e cultura, nos proporciona os melhores momentos do livro, seja analisando a biografia e as sinfonias de Gustav Mahler (1860-1911), comentando uma exposição no Museu de Arte Folclórica Americana sobre o desconhecido pintor norte-americano John Brewster Jr. (1766-1854) ou simplesmente descrevendo o ambiente em um vagão de metrô em Nova York, uma das cidades mais fascinantes do mundo, o livro é menos um romance e mais em um diário inspirador que certamente despertará o apetite intelectual do leitor.
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GilbertoOrtegaJr 22/11/2014

Cidade Aberta- Teju Cole
As grandes cidades do mundo sempre recebem, para morar nela, pessoas de várias partes do país, ou até mesmo do estrangeiro, que seja por um motivo ou por outro passam a adotá-las como sua nova casa. É este o caso de Nova York, e é este também o caso de Julius, personagem central do livro Cidade Aberta, primeiro romance do nigeriano Teju Cole, que assim como Julius foi morar em Nova York.

Julius é médico residente em psiquiatria, sempre após seu trabalho ele caminha aleatoriamente pela cidade, sempre ponderando sobre arte, cultura e vivenciando pequenas experiências que são narradas por ele com uma narrativa fluente. Nestas mesmas caminhadas o personagem reflete sobre seu passado na Nigéria, sua família que a muito não tem contanto com nenhum de seus parentes e também sobre sua vida em Nova York, cidade que resolveu viver, mas não se integrar a ela.

O romance funciona como uma grande demonstração de afeto a cidade, mas também tem como pano de fundo a capacidade de que grandes cidades tem de agregar estrangeiros as suas paisagens; a avó de Julius é alemã, mas vive em Bruxelas, a mãe de Julius é alemã, mas viveu grande parte da sua vida na Nigéria com o pai dele que era nigeriano, Faruq, um árabe que Julius conhece também adotou Bruxelas para viver, alguns outros nigerianos amigos de Julius vivem em Nova York, assim como ele e por ai vai.

Muito embora o livro flua de forma rápida e leve para mim a narrativa apresenta várias lacunas; não existe uma trama definida a nível de começo, meio e fim, o autor começa e vai misturando digressões com pequenos fatos, lembranças. Muitas vezes o narrador parece estar tentando provar algo a alguém ao fazer inúmeras referências a livros ou histórias, como se tentasse mostra olha eu tenho cultura. Julius assim como a trama são rasos, o personagem não soa convincente por estar sempre desconectado de tudo que não seja arte ou cultura, já o livro como um tudo por tentar abranger muitos temas, consequentemente acaba não se aprofundando em nada. Fora isso o livro poderia funcionar fácil como um guia para se conhecer como se vive em Nova York, mas nem neste aspecto seria considerado por mim algo totalmente satisfatório.

site: http://lerateaexaustao.wordpress.com/2014/11/22/cidade-aberta-teju-cole/
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Guigui 24/06/2014

Muito monótono e descritivo em excesso
Acabei de ler Cidade Aberta de Teju Cole, realmente o livro trata da enfermidade de uma Nova York que muda constantemente. Valeu por descobrir o verdadeiro significado de cidade aberta. O livro é bom apenas nos capítulos que ele vai a busca de suas origens e de sua avó em Bruxelas. O sujeito caminha e vai descrevendo o que ele vê, achei muito monótono e descritivo em excesso.
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Sérgio 07/03/2013

Sensível ou enfadonho?
Título original: Open City
Gênero: Romance
Ano de lançamento: 2011
Ano desta edição: 2012
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 320
Idioma: Português (tradução de Rubens Figueiredo)

Citação: "Eu era o filho estranho, entende? Faltava às aulas para poder ir a outro lugar e ler o que eu queria, por conta própria. Assistir às aulas nunca me ensinou nada. Tudo o que há de interessante está nos livros, os livros é que me deram consciência da diversidade do mundo. É por isso que não vejo os Estados Unidos como monolíticos. Não sou como Khalil nesse aspecto. Sei que lá existem pessoas diferentes, com ideias diferentes, sei de Finkelstein, de Noam Chomsky, e o importante para mim é que o mundo se dê conta de que nós também não somos monolíticos, no que eles chamam de mundo árabe, que somos todos indivíduos. Discordamos uns dos outros. Você acabou de me ver discordando de meu melhor amigo. Somos indivíduos."


Entrei em contato com o livro de Teju Cole ao me inscrever para um dos clubes de leitura que a Companhia das Letras organiza na cidade de São Paulo. E, devo confessar, que péssima maneira de começar num clube de leitura.

A premissa do livro parece ótima: Julius, um nigeriano morador de Nova Iorque, é um psiquiatra que faz sua residência, e que gosta de fazer longas caminhadas pela cidade, e refletir sobre o que vê, sobre si mesmo, numa cidade que ainda carrega os traumas e cicatrizes do atentado de 11 de setembro de 2001. O grande problema é que o romance de estreia de Teju Cole é lento, enfadonho, embora descrito como memorável, e tenha ganho prêmios literários lá fora. Sinceramente, a Nova Iorque que Julius enxerga é estéril, solitária e pedante: entre seu amor pelos museus e pela música clássica, ele consegue nos instigar ao falar de certas obras, mas nos entediar ao descrever quais sensações ele está sentindo quando arrebatado pela sinfonia X ou Z... Talvez eu simplesmente não conheça o suficiente de música clássica para me identificar com o protagonista, mas talvez simplesmente seja muito chato ler sobre as sensações que qualquer estilo de música provoca em qualquer pessoa.

O protagonista é polêmico por ser extremamente arrogante, mas não é uma aversão a ele que me fez não gostar do livro, mas simplesmente a maneira como Cole conduz a trama (que, na verdade, não existe): Julius vagueia por Nova Iorque, mistura suas impressões da cidade com as de sua infância na Nigéria, descobre meio sem querer que quer ir atrás de sua avó em Bruxelas, vai, procura por ela por dois dias depois passa o resto do tempo apenas vagando pela cidade, volta para Nova Iorque e continua vagando e divagando pela cidade. Nada acontece.

Julius é um nigeriano bem nascido, filho de um negro e uma branca de origem germânica. Por ser mestiço e ter um nome pouco tradicional na Nigéria, fica claro que ele não se encaixa lá, fato que se repete onde quer que vá: ele é sempre o outsider, não parece se sentir confortável em nenhum dos cenários do livro. A Nova Iorque que ele descreve é, na maior parte do tempo, um lugar de aparência fria, mas não em relação à temperatura, e sim às pessoas; parece que as pessoas não são parte da paisagem da cidade, somente um pequeno entrevero.

Para não dizer que somente falei mal do livro, há que se elogiar a quantidade de contradições em Julius, que acabam por torná-lo um personagem mais complexo e verossímil: ele não tem problema em entrar no táxi de um negro, mas acha ofensivo usar o serviço dos engraxates do metrô; ele demonstra estar incomodado ao encontrar Moji, a irmã de um amigo de infância num mercado, e inclusive comenta como ela é irritante e não muito bonita, para algumas páginas à frente, depois de estabelecer uma amizade, comentar como a mesma estava linda na festa no apartamento de seu namorado. Além de sua arrogância, ele também carrega uma certa misantropia, sendo avesso a se relacionar com algumas pessoas, mas o livro só se torna levemente interessante quando há tais interações, já que a vida de Julius é extremamente monótona: seja o preso que ele visita na cadeia, num trabalho voluntário, ou Faroucq, o muçulmano que ele conhece na lan house em Bruxelas (cuja fala foi reproduzida na citação), ou o professor Saito, admirado por sua sabedoria; tais personagens trazem outras vozes, e alguma riqueza e diversidade para a narrativa.

Aliás, utilizando-se das vozes dos personagens Teju Cole levanta alguns temas polêmicos para debate, com opiniões fortes que não posso afirmar que sejam suas, mas que são relevantes o suficiente para receberem um pouco de reflexão: a questão do estado de Israel e a Palestina, com uma crítica à eterna lembrança do massacre dos judeus na segunda guerra mundial, a crítica á política externa americana, preconceito contra os árabes no pós-onze de setembro, casamento gay, sustentabilidade e reciclagem, preconceito racial. Teju Cole dá alguma relevância a seu romance ao abordar tais assuntos, mas de maneira superficial.

Depois de quase 300 páginas de nada acontecendo, uma revelação bombástica é feita sobre o protagonista, e as consequências para tanto simplesmente não existem. O romance continua como se o que aconteceu nas páginas anteriores tivesse sido irrelevante, não há a menor consequência para o diálogo de Moji e Julius, e ele continua a viver sua vida como se aquilo não tivesse proporcionado o menor incômodo nele.

O livro termina com um monólogo sem propósito sobre os pássaros de Nova Iorque, um monte de informação irrelevante que talvez sirva para demonstrar que o protagonista é uma pessoa extremamente solitária, mas que no final só demonstra que este livro demonstra uma tal sensibilidade que não é para todos (com certeza, não sensibilizou a mim).

P.S.: Apesar do livro, o encontro do Clube de Leitura foi divertido e proveitoso! E para o próximo leremos um escritor clássico: "O Aleph", de Jorge Luis Borges!

Resenha postada originalmente em: http://catharsistogo.blogspot.com.br/2013/03/cidade-aberta-teju-cole.html
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