Amanda 26/03/2020Tríptico: um conjunto de três pinturas unidas por uma moldura tríplice, formando uma única imagem.Como grande fã de thrillers, aprendi a não criar expectativas demais a fim de não me decepcionar caso o mistério não seja totalmente explorado ou a solução seja um tanto quanto óbvia. Por isso, quando encontrei pela primeira vez a escrita de Karin Slaughter, minha surpresa foi a melhor possível.
Utilizando o método de revelar todas as partes da história antecipadamente, a tensão do livro é construída em cima da espera do leitor para que os fatos se conectem e sejam finalmente descobertos pelos detetives da trama. Passei o livro todo nervosa para o momento em que a verdade seria revelada para todos e a justiça seria feita.
Com personagens marcantes e bem caracterizados, desconfiamos de alguns e queremos ajudar outros. Angie é uma policial que já enfrentou muitos problemas durante sua vida e, hoje em dia, lida com conflitos internos e cicatrizes que só ela vê. É uma mulher determinada e um exemplo de força. Karin descreve de forma muito real as dores vividas por uma mulher vítima de abuso e abandono, e nos emociona ao mostrar como a amizade e o amor podem ajudar a curar algumas feridas.
Esse é o primeiro livro da série protagonizada pelo detetive Will Trent e não pude deixar de notar as semelhanças com outro detetive que amo: Harry Hole, dos livros de Jo Nesbo. Ambos são detetives incríveis, com percepções inacreditáveis sobre a mente humana e seus piores atos, mas, por algum motivo, não conseguem aplicar essas percepções para as próprias vidas e estão sempre com problemas. Esse roteiro de detetive antissocial que não consegue ajeitar sua vida pessoal, apesar de clichê, me conquista toda vez. Acho que tenho um pouco de Angie Polaski e Rakel Fauke em mim.
No livro são abordados assuntos reais, como o abandono familiar e a prostituição, e relatos baseados na realidade mostram a marginalização de comunidades e pessoas por descaso das autoridades e do restante da sociedade. A autora compreende e nos mostra que às vezes a vida não nos dá escolha e o "mau caminho" é o único que pode ser trilhado com vida. Nos deparamos também com descrições extremamente reais de problemas como a vida em presídios e todos os problemas enfrentados devido ao encarceiramento em massa e a falta de programas para reabilitação daqueles que cumprem sua pena.
"Não era preciso um economista de Harvard par apontar que sairia muito mais barato investir em dar segurança a jovens e crianças do que em colocá-los na cadeia quando adultos. Mas aquele era o jeito americano. Gaste um milhão de dólares para resgatar uma criança que caiu em um poço, mas nem pense em gastar 100 dólares, antecipadamente, para tapar o poço e evitar que ela caia."
Porém, devo avisar: se você é um leitor um pouco mais sensível, cuidado com esse livro! Tratando de temas como assassinato, violência e principalmente estupro, a obra descreve cenas fortes que podem afetar nossa mente. Caso você deseje ler mesmo assim, aconselho que pare nos momentos mais pesados, dê uma respirada e não deixe toda a maldade presente em um personagem te absorver mais do que deveria.
"Tríptico" foi uma surpresa maravilhosa e Karin Slaughter já tem um pezinho na minha lista de autores favoritos. Para quem gosta de mistérios, detetives meio desregulados e temas reais, esse livro é perfeito.
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