Gean 11/06/2022
Obrigado senhor Pedro Carridin pela recomendação.
Este livro foi uma nova experiência de leitura, extremamente interessante e reflexivo.
De um lado temos a premissa de um adolescente de 15 anos denunciado e sentenciado a mais de 20 anos – por ter estuprado, arrancado a língua, assassinado e urinado em um jovem – de sua vida atrás das grades, ao invés da pena de morte.
Crime brutal, sem dúvidas. Desde o início eu reconheci o personagem de JOHN como realmente culpado. Ora, tudo levava a crer isso, principalmente seu ponto de vista onde se coloca na situação do executor do delito.
Primeiro ponto a analisar foi esse, eu o acusei disso, achei que fosse culpado, até porque foi condenado, surpreso fiquei por ter se mostrado o contrário do meu preconceito. Todavia, vê denunciados sobre a ótica de sempre inocentes é algo meio que ingênuo.
Talvez por isso que eu não percebi que a psique do JOHN era de um adolescente inocente, e não como um adulto que sabia muito bem o que teria feito.
Pois bem, adentra-se muito esse livro sobre o sistema penitenciário e principalmente sobre uma vertente do direito penal histórico que é a retribuição, isto é, o delinquente experimentar tão grandemente o mal que cometeu.
Aqui vemos que JOHN constantemente foi estuprado por ZEBRA, um caçador sexual de jovens. Vemos que ele diversas vezes vivia com medo, haja vista que sua jovialidade e seu corpo era comercializado quando ZEBRA havia se cansado dele. Havia também os olhares ameaçadores dos policiais e demais detentos, os quais poderiam o jogar no buraco.
Por outro lado, também é apresentado uma interessante e contraditória espécie de honra entre prisioneiros. BEN e JOHN em uma amizade estranha. Aquele, conhecido e temido por todos os detentos, desde os estupradores de crianças ao de idosas, desde homicidas a outros detentos perigosos. Ele protegia JOHN e por incrível que pareça não cortou o mamilo deste. nesse cenário JOHN encontra um companheiro de cela – e até aquele momento o único companheiro que poderia ter – alguém com quem passou muito tempo e aprendeu as únicas coisas que poderia aprender dentro de uma cela.
Enquanto preso, seu primo, MICHAEL, estava agindo sob a égide do disfarce de JONN para continuar fazendo o que fez com MARY ALICE, estuprar, assassinar, cortar línguas. Sua Mãe, advogada, sempre soube o que seu filho era e mesmo assim permitiu que um inocente fosse para a prisão e pagasse por algo que não fez, bem como fingiu que iria defender JOHN, quando em verdade apenas estava apagando as pistas que levasse seu filho a ser descoberto.
Além disso, em um cenário infelizmente muito comum somos levados aos subúrbios da prostituição e das violências praticadas contra as mulheres.
MICHAEL, policial respeitado representa o fato que assediadores e estupradores podem ser em sua maioria pessoas respeitadas e que ninguém imagina que algo do tipo possa ser praticado por elas.
Há um certo quesito psicológico que merece ser alvo de estudos: criminosos sexuais que são presos normalmente nas prisões sofrem o mal que causara, no entanto, isso não é suficiente para os fazer parar com tais práticas quando soltos, de modo que se tornam reincidentes específicos (cometem novamente crimes sexuais). Do ponto de vista do direito penal, pode-se verificar que a vertente atual da teoria mista (composta por prevenção e retribuição) fracassa em prevenir que o criminoso volte a praticar crimes.
Esse fracasso em prevenir pode trazer à tona uma questão: pena de morte. Do ponto de vista pessoal é uma possibilidade, do ponto de vista dos fatos, isso esbara com a seguinte hipótese: e se o acusado for inocente, a exemplo de JOHN?
Quanto ao final do livro, inicialmente pensei que fosse fraco, mas em real não é. Ora, JOHN ficou preso por umas duas décadas; sua mãe morreu quando ele estava prestes a sair da prisão – especificamente um dia antes –; sua irmã e pai passaram a o odiar; na prisão foi violentando de todas as formas possíveis e quando saiu ele se deparou com o choque que todo o mundo mudara. As músicas não eram mais as mesmas; tecnologia havia avançado com celulares, MP3s e etc; tudo custava muito dinheiro, coisa que ele nunca tinha, pois era um ex presidiário e não conseguiria um bom emprego por ser um pedófilo.
Nessa hipótese, pode-se mencionar que isso para alguns detentos pode ser uma prisão maior do que a prisão em si. Pois vale dizer que a prisão só é prisão se o réu não gostar dela, vez que há a hipótese de que criminosos que possuem grande poder dentro de presídios podem sair dela e verificar que no mundo externo não possuem tal poder e pode imediatamente retornar para as grades. Nesse caso, seria mais uma gratificação do que uma penitência.
Falar em prisão, como bem observado por JOHN, a mãe de MICHAEL estava em uma prisão em sua mansão. Cercada por bens extremamente caros que sua fortuna conseguida através da exploração de clientes pôde lhe proporcionar. Nesse estágio de sua vida apenas o dinheiro lhe importava. Pouco importando se a vida de alguém estava destruída.
Nesse caso, por fim, não há final feliz para JOHN, mesmo que seu nome seja limpo e o verdadeiro criminoso – que jaz morto – revelado, sua vida; sua juventude; seu sofrimento; sua família e todas as possibilidades do que poderia ser estarão perdidas para sempre.
Por fim, por um lado a autora genialmente explora toda uma legalidade do sistema penitenciário e por outro lado explora suas brechas.
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Menções especiais: ANGIE e WILL possuem um relacionamento muito interessante. Ambos órfãos, excluídos e também violentados de formas variadas, unidos há muito tempo por laços que talvez nem o tempo possa quebrar. Provavelmente ambos poderiam ter seguidos caminhos que os tornariam as vítimas as quais eles defendem todos os dias.
MICHAEL desde o início sabia de seu mau caráter ao trair a esposa dele com a vizinha. Sua morte foi breve e sua punição foi ínfima se comparado a tudo o que causou. A morte não foi uma punição, mas libertação.
JOHN, em contrapartida, havia algo errado quando estava lendo sob seu ponto de vista, eu gostei dele, apesar de ele ser um criminoso.
CHEFE do WILL, a senhora AMANDA, teve pouco tempo de tela.