Carolina Mendes 26/08/2020
Karin Slaughter não é para fracos
E longe de mim insinuar que você, caso não tenha gostado do livro, é uma criatura fraca. Mas acontece que Karin Slaughter não faz nada pra amenizar o impacto das suas histórias. São os livros policiais mais assombrosos que qualquer história de horror que eu já tenha lido, porque a autora explora o que há de mais perverso no ser humano, sem dó nem piedade dos leitores mais sensíveis. Estupro, pedofilia, mutilação, tortura, aos detalhes... tudo que ela inclui nas suas histórias é regado de cenas gráficas, cruas e muito pouco fica pra imaginação do leitor.
Em Tríptico a gente acompanha quatro personagens importantes: Michael, John, Angie e Will.
Michael é um detetive de 40 anos, casado, pai de um menininho com deficiência intelectual. A primeira parte do livro é quase toda focada nele, e em um crime macabro em que ele é designado a investigar. Uma prostituta brutalmente estuprada e assassinada, que tem a língua arrancada com uma dentada.
Pois bem, o segundo personagem é o John, a segunda parte do livro é dedicada inteiramente a ele, e intercala os anos 1985, quando John era jovenzinho e junkie, e os dias atuais, no caso, 2005. John é um homem que saiu recentemente da cadeia, depois de cumprir 20 anos de pena por um crime bem semelhante ao que Michael investiga, com a diferença do perfil da vitima. A suposta vitima de John não era uma prostituta, mas uma colega de escola de 15 anos, do subúrbio, classe média alta, de vida perfeita, e bla bla bla, mas o modus operandi, idêntico.
Will, o detetive que dá nome a série, ganha destaque na terceira parte do livro. É um personagem adorável, com uma vida muito sofrida. Eu fiquei surpresa por ele não ser um daqueles detetives infalíveis, que enxergam coisas que ninguém mais vê, fiquei até bem nervosa com o tanto de equívocos que ele comete durante a investigação. Ele entra na história como agente do GBI designado a auxiliar a investigação de Michael.
Angie, de certa forma é a personagem que liga (ou religa?) esses três personagens, ela é uma detetive que trabalha nas ruas disfarçada de prostituta.
Apresentar os personagens é mais do que suficiente, porque esse é o tipo de livro em que é muito mais bacana se jogar sem saber muito, eu diria até que a sinopse entrega mais do que deveria, quando menciona a ligação de Angie com alguns personagens.
Karin Slaughter não faz questão de levar o mistério “quem é o assassino” até o fim, muito pelo contrario, antes da metade do livro, o que não está explicito é pelo menos facilmente dedutível, até pro leitor menos acostumado com thrillers, mas o barato da história nem está exatamente no mistério, mas na forma como tudo vai se solucionando.
Eu amei (da maneira como é possível se amar um livro que trata de carnificina). Queria mais no fim, eu torci especialmente por um personagem que teve sua cota de sofrimento por dez vidas estourada. Queria um epilogo com um final feliz, com direito a família, e cerca branca, sei lá... mas acho que é pedir mais pra Karin Slaughter - o forte dela é nos fazer sofrer.