Karol 27/09/2012
♪♫ Welcome to the nightmare in my head! Say ‘hello’ to something scary! ♪♫
Esse verso é de uma música da banda chamada Halestorm e me lembra muito de Branca dos Mortos e os Sete zumbis. Não só por o livro ser assustador, mas também por a música ter um “quê” de referência ao clássico O Médico e o Monstro, que narra o estranho caso de múltipla personalidade do Dr. Jekyll que tem dentro de si o temível Mr. Hyde. (Vai dizer que vocês não se lembram do episódio do Piu Piu onde o passarinho toma uma poção verde e vira um bichão medonho e mal humorado?)
Pois é. O livro Branca dos Mortos e os Sete Zumbis não é inspirado no clássico (ou talvez seja, tá aí a Samarapunzel que não me deixa mentir), mas a autoria do livro é bastante curiosa. O autor, Abu Fobiya é o alter ego, o Mr. Hyde de Fabio Yabu, autor conhecido principalmente pelos seus contos de fadas infantis. Fiquei surpresa ao descobrir que o cara que escreve magníficas histórias de princesas tem dentro de si um universo macabro como o de Branca dos Mortos. A referência ao clássico se torna perfeita ao analisarmos os dois extremos do trabalho de Fabio Yabu e fico feliz em dizer que, tanto nos contos de fadas quanto nas histórias de terror, ao autor se sai bastante bem.
O livro traz diversos contos baseados em histórias infantis com um toque bem macabro. Aqui não há aquela história de mera referência, o autor vai direto ao ponto deixando bem claro qual princesa será detonada no conto em questão. E não pensem em finais felizes, nesse livro o buraco é mais embaixo. Em quase todas as histórias há violência, mutilações, loucura e morte. É uma leitura rápida, mas bem pesada, que cria no leitor (criou em mim, pelo menos) uma referência mental permanente. Você nunca mais vai pensar na Rapunzel ou na Cinderela do mesmo jeito. Sério.
São, ao todo, onze contos mas não vou comentar todos aqui senão essa resenha vai ficar gigantesca. Selecionei os meus favoritos e vou comentá-los rapidamente pra dar uma noção para vocês do tom da obra.
Branca dos Mortos e os Sete Zumbis: dá o título ao livro e é o maior de todos. A história começa semelhante ao clássico, com algumas ressalvas. A tal da Floresta Encantada é, na realidade, amaldiçoada e os bons anões ficariam bem em um episódio qualquer de Walking Dead. A história é contada com bastante frieza e de sonsa a Branca não tem nada. Esqueça essa história de bater papo com animaizinhos e dormir entre coelhos e esquilos. Os coelhos e esquilos desse conto tem juízo o suficiente para não ficar dando sopa na floresta com anões zumbis a solta.
Cindehella e o Sapatinho de Cristal – é um dos mais semelhantes ao original, mas tem uma reviravolta fenomenal no famoso baile do príncipe. O conto tem um tom assustador especialmente por mexer com um ser que normalmente é tratado com deferência na literatura fantástica: a fada madrinha. Depois do que ocorre à Cindehella eu pensaria duas vezes antes de aceitar presentes de velhas que aparecem do nada e sabem fazer magia. O final do conto é aterrador e me divertiu bastante, pra quem curte uma boa vingança esse conto é perfeito.
Samarapunzel: o melhor conto de todo o livro. Como dá pra notar há referências à Samara d’O Chamado e à fofa da Rapunzel. A mistura dessas duas personagens em um conto de fadas é surreal e ficou muito legal. Como comentei lá em cima, há aqui uma boa mudança de personalidade na personagem principal e o príncipe ficou muito bem introduzido no contexto, em uma abordagem jamais vista na história desse país. De todos foi o que considerei mais aterrorizante e, contraditoriamente, engraçado. Não vou dizer onde está a graça porque seria spoiler, mas digo com convicção: Merecia um livro próprio!
Os outros contos são ótimos também, mas se eu escrever mais que três páginas quase ninguém vai querer ler então vou maneirar.
As histórias são rápidas e em dois dias li o livro todo. E a publicação é ótima. O livro é pequeno – em páginas e tamanho – e é muitíssimo bem trabalhado, com ilustrações bonitas e bem perturbadoras em alguns pontos, que ajudam a trazer um tom mais sombrio
à história.
Por conter sexo, cafagestagem e mortes incontáveis, além de um misticismo bem macabro, não é recomendado para crianças e adolescentes, mas para quem curte um bom livro de terror eis aí uma bela dica. O trabalho de Fabio Yabu nessa nova área é a uma verdadeira revelação e vale o preço salgado do livro.