Mia Fernandes 04/05/2020
O caminho para casa - Kristin Hannah
Quero agradecer pela parceria com a Arqueiro, em ter enviado a copia deste exemplar que é um folhetim digno de uma novela das nove. O livro permeia toda a sua trama com assuntos que nunca vão deixar de ser importantes: família, amor e perdão. Num mundo onde os valores se perderam, no qual famílias estão se dissolvendo, o amor se tornou banal e o perdão simplesmente perdeu a sua voz, Kristin Hannah traz de volta o quanto esses três elementos juntos podem montar pessoas melhores e um mundo melhor.
“A questão não é estar na mesma escola, nem na mesma cidade ou no mesmo quarto, Lexi. A questão é estar juntos. O amor é uma escolha. Eu sei que você é jovem, mas isso não significa nada. Você acredita no que sente? É isso que importa.”
Fui informada antes de começar a ler, que esta autora tendia para o lado dramalhão. Mas, tirando a minha veia de sofrência, O Caminho para Casa é aquele tipo de livro no qual não fica somente focado no relacionamento entre os protagonistas. Não, os personagens são aprofundados. É inevitável, a partir da sinopse que muitas lágrimas vão ser derramadas no decorrer da leitura.
Jude é uma mãe superprotetora, que toma conta de cada suspiro e lição de casa dos seus filhos, os gêmeos Mia e Zach. Então, ela sabe os pontos fortes e fracos de cada um. E tem um carinho especial com Mia, já que uma garota frágil. E agora, eles estavam entrando para o Ensino médio, se tornariam adolescentes e ai começariam os problemas, típicos da idade, bebidas, festas e drogas. Todo esse zelo e vigilância poderia cobrar um preço caro.
“A cada hora que passava, Lexi se sentia mais em casa, e só estava com a tia havia quatro dias. Essa adaptação a apavorava. Ela sabia como podia ser perigoso começar a gostar de um lugar, de uma pessoa...”
Lexi, uma garota com um passado bem sofrido. Filha de uma mãe drogada, ela passara toda a sua infância em lares adotivos temporários. Somente quando fez 14 anos que ela fora morar com a tia Eva, parente de sua mãe. É a partir deste momento, que Lexi começa a vislumbrar um futuro mais esperançoso. Além, de agora ter um lar amoroso, ela faz amizade com Mia e Zach.
Trio parada dura, amigos inseparáveis. A conexão de Mia com Lexi é algo realmente muito lindo de ser acompanhado. Melhor, todos os relacionamentos são desenvolvidos com a sutileza precisa e totalmente verossímeis. Deu para sentir cada ligação, cada pensamento e sentimento compartilhado.
“Toda a força que tinha, Jude a estava usando para controlar as próprias emoções... tudo o que ela tinha dentro de si estava empenhado em simular que “lidava” bem com a situação.”
Caminho para casa é divido em duas partes: antes e depois do acidente. Era sabido desde o início, e ao acompanhar o crescimento do trio de amigos, que ao chegar ao ápice da adolescência e suas travessuras, que estava para acontecer uma fatalidade que mudaria a vida de todos os personagens. E o grande ponto aqui foi que a autora não se perdeu em nenhum momento. Ela mostrara a dor da perda dos personagens de maneira única e impar. O sofrimento de uma mãe, os seus questionamentos.
“Não tinha mais forças e sentia medo, embora não soubesse o que a assustava. Ficar no lugar? Virar a página? Se agarrar ao que havia? Nada mais parecia seguro e ela queria alguém com quem pudesse conversar, alguém que a ajudasse a encontrar o caminho.”
Além de trabalhar a dor, também vemos como lidamos com ela. Porque existem dois caminhos: seguir em frente ou ser consumido por ela. Os personagens cometem erros, tentando no final acertar. Uma grande sacada da autora é mostrar determinados personagens nos dois lados da moeda: como a vítima e o algoz.
“Só sabia que acreditava profundamente que, se fizesse a coisa certa, se sempre agisse da melhor maneira, assumisse a responsabilidade pelos próprios erros e tivesse uma vida baseada na moral, acabaria bem. Não seria igual a mãe.”
Li este livro com o coração na mão, e colhendo algumas lições no momento em que os personagens a absorviam a mensagem. Sei que destaquei varias virtudes da história, mas tenho que ressaltar que a mensagem de amor e perdão é uma das mais importantes. Principalmente, quando reconhecemos o próprio erro, que pegamos o caminho errado. Entretanto, quando existe força de vontade e amor, podemos recomeçar e corrigir cada um deles. Começando com a própria postura diante de si mesmo.
“As pessoas pensam que amar é um ato de fé. Às vezes, é um ato de vontade.”
Filosofei um pouco, mas A Caminho de Casa te desperta para algumas destas questões. A nova capa também é mais condizente com o enredo. O vidro rachado tem tudo a ver, com as cicatrizes que levamos depois de uma perda.
“De repende, ela se sentiu mais forte que em todos os meses passados, talvez os anos. Não sabia como corrigiria todos os rumos errados que tinha tomado, mas era hora de começar a desfazer seus erros. Um de cada vez...Talvez o tempo não curasse as feridas, exatamente, mas criasse uma espécie de armadura, ou uma nova expectativa.”
xoxo
mia fernandes.