PorEssasPáginas 30/10/2014
NHAC! Com fome de loucura? Pronto para fazer uma boquinha? Então Mastigando Humanos é o livro certo para você. Pegue seu chá de cogumelo, toque Lucy in The Sky with Diamonds e se prepare para a viagem que é este livro. Torça para não ser uma bad trip...
Importante: Esta resenha contém spoilers, porém a trama é tão insana que não estes não tiram a graça da leitura. Sem contar que é impossível spoilar piadas e divagações de um crocodilo.
Acompanhamos a história de um crocodilo que, chateado com a vida bucólica de seus semelhantes, resolve se aventurar por águas mais sujas e com sabor diferenciado os esgotos de uma cidade qualquer. O livro é narrado por nosso amigo repitiliano, que afirma ter desenvolvido a capacidade de raciociínio devido aos tóxicos ingeridos no esgoto.
Podemos dividr o livro em três partes Esgoto, Universidade e Motel. Bizarro? Sim, mas afinal em um livro narrado por um crocodilo, esse é o menor dos males. O livro peca mesmo, por ter somente um capítulo. Isso mesmo, um capítulo de 174 páginas, sem quebras ou divisões.
Na primeira parte, Esgoto, conhecemos os amigos do crocodilo: Brás, um cachorro cujo alguns de seus amigos foram devorados Santana, um velho tonel de óleo sua primeira paixão Vergueiro, o sapo fumante (entre outros vícios). Após instalar-se nos esgotos e se alimentar dos dejetos e detritos humanos, instaura-se uma ditadura dos ratos, que passam a controlar todos os objetos e alimentos que saem pelo esgoto, para desespero do narrador. Junte a fome com a oportunidade uma moça que perde o sapato no esgoto e solicita a ajuda do narrador para recuperar o mesmo e temos a primeira refeição humana do livro Anhangabaú, o travesti.
Com certeza você deve ter pego a impressão que este é um livro sarrista, impossível de ser levado a sério. Afinal com uma história tão absurda, como não rir, não é mesmo? Porém o autor surpreende nesse quesito, tornando o crocodilo extremamente filosófico e analítico. Divagamos sobre sapos , cachorros, literatura, digestão, docência, cadeia alimentar, a humanidade entre outros. É bastante assunto pra digerir e por vezes pode causar indigestão (ok parei com os trocadilhos), ou seja, um leitor não preparado para tantos monólogos e teorias pode se cansar facilmente.
Essa ditadura dos esgotos é rompida, com a introdução de Vergueiro o lagostim, o qual incitará idéias revolucionárias na mente de nosso amigo de sangue frio. É aqui que o bicho pega, literalmente. Nosso narrador finalmente se solta e devora tudo que vê pela frente, ratos, esquilos e um verdadeiro buffet de humanos. Infelizmente a festa não dura muito tempo devido à uma construção que chega até o lar do crocodilo e seu subsequente envio à universidade para estudos.
Começamos então à espiral descendente do livro. A universidade revela-se um centro de estudos para outros animais tão ou mais inteligentes como o nosso narrador, todos estudando e lecionando outros animais, sem necessariamente um motivo específico à não ser controlar seus instintos básicos. É um lanche rápido e sem graça comparado com o verdadeiro banquete filosófico e cômico que foi o Esgoto. Temos uma nova fauna divertida para acompanhar nosso réptil-autor, com destaque para a sucuri Jasmin, altamente cínica do status do qual os animais inteligentes conquistaram.
Fechamos o livro com o crocodilo se mudando para um hotel para focar na escrita de suas memórias e suas teorias o livro que você possui em mãos. Aqui o autor já mostrou que não tem mais cartas na manga e continua repetindo a fórmula ao inserir personagens bizarros e filosofias crocodilianas (um notebook com personalidade e uma aranha escritora). A essa altura o material está gasto e o leitor ansioso por um desfecho, algo novo, um sentido para essa loucura toda, e o autor não entrega. O leitor ficará na mão se espera uma lição de moral, uma reviravolta ou conclusão. É melhor apreciar o livro pelo que ele é, um buffet de idéias sem sentido com direito a loucura como sobremesa.
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