Renata 07/11/2012Minha opinião!OS ENAMORAMENTOS
AUTOR – JAVIER MARÍAS
TRADUTOR- EDUARDO BRANDÃO
EDITORA – COMPANHIA DAS LETRAS
ANO DA PUBLIAÇÃO- 2012
4/5
Os Enamoramentos foi um livro que me ganhou pelo título, que nome eloqüente, deve ser uma história de amor dos mais clichês possíveis, isso pensei eu, e como adoro os amores clichês, me pus a lê-lo! Conhecemos a princípio o jovem Maria Dolz, que por volta dos seus trinta e poucos anos, trabalha em uma editora em Madri e cumpre o ritual de tomar o café da manhã em uma cafeteria próxima ao seu trabalho, todos os dias!
O ritual do café da manhã de María consiste também em observar um casal que faz as refeições matinais no mesmo café, Miguel Desvern ou Devern e sua esposa Luiza são para Maria uma espécie de amuleto da sorte. Um casal que a editora observa e se pões a imaginar como são felizes aqueles dois que se escolheram para amarem-se por toda a vida, então se Maria não os vês durante o seu café da manhã, o seu dia não vai bom! Eles quase nunca se falam a não ser um breve aceno de cabeça, ou um bom dia quase mudo.
“Nunca conseguimos estar seguros do que vai nos ser vital nem a quem vamos dar importância. Nossas convicções são passageiras e frágeis, até as que consideramos mais fortes. Nossos sentimentos também. Não deveríamos confiar neles.” (p.100).
O senhor Desvern sempre sai um pouco mais cedo, se despede de Luiza com um beijo singelo e a deixa no café, porém, da última vez que Luiza viu o marido, foi também a última vez que Maria o viu! Ele fora assassinado com 15 facadas, por um mendigo que o acusava de ter colocado as filhas no caminho da prostituição! Luiza só fica sabendo do acontecido dias depois, e ao voltar no café encontra Luíza que a convida para um chá em sua casa. Lá elas conversam ainda e, consternada pela perda do marido, Luiza confessa que também o casal observava Maria, e faziam suposições as seu respeito, da mesma forma que Maria fizera com o belo casal! Nesse rápido encontro Maria é apresentada a Javier, um velho e melhor amigo de Miguel que agora estava dando todo apoio para a viúva!
A trama se desenrola a parte desse encontro! A forma como o autor desenvolve a história é incrivelmente surpreendente! Maria deixa de ser uma mera observadora do casal e passa a ver por dentro as relações, conhecer as minúcias da morte de Miguel Desvern e o nome do livro não se justificou pelo que eu imaginava que fosse, e aí ta a grande surpresa para mim, do livro! As discussões filosóficas que envolvem a morte, a volta dos mortos, o lugar dos mortos nas relações, o que fazemos ou vemos por causa do enamoramento! Todo esse debate se dá permeado por referências literárias, que na visão de um dos personagens, justificam todos os meios para um fim maior! Os três mosqueteiros, MacBeth e O Coronel Chabert, este último inclusive acompanha esta bela edição, são usadas a todo o momento para justificar os fins!
“Nada mais tentador do que se entregar a outro, mesmo que só com a imaginação, e fazer nossos os seus problemas e submergir em sua existência, que por não ser nossa é por isso mesmo mais leve.” (p. 149).
O livro tem também um ponto baixo, que eu não achei que seria necessário. Por muitas vezes os personagens se reportam a fatos já narrados, como uma forma de lembra ao leitor o que foi dito anteriormente e eu achei isso um tanto cansativo na leitura! A escrita do Javier é incrivelmente fluida e chega a ter uma cadência bem gostosa, como se vocês estivesse lendo uma poesia, ou uma música! A trama me deixou muito curiosa pra chegar ao final e descobrir como teria fim essa história de que envolve amor, amizade, paixões controversas, ciúme, egoísmo e compaixão! O livro tem uma temática mais adulta, não quero dizer que seja impróprio para menos, só acho que é preciso um pouco mais de maturidade pra se entender tudo o que tratado no livro! Para quem gosta de entender os conflitos humanos, é um prato cheio!