Jow 05/10/2012Sobre amor e decisão."But i, i'll never forget you
I'll never forget you
You make things so easy
I'll never forget you"
I'll Never Forget You - Birdy
Amar não é apenas um sentimento, amar também é uma decisão! Decidir o que ou quem amar na vida é um passo fundamental para caminhar em rumo a felicidade. O grande contraponto que está implicado no amor é que ele não se sustenta sozinho, não aprende a se moldar para a solidão, não consegue viver escondido e trancafiado.
Todos temos nossas próprias concepções de amor, elas podem (ou não!) mudar com o tempo e com as várias experiências que vamos vivenciando ao longo da vida, mas sempre surgirá algo que nos fará repensar algumas verdades que pensamos ser imutáveis. Haruki Murakami consegue isso, e “Norwegian Wood” é um livro sobre a juventude, o relacionar-se, a depressão e a morte. É sobre amor, mas também sobre desamparo e perda.
Murakami é um mestre em criar enredos apaixonantes e suas tramas sempre estão carregadas de conceitos traduzidos em sentimentos. Toru, Naoko e Midori são personagens com feridas profundas, desestabilizadas, desamparadas. São pessoas levadas, por situações extremas, a lidarem consigo mesmas, algumas terão sucesso, outras não. A dor é praticamente palpável em toda a narrativa, até os momentos felizes carregam uma dor nostálgica. Murakami nos faz entender que não pode existir uma realidade perfeita, imaculada e de eterna felicidade. Estamos interagindo sempre com duas forças distintas, mas ao mesmo tempo intrínsecas, que se abraçam nos momentos mais sublimes da nossa vida para nos mostrar um grande clichê dessa vida: Que não pode existir o amor sem a dor!
Quando nos afundamos na rotina de Toru temos contato com a nossa própria vida, nossos relacionamentos e visão nossa de mundo. A narrativa flerta com a dura realidade que é a dor de crescer, de ter de deixar a adolescência para trás, e de conviver com quem desistiu pelo caminho. E se percebe isso de forma muito presente com as histórias de Reiko, Hatsumi e do ótimo Nagasawa, um experimentador e crítico de uma vida que abre caminho para vitória e para derrota.
Murakami muda constantemente a energia da narrativa dependendo do personagem que está com Toru, e um dos momentos mais evidentes dessa experiência é no momento em que ele viaja para encontrar com Naoko. É interessante a quebra de clima da história nesse momento: é como se o mundo se convertesse também naquele cenário bucólico, como se ele limitasse o mundo. Pensei em mim mesmo, em como às vezes tenho vontade de fugir para algum lugar tão tranquilo, sossegado e harmônico – e como o próprio livro mostra isso como uma fuga fácil, uma alienação, que poderá cobrar seu preço, nada barato. Essas escolhas ficam mais evidentes no contraste entre Naoko e Midori. Cada uma, ao seu modo, sofreu perdas severas e teve de lidar com isso, mas enquanto Naoko escolheu desistir, Midori decidiu viver, ainda que de forma excêntrica e contestadora.
E assim chegamos ao “MacGuffin” da história: Toru que ama e espera por Naoko não consegue entender o porquê de Midori fazer o mesmo por ele. A complexidade dos sentimentos envolvidos é enorme, e Toru se vê cada vez mais atraído tanto por Midori quanto por Naoko. E quando todas as cartas se encontram estendidas na mesa, os amores em jogo se tornam mais que um simples sentimento torna-se uma escolha.
E essa é a lição: Em qualquer lugar do mundo, pessoas se ferem. Pessoas não suportam. Pessoas buscam maneiras de seguir adiante, pessoas escolhem – e se são melhores ou piores escolhas, quem poderá dizer?