Marjory.Vargas 01/12/2021“Eu não devia observar tanto, pensar tanto. Se tivesse mais no ar, era mais feliz. Quando a gente quer olhar tudo, acaba descobrindo o que há de feio no mundo.”
Clarissa (do livro homônimo) cresceu e voltou para a pequena Jacarecanga, onde agora é professora. Romântica, a jovem aguarda a promessa do amor, que “tem o encanto fugidio e misterioso de uma música ao longe”, sem perceber que, na verdade, ele sempre estivera ali a seu lado.
O livro intercala entre a narrativa em terceira pessoa e as passagens do diário de Clarissa. A família Albuquerque, um dos pilares da cidade, passa por grandes dificuldades financeiras. O pai perdeu a estância e várias casas, e está quase perdendo o casarão onde a família vive.
E há o misterioso primo Vasco, que Clarissa chama de Gato do Mato. O rapaz é renegado pela família, visto que o casamento da mãe não foi aprovado pela família. Porém, quando o pai de Clarissa perde a casa onde Vasco mora com a avó e os tios, a família toda se junta no casarão e os conflitos passam a ser diários.
Vasco enxerga os problemas da família, que ainda se fia no sobrenome para resolver os problemas. É engraçado de acompanhar os pensamentos de João de Deus, o pai de Clarissa, que, apesar de estar falido, não abre mão da sua sesta depois do almoço, que se estende até as cinco da tarde, horário que ele então considera tarde para começar a resolver problemas. E assim mais um dia se finda em que os Albuquerques vão empurrando os problemas com a barriga.
Apesar de ser um livro com um plano narrativo aparentemente simples, Verissimo alcança notas mais complexas ao unir a sinceridade à ironia, o retrato psicológico à observação social, o individual ao todo, o amplo ao pequeno, e, pelos olhos de uma menina de dezesseis anos, temos uma forte crítica à sociedade gaúcha da década de 1930.