Coisas de Mineira 19/10/2020
Goodfellas, ou Os Bons Companheiros, tem um título muito conhecido pelos aficionados por histórias de crime e Máfia. Ressalto isso desde o início, pelo fato da adaptação de Scorsese, lá no ano de 1990, é uma das histórias mais conhecidas do gênero no cinema acima de tudo. No filme, Scorsese conta com seu ator coringa, Robert de Niro, com Joe Pesci e Ray Liotta, esse último no papel principal de nosso protagonista, Henry Hill.
Goodfellas então, se trata da história de vida de Henry Hill desde a infância. O jovem rapaz foi atraído para o crime organizado devido todas as vantagens que enxergava na vida dos poderosos que operavam ali por perto do apartamento que morava com sua família.
Hill vem de uma família modesta do Brooklin, onde o pai (um irlandês-americano) precisava lutar diariamente pelo pão de cada dia. Por outro lado, essa era a realidade da grande maioria das pessoas. Era difícil conseguir um emprego formal, e assim ter um ganho que garantiria a subsistência dos seus.
“Meu pai estava sempre com raiva. Ele nasceu com raiva. Tinha raiva de ter de trabalhar tanto para ganhar quase nada.”
Sendo esse livro do gênero não ficção, as informações vieram em grande parte do próprio Henry Hill, em muitas entrevistas feitas pelo ex-repórter policial e autor do livro, Nicholas Pileggi. Hill então declara sua atração pela “vida fácil” desses ‘caras espertos’. Eles viviam como queriam, e tinham dinheiro para o que desejassem fazer. Logo, Hill estava matando aulas no colégio, e passando muito de seu tempo no ponto de táxi próximo sua casa.
Através das tais entrevistas, poderemos enxergar um reflexo da vida viva e ativa da Máfia daqueles anos em que Hill cresceu e se desenvolveu no meio de alguns chefões e poderosos. Sendo metade irlandês (por parte de pai, já que família de sua mãe veio da Sicília), Hill nunca alçou voo alto.
Embora fosse bem relacionado, ele estava sempre envolvido em roubos e jogos de azar, e mais para frente, em tráfico de drogas. Passou algumas vezes por prisões. Em certas detenções ele ficou pouco tempo, se tornando um nome conhecido. Todavia ainda enfrentou uma pena maior, o que levou muitos anos de sua vida.
“Quando cheguei em casa minha mãe me olhou de cima a baixo e gritou: ‘Você está parecendo um gângster! ’. Me senti melhor ainda.”
Em primeiro lugar, mesmo tendo deixado de estudar cedo, Hill conseguiu se destacar no meio criminoso. Ele era esperto, inteligente e tinha ‘feeling’ para o crime, estando envolvido em grande parte dos assuntos importantes do seu meio. Apadrinhado por Paul “Paulie” Vario, fazia pequenos trabalhos quando criança, e foi se desenvolvendo no meio de mafiosos e criminosos – tomando gosto pela ‘coisa’.
Hill, que foi interpretado no cinema por Ray Liotta, logo caiu nas graças de Jimmy Burke, vivido pelo grande De Niro nas telas. Assim, em contraste, como Hill, Burke também não se desenvolveu muito entre os gangsteres por sua ascendência irlandesa.
A obra nos retrata as fases de vida de Hill, e consequentemente, as ondas de crime que assolavam a região onde viviam. Posteriormente, nos anos 1960 muitos caminhões eram assaltados para desvio (e posterior revenda) de mercadorias. Isso era coisa de Burke, Hill e Tommy DeSimone.
Um dos maiores roubos da história dos Estados Unidos até aquela época tem a assinatura desses caras – o assalto à Lufthansa em 1978 (levaram do terminal de carga da companhia aérea no Aeroporto Internacional Kennedy US $ 5 milhões em dinheiro, e aproximadamente US $ 1 milhão em joias).
“Eu era o garoto mais sortudo do mundo. Gente como meu pai não conseguia entender, mas eu fazia parte de algo. Eu pertencia. Era tratado como um adulto. Ei vivia algo mágico.”
Alguns fatos em Goodfellas é adaptado ou modificado, como o sexo dos filhos de Hill. Mas, nada com muita importância na história geral que é o centro do livro: a vida de crimes do homem, e posteriormente seu acordo com a polícia, bem como a denúncia de seus Bons Companheiros, se podemos chama-los assim – com o perdão do trocadilho!
A Máfia, e principalmente seu padrinho Paulie, abominava o envolvimento com drogas. E essa foi a derrocada de Hill em meio a seus amigos mafiosos. Foi aí que o castelo de cartas começou a ruir.
Finalmente, foi nos anos 1980 quando Hill já estava envolvido e praticamente viciado em seus produtos (drogas), que acabou sendo preso pela polícia americana. Ele poderia pegar uma condenação de décadas.
E como seu velho companheiro Jimmy Burke estava ‘apagando’ todos os envolvidos com o assalto à Lufthansa, surpreendentemente Henry optou por fazer um grande acordo entregando os gangsteres e seus negócios.
“E todos os dias eu aprendia alguma coisa. Todos os dias eu ganhava um dólar aqui, outro ali. Ouvia os esquemas e via os caras se darem bem. Era natural.”
A história retrata como Henry precisou estar sempre muito bem protegido pela polícia federal, tanto quando aconteceriam os seus depoimentos, como em hotéis que sua família precisava se instalar, às vezes, mudando a cada dois dias. Devido ao fato de estar com um alvo em suas costas… Presume-se que foram feitas aproximadamente 50 condenações posteriormente como resultado dos testemunhos de Hill.
O mafioso nasceu em Nova Iorque em 11 de junho de 1943, e faleceu em Los Angeles, no dia 12 de junho de 2012, um dia após completar 69 anos. Por conseguinte, foi filiado à família Lucchese (uma das 5 famílias de mafiosos de NY) entre os anos 50 até os 80. O livro de Pileggi foi originalmente publicado em 1985.
“Assaltos nas ruas, invasões, roubo de carteiras e estupros eram quase inexistentes nas áreas controladas pela Máfia.”
Em suma, ele e sua família passaram a fazer parte do sistema de proteção à testemunha, do FBI. Denunciou seus antigos amigos e colegas mafiosos, que se colocassem as mãos nele antes da polícia, ele estaria enterrado com algumas pás de cal jogada em sua cara. Entretanto, o homem nunca se emendou. Muitos anos depois acabou sendo expulso do sistema de proteção.
Porém, seus algozes já haviam todos falecido. Em conclusão, numa curiosidade do livro, descobrimos que Hill aceitou se tratar do vício em álcool e drogas, após um pedido do ator Ray Liotta, que o interpretou no filme Goodfellas – Bons Companheiros.
Por: Carol Nery
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